sábado, 28 de janeiro de 2017

Os Ossos do Papai - Conto de Júnior Dalberto


Os Ossos do Papai

Junior Dalberto


Aquela quinta feira prometia, pensou Henrique e colocou o saco de lixo negro sobre o banco à sua esquerda no balcão do quiosque do Mocotó da Márcia que era também o nome da proprietária, uma negra de quarenta anos de idade, viúva, magra, pequena e de quadril largo, olhos grandes, negros e sedutores, bonita e mãe de um único jovem atarracado de dezesseis anos, um sarará de nome Edvaldo que a ajudava de dia na cozinha da barraca e estudava a noite, eles moravam em uma casa no distante munícipio de Paulista de onde saíam todos os dias às seis horas da manhã em um fusquinha azul clarinho, ano 1978, herança do marido, até o mercado de São Pedro no centro do Recife onde se localizava o famoso quiosque.
O pernambucano, de Nazaré da Mata, estava sedento por um copo de cerveja desde que saiu no pingo do meio-dia, com os restos dos ossos do falecido pai, do cemitério municipal da cidade dos maracatus sob um sol de quarenta e cinco graus à sombra. A cerveja desceu geladinha, suavizando a sede, mas, não passando a mesma; tomou mais um grande gole e ficou divagando, sorvendo mais goles e imaginando se esse prazer sorvido seria idêntico a sensação de quem chega ao paraíso quando se parte dessa para melhor. O prazer da cerveja gelada desceu de goela adentro matando a condenada da sede que o atormentava desde quando chegou a casa do sisudo do coveiro, com a ordem da justiça, para fazer o transporte dos restos mortais do falecido genitor para um cemitério do Recife. Um sonho da sua mãe Isaura que queria ser enterrada ao lado do seu amado marido. O cabra feio, vigia dos defuntos, nem colocou resistência, foi caminhando entre centenas de túmulos seguido por Henrique, lá encontrou o local coberto de capim, com uma placa velha e carcomida lia-se “Sebastião Cavalcanti da Silva, 1920 a 1976. Saudades eternas” e não dava mais para ler o resto da mensagem, já destruída pelo tempo e abandono da família. Quando o coveiro abriu o caixão, os ossos já tinham se transformado em pó dentro do que sobrara do caixão. Ele saiu e retornou com uma vassoura e um saco de lixo, depois pediu para o Henrique segurar o saco, mantendo-o aberto, enquanto o coveiro juntava cuidadosamente o que restou do genitor do rapaz fazendo um montinho sobre a madeira. Henrique olhava tudo aquilo sem nenhuma expressão, segurando o saco para receber o velho pai e levar para um novo destino.
Com o recém-falecimento da sua mãe, no último carnaval, decidiu cumprir o desejo dela com a ajuda de alguns amigos influentes, afinal, era tudo o que possuía nesse mundo, amigos. O dinheiro que conseguia fazendo bicos aqui e ali, só lhe servia para comer e se divertir um pouco com as raparigas nos bordeis do Pina ou do Centro, ou ainda pra tomar uma chamada de cana de vez em quando. Enquanto bebia o último copo da cerveja, decidiu mudar para uma dose de cachaça, além de mais barato era sua bebida predileta. Cerveja era só para diminuir a
sede inicial, e essa sede nunca acabava no calorento Recife. A cerveja só amainava a vontade de beber, mas o prazer de degustar uma cana de cabeça durava às vezes até o dia seguinte.
Na fase do lobo, dos seus quarenta anos, Henrique ainda se sentia bem jovem e como a maioria dos jovens sentia-se eterno. Ele era um grande sonhador, cabelos negros, moreno claro de olhos verdes, dizia que era herança do lado holandês da família. Naquele período estava prestando serviços para um amigo vereador da cidade de Recife na própria prefeitura, era seu bico atual. Galanteador, bonito e bem falante, já se comentava nos cafés da cidade do seu caso com a D. Carminha esposa do amigo vereador. Enquanto bebericava a quarta dose da cana, pensava como iria se livrar da mulher do amigo que não largava do seu pé, inclusive, deu para aparecer na pensão que Henrique morava, lá em Afogados, e isso poderia se tornar um problema.
D. Márcia olhou para Henrique e para o relógio impaciente, já fazia quatro horas que ele bebia na companhia do saco de lixo negro sobre o banco. No início, a cada gole oferecia outro para o saco, aguçando cada vez mais a curiosidade da magra proprietária, que passava a mão gordurosa nos negros cabelos alisados com firmeza pelo creme alisante Henê Maru e tratado com creme de tutano e babosa caseira, e depois enxugava o suor dos cabelos com a gordura do fogão no ensebado avental de chita vermelha com desenhos de enormes girassóis cobrindo um vestido negro de alças e na altura dos joelhos, um luto fechado que já durava dez anos desde que o pai do seu filho, o cabo Leocádio da honrada polícia montada de Olinda, morreu vítima de cirrose hepática.
A calorenta tarde já estava indo embora, e em uns quarenta minutos aproximadamente teria que fechar o estabelecimento. A curiosidade falava alto para perguntar ao seu cliente contumaz o que ele levava naquele saco negro e o porquê que o reverenciava pela vigésima ou nonagésima vez sempre que levava o copo de cachaça aos lábios, mas a vergonha a impedia, sabia que o Henrique possuía uma língua bem ferina quando incomodado. Deixa pra lá, pensou D. Marcia, vai ver que não é nada importante e só quer chamar a atenção.
- D. Márcia! (falou o cliente com a voz pastosa) sei que estás querendo me mandar embora, sei que já está na hora e com saudades não me nego partir.
- Que que é isso, seu Henrique. Parece até canção do Bartô Galeno, o senhor é de casa e ficamos até quando o vigia vier avisar, acho que temos ainda uns trinta minutos de lambuja, quer mais uma dose?
- Sim, quero. E quero também um copo de caldinho de feijão preto, ainda tem?
- Vixe homem, o caldo de feijão preto acabou indagorinha, mas tem fava e um pouco de guisado de bode, se quiser, boto uma farinhazinha, uma pimentinha malagueta e fica de primeira.
-Traz então a gororoba, bela viuvinha do meu coração, com todo respeito; eu vou aqui ao mictório e volto já pra tomar a derradeira, e depois, sigo o meu destino.
E veio a derradeira, depois a expulsadeira, a do garçom, do adeus geral, a pé na bunda e nada dele arredar pé do lugar, comeu o guisado de bode com a fava, seguido de dezenas de arrotos, acompanhados de xingamentos ao prefeito, ao governador, ao presidente da república e só parou porque o senhor Acrísio, o vigia do mercado, chegou balançando as chaves e ficou olhando de esgueira para ele e para a proprietária, essa já havia trocado de roupa e se encontrava na ponta do balcão com uma garrafa de cana praticamente vazia em mãos.
- D. Márcia, hora de fechar o barraco! Falou o vigia com firmeza. Que diabo que tem bebo que se despede quinhentas vezes e não vai embora. Pensou o vigia.
-Tudo bem, seu Acrísio, leve o Henrique até a saída que eu saio já com meu filho Edvaldo, ele tá enxugando a louça pra num dar barata, me dê só cinco minutos.
- Tudo bem. Vamos, seu Henrique, outro dia o senhor continua sua festa.
- Vamos sim, amigo, e obrigado querida Márcia, a mais bela viúva da Veneza brasileira, a rainha do maracatu, muito obrigado pelo carinho que tratas esse nobre pernambucano sem futuro, está tudo nos conformes, agora, vou seguir minha noite, pois ninguém é de ferro. Vou dar uma esticada lá no Recife Antigo e dar uma passadinha lá no Roger.
- Homi, vá pra casa, seu Henrique! O senhor já tá que tá!
- Como diria meu amigo Zé da Flauta, vou tomando até a última concha, vou tomar umas no Pina de Copacabana, ouvir radiola de ficha e tomar uma sopa com o meu amigo Roger.
Foi saindo e cantando “cadê Roger? cadê Roger?” D. Marcia persignou-se e acompanhou com o olhar seu cliente sair pela única porta aberta do mercado, em sua mente pedia a Jesus e a Oxum, como toda católica com um pé na umbanda e os dois cotovelos no candomblé, que cuidasse do cliente até sua casa. Deu até vontade de tomar essa famosa sopa do Roger, mas iria deixar pra outro dia, precisava chegar cedo em casa porque ainda tinha uns bordados para fazer no vestido da sua calunga, já o seu vestido de dama do Paço já estava prontinho, e não via a hora de sair desfilando na sua “Nação Maracatu do Baque Virado África Mãe” e se apresentar na noite dos tambores silenciosos.
- Aff, que glória! Pensou D. Marcia, que ficava o ano inteiro pensando nessa noite, desde a concentração na rua estreita do Rosário.
Tudo era incrível, sobretudo o batuque e sua coreografia chegando ao palanque armado em frente a Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, era uma cadência inconfundível, tudo era lindo e perfeito. Quando as batidas do sino da igrejinha anunciavam a meia-noite, silenciavam os tambores, e tudo se transforma numa silenciosa prece coletiva saudando os ancestrais africanos, todas as nações se unem em uma única energia de luz
naquela escuridão, ninguém se move, todos firmam o pensamento em um mundo melhor, sem dor, mais alegria, agradecendo as raízes, saudando os orixás. Até o momento em que silêncio é quebrado ao som de um batuque e um canto de celebração, e isso faz que uma energética força penetre o seu corpo inteiro. Milhares de batuques saúdam o momento, toda a eletricidade espiritual emana da superlotada ruela. A força e o poder de todas as nações reunidas, resultavam numa emoção coletiva aguardada por milhares de afros descendentes e adeptos dos tambores africanos que se concentravam na estreita Rua do Rosário, e essa era a força aguardada por D. Márcia durante todo o ano.
- Salve minha Santa Senhora do Rosário, salve Ogun meu pai de cabeça, salve Nossa Senhora da Guia, salve Oxalá, Iemanjá e Xangô Menino, Salve Jesus e Maria Santíssima! Foi assim com toda a sua fé, numa mixórdia típica do sincretismo brasileiro, que D. Márcia tirou o pensamento da religiosidade e voltou-se para chamar seu filho Edvaldo para irem para casa. Lá fora, uma lua cheia e dourada já espalhava sua luz sobre os fiteiros, prédios, pontes e os notívagos habituais do velho Recife.
No dia seguinte, mal abriram as portas do seu quiosque e lá estava o Henrique meio esbaforido à sua espera.
- Bom dia, seu Henrique. Já de pé em plena oito horas da manhã!
- Bom dia, D. Márcia, a senhora viu um saco que esqueci ontem aqui no seu recinto?
- Vi sim, seu Henrique, não era pó de osso?
- Era sim, D. Marcia, cadê o saco? Nem dormi direito pensando nele.
- Oxi, seu menino! E aquele pó de osso vale ouro, é? (falou rindo enquanto passava uma flanela no balcão).
- A senhora nem imagina quanto... mas, cadê o saco?
- Ah, meu amigo, o meu filho Edvaldo é quem cuida da horta que tenho nos fundos do nosso quintal lá em Paulista, o senhor sabe, né? Tudo aqui é caseiro e natural, as verduras, as galinhas, os bodes, até a fava! Esse é o nosso segredinho (falava cheia de orgulho).
- Sei disso D. Marcia, mas o meu saco, cadê ele?
- Meu menino disse que pó de osso é o melhor estrume do mundo, muito melhor do que bosta de gado ou adubo químico. Hoje, bem cedinho, ele espalhou o pó que estava dentro do seu saco de lixo todinho na nossa horta, mas não se preocupe, seu Henrique, se quiser, eu mando ele ir lá no quiosque da Etienne e pegar outro pó de osso para o senhor, já que faz tanta questão, (fazendo um muxoxo). Lá, ela trabalha com coisas de jardinagem, espere só um pouquinho que eu vou mandar o Edvaldo buscar. Disse isso caminhando até a cozinha do quiosque enquanto colocava o avental.
- Edvaldo, menino, vem já aqui!
- Eita lasqueira, e agora, meu São Cipriano! Chame ele não, D. Marcia! Escuta aqui, tá tudo bem. Me traga uma branquinha por favor pra aguentar esse golpe. Falou Henrique coçando a cabeça com preocupação.
- Então, tá! (gritou em direção ao fundo do estabelecimento) - Pode deixar, Edvaldo, num carece de vir aqui, não. Oxente, seu menino, já vai começar os trabalhos? (pegou uma garrafa de cachaça de cabeça, tira a rolha, derrama uma dose no chão, murmura algo e serve outra dose ao Henrique).
- D. Marcia, obrigado pela branquinha, mas queria lhe pedir um grande favor.
- Fala logo, homem de Deus!
- Eu gostaria que todo dia primeiro de setembro a senhora acendesse uma vela de sete dias na sua horta, de preferência protegida dos ventos.
- Vixe, seu menino, que arrumação é essa agora?
- É que é o dia do aniversário do meu falecido pai que a senhora teve a bem aventurada ação de espalhar o pó dos ossos do infeliz na sua horta.
- Minha Nossa Senhora do Desterro, diga isso não, seu Henrique! Ai, protegei-me Omolu! Vou ter um troço. Edvaldooo! (D.Márcia grita pelo filho com a mão no peito e desmaia por trás do balcão.)
- O que houve? Edvaldo entra esbaforido, corre até a sua mãe e pergunta ao Henrique.
- Foram os ossos do papai. Leva a dose de cana aos lábios, toma tudo de um gole só e coloca uma nota de dois reais sob o copo vazio em cima do balcão, complementando:
- Fique com o troco! Levanta do banco e sai.


Fim


JUNIOR DALBERTO, pseudônimo de Alberto Barros da Rocha Junior, é escritor, dramaturgo, diretor teatral e poeta potiguar. Autor e encenador dos textos infantis: "Um Robô no Mundo da Fantasia" no Rio de Janeiro, "Pinóquio e o Circo" e "A Trilha da Caveira que Ri" em Natal/RN. Escreveu e produziu o espetáculo infantil Titina e a Fada dos Sonhos e o espetáculo adulto A Barca de Caronte. Dirigiu os espetáculos de sua autoria: O Velório da Marquesa Di Fátimo, A Última Gota de Absinto, Borderline e Ventre de Ostra. É premiado com quatro Troféus Evoé - Festival de Teatro Exu/Pernambuco em 2015 por "Borderline". Indicado pelo texto Borderline para a premiação Botequim das Artes no Rio de Janeiro em 2015. Premiado pelo espetáculo Ventre de Ostra como melhor Espetáculo Potiguar de Teatro de 2016 – Troféu Cultura. Publicou “O Teatro Mágico de Junior Dalberto - Coletânea de textos Infantis", "O Teatro Mágico de Junior Dalberto – Coletânea de textos adultos", o livro romance realismo fantástico “Pipa Voada sobre Brancas Dunas” (3ª edição atualizada, revisada- 2106) o livro de contos "Cangaço e o Carcará Sanguinolento" (Prêmio Troféu Cultura 2014 – Destaque Literário Potiguar), o livro de poemas "Leveza Infinita" e O livro de conto "Reféns nos Andes". Dirigiu artisticamente a premiação de música potiguar "Hangar-2103, Hangar-2014, Hangar –2105 e hangar 2016". Representou a cidade de Natal no III Encontro de Escritores da Língua portuguesa – E.E.L.P. Fez a direção cênica da inauguração do Cine Teatro Parnamirim/RN. Integra a Caravana Literária Potiguar.
Saiba mais em: www.junior-dalberto.blogspot.com
jrdalberto2010@hotmail.com
@juniordalbertoreal
84-991299907

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O filme A VILA (resenha e link) - Cleudivan Araújo


Título do Filme: A Vila
Título original: The Village
Diretor: M. Night Shyamalan
Gênero: Suspense
Duração: 108 Min.
Ano: 2004
Atores Principais: Joaquin Phoenix, Bryce
Dallas Howard, William Hurt, Sigourney Weaver,
Adrien Brody, Judy Greer, Jayne Atkinson,
Michael Pitt, Cherry Jones, Celia Weston.

Trilha Sonora: James Newton Howard
Roteiro: M. Night Shyamalan  


ENREDO DO FILME

O filme é ambientado em uma pacata vila norte-americana do séc. XIX, circundada por uma imensa floresta, munida de guaritas, longe de qualquer contato com o mundo exterior. Na Vila, as leis são determinadas pelo conselho de anciões, que são parte dos fundadores daquele lugar. É fomentada por esse conselho, uma lenda de que criaturas sobrenaturais habitam a floresta, sendo esta a sua área, e que não deverá ser invadida em hipótese alguma, sob pena deles, denominados de “aqueles que não mencionamos o nome”, virem invadir e destruir a Vila e exterminar seus moradores.
Como em todas as comunidades, problemas não tardam a acontecer, então, o jovem Lucius (
Joaquin Phoenix) questiona os anciões sobre o porquê do isolamento total da Vila, e pede permissão para atravessar a floresta, com o intuito de buscar soluções para situações práticas. Certo dia, o rapaz resolve ultrapassar o território da Vila e adentra um pouco na floresta. A partir desse momento inicia-se uma cadeia de acontecimentos estranhos, como a aparição de animais mortos e até mesmo a presença das criaturas sobrenaturais no interior da comunidade.
Logo em seguida, Lucius é ferido por Noah Percy (
Adrien Brody), e a única saída para salvar sua vida é a busca de ajuda externa. Para esta tarefa, se prontifica Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma
jovem cega que sente por Lucius um amor inimaginável. Por tomar tamanha decisão, ela faz descobertas relevantes que podem modificar a rotina de todos os moradores da Vila para sempre.
Apesar de não enxergar, a moça é munida de uma determinação imensa, e sai floresta adentro 
apesar do perigo iminente, em busca da salvação para Lucius.

O QUE PODEMOS APRENDER COM ESTE FILME?

O filme “A Vila” pode nos deixar diversos ensinamentos, por exemplo: a superação da incerteza, que será concretizada pela busca da verdade, e isso nós poderemos visualizar nos personagens Lucius e Ivy Walker. A verdade é algo íntimo de cada ser humano, às vezes o que é considerado verdade para determinado indivíduo nem sempre significa o mesmo para outros. Dessa forma, podemos afirmar que vivemos em um mundo permeado de “verdades”.
Atualmente, vivemos em uma sociedade que louva e acredita, nos mais diversos meios de
comunicações em massa, dentre eles, jornais, rádios, emissoras de televisão e internet, que nos sufocam diariamente com uma enxurrada de informações, nem sempre confiáveis. Assim como o povo do vilarejo retratado no filme, acreditamos nas verdades transmitidas pelos telejornais, repórteres, líderes religiosos, políticos etc, dentre tantos outros.
Então, o maior ensinamento que podemos obter ao assistir e analisar o filme “A Vila” é saber que as informações podem ser e, na realidade, são constantemente manipuladas, tornando-se verdades em nosso subconsciente. Assim poderemos chegar à conclusão de que todo ser humano deve ir em busca de sua verdade, desconfiando do que nos é apresentado como verdade absoluta. Neste sentido, deveremos formular indagações, exigir explicações e liberdade para expressarmos o nosso pensamento.
“A Vila”, de M. Night Shyamalan, criticado por muitos, pode até passar despercebido por olhares menos atentos, que o rotulam como sendo mais um filme de suspense norte-americano, no entanto, no meu entender é um filme perfeito para ser utilizado em sala de aula, pois, se o analisarmos com maior atenção, poderemos perceber nele uma diversidade de conteúdos a serem abordados, tais como: a manipulação de informações através dos meios de comunicação; o estudo de cores existentes no filme, como o vermelho e o amarelo; a presença dos efeitos sonoros e a ausência deles, que coordenam as ações de algumas cenas; a verdade; o medo; dentre tantos outros. Fica a dica!




Cleudivan Jânio



Veja o filme A VILA:



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Não há quem substitua O amor da mãe da gente. - Hélio Crisanto


Só uma mãe se dedica,
Dando a vida pelos filhos.
Sem temer os empecilhos,
Por ele se sacrifica.
Seu amor se multiplica,
Se um filho está doente.
Jamais fica indiferente,
É grande a bondade sua;
Não há quem substitua
O amor da mãe da gente.

Se um filho sai pra brincar,
Na companhia de um amigo,
Pensa logo no perigo,
E o aconselha a ficar.
Jamais pensa em confiar,
Mesmo que seja parente.
Desconfiada e temente,
Vai procurá-lo na rua;
Não há quem substitua
O amor da mãe da gente.

Seu abraço verdadeiro,
Tem o carinho mais puro,
Deixando a gente seguro,
Nos tomando por inteiro.
Não há valor em dinheiro,
Que supere esse presente,
Nem calor mais envolvente
Que a nossa alma usufrua;
Não há quem substitua
O amor da mãe da gente.

Carrega sempre a doçura,
O coração sempre amável,
Numa fonte inesgotável
De amor e de ternura.
Se mostra sempre madura,
Se um filho é confidente.
Se aconselha é prudente,
Não se zanga e nem se amua;
Não há quem substitua
O amor da mãe da gente.
(Hélio Crisanto)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DIÁLOGO POÉTICO SOBRE O TEMPO Gilberto Cardoso e Zé Ferreira

Zé Ferreira Gilberto Cardoso

Gilberto Cardoso é poeta de verve aguçada e, diria, até belicosa... (o que tem me rendido boas reflexões e um tanto de aprendizado) vejam o que ele extraiu do meu status de WhatsApp: - José Ferreira Santos
G.C: Zé Ferreira, consciente, Sabe que a qualquer hora Irá findar a jornada Para o além vai embora "Só tenho o hoje" diz ele Pode ser engano dele Talvez só tenha o agora. Z.F: Meu caro amigo Gilberto Uma coisa lhe asseguro Não tenho medo da morte Ou de um fim prematuro Meu "agora" é afirmado Porque não vivo o passado E nem toco no futuro. G.C: Mas o que é o agora Em um sentido profundo? É o instante presente Produtivo ou infecundo Vivido com ou sem arte Dentro da milésima parte De um passageiro segundo Z.F: Pra mim, meu nobre poeta, O "agora" é consciência, É saber que cada instante Dessa fugaz existência Não deve ser relegado Mas vivido, aproveitado Com extrema competência. G.C: O tempo vem feito rio E prossegue na corrente Não podemos represá-lo A perda é permanente Nesta existência frustrada Talvez não tenhamos nada Nem o instante presente. Z.F: frustra-se na existência Quem vive a passividade Ou quem inverte valores Da própria identidade Um, deixa a vida passar O outro passa a andar Fora da realidade. G.C: A frustração acontece, devido a impermanência das coisas que mais amamos pois tudo perde a essência tudo finda empoeirado nos depósitos do passado e vira reminiscência. Z.F. "As coisas que mais amamos", Se esse amor for verdade, Em nós, transcendem o tempo, A materialidade, Ficam vivas na memória, No curso da nossa história Ganham a perenidade. G.C: Tentamos nos iludir eternizar cada instante mas não podemos fugir da miséria circundante há motivos pra chorar e não pra comemorar num planeta agonizante. Z.F. Um pensamento passivo Amarra os pés da ação Chorar leite derramado Adianta nada não Se há vida, há esperança E a chave da mudança Está hoje em nossa mão. G.C: O tempo é valioso mas é um frágil tesouro é como um balão de festa que acaba num estouro rumo às horas finais somos como animais que seguem pro matadouro. Z.F. Tempo é ruim pra quem perde, Pra quem na lida soçobra Mas pra quem é diligente E que nele se desdobra, Encontra um bom aliado E fica imortalizado Através de cada obra. G.C O fato é que nada temos Pois tudo nos é tirado Gastar tempo lamentando O tempo desperdiçado Pode ser fonte de tédio Pois o que não tem remédio Já está remediado. Z.F É um fato consumado: Todo bem material, É parte subtraída Na caminhada final Daqui não se leva nada, Transcende dessa morada A parte espiritual. G.C Enquanto a gente corre Ou se arrasta o tempo voa Desfrutemos cada instante
Que rapidamente escoa Sem culpa e ansiedade Buscando a felicidade Pouca ou muita, a vida é boa. Z.F Por isso, no meu Status de WhatsApp postei a frase "Só tenho o hoje" E esta em mim fixei Para que ao fim do dia Eu veja com alegria Que nada desperdicei.

G.C.
Observando gatinhos
e cachorrinhos brincando
eles se mordem, se atacam
parecem que estão brigando
nossa belicosidade
teve igual finalidade:
não estávamos arengando.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO NÃO SABE O QUE É SERTÃO


QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO
*

HÉLIO CRISANTO
Barra nascendo na aurora
Seis galinhas na janela
Churrasco de mortadela
Boa noite e “onze hora”
Truquei e dente de espora
Velha batendo pirão
Cambito e pau de galão
Sete couro e “panariço”
QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO
*


DALINHA CATUNDA


Água tirada do pote

Forró dançado em latada
Sanfona, dança e zoada
Um casal dançando xote
Um cheiro bom no cangote
Um tocador de baião
Fazendo a animação
No meio do reboliço
QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO
*


ADELMO VASCONCELOS

Queijo assado com mel 
Mandacaru bem florido
Ver o gado reunido 
No pasto do coronel 
Violante Pimentel 
Pondo o cordel no cordão 
Um cabra de Lampião 
Rezando pra Padim Ciço
"QUEM NUNCA VIU TODO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO".
*


MEDEIROS BRAGA

Minha mãezinha rezando
Em um altar da igreja,
Repentistas na peleja
Seu companheiro insultando.
Um jumento relinchando
Com a força do pulmão
E pássaros na amplidão
Cantando e após o sumiço...
QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO
*


JOSÉ FERREIRA SANTOS

Um fogão bem animado
com lenha de marmeleiro,
um bode pai-de-chiqueiro,
vaqueiro tangendo gado,
leito de açude rachado
por conta da sequidão
Cancela, assombração,
Mata-burro e passadiço
QUEM NUNCA VIU TUDO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO.
*
DALINHA CATUNDA
*
Rede pra se balançar
Café coado no saco
Homem cheirando tabaco
Rosário para rezar
Serrana pra se tomar
Paçoca feita em pilão
Coceira de cansanção
Por favor não seja omisso
"QUEM NUNCA VIU TODO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO".



GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS
Lagartixa sacudindo
a cabeça no batente
Gente a soprar caldo quente
Mato cheiroso florindo
Água da bica caindo
Mulheres na plantação
Homem vendendo carvão
E fazedor de feitiço
"QUEM NUNCA VIU TODO ISSO
NÃO SABE O QUE É SERTÃO".

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

HOMENAGENS AO POETA JOÃO DORICO (1927-2017)

Dorico

O poeta nunca morre é bem verdade
Mas ele deixa saudade e tristeza
Quem me dera ser alento
Das perdas e descontentamentos

Meu coração chora por você
Que era arte e bem querer
De traços caboclos refinados
Que vivera além passado

Alfaiate de puros linhos
Fotógrafos de encantos
Marido apaixonado
Pai dedicado
Vô demasiado
Bisa só felicidade!
Amigo contemplativo

Tudo nessa vida puderes ser:
Homem feliz!
Dos citados acima e muito mais por querer...
Sonhador,
Político,
Barbeiro,
Ator e diretor teatral,
Médico de crendices
Enfermeiro informal,
Técnico de futebol,
Artilheiro e repentista
Aculturado do sertão paraibano
Que vivera dignamente seus dias.

Da vida, ele só reclamara.
De nunca ter sentado num banco de escola
Único sonho que não realizara

Da herança que deixaste
A mais pura e real
É a lição de vida
Que pra ser feliz é só amar
E viver em comunhão com os seus.

Sabrina Dorico
18/01/2017


Um poema do nosso vovô Dorico que acabou de falecer.
Com Muito pesar nos despedimos de um ser tão amável e digno.
Ele exalava arte e amor!
De uma sumidade jamais vista.
Te amaremos pra sempre vô Dorico.
Sabrina Negreiros


Velhice!

A velhice é o final da criatura
Que deforma e lhe deixa acabrunhado,
Não convém fazer mira no passado
Que a velhice é um mal que não tem cura.

A velhice no homem é uma tortura
Quando o mesmo se sente deformado
Das mulheres é sempre desprezado
E se recebe um carinho é com censura.

Sou mais um chegando à terceira idade
A viver de lembranças e de saudade
Dos bons tempos da minha meninice

Fui um jovem feliz no meu passado
Fui bastante querido, fui amado.
Tenho mágoa profunda da velhice.

João Dorico.

Agora um anjo novo povoa o além, uma estrela nova ilumina o céu, mas o mundo ficou mais pobre com a partida do nosso querido Tio João Dorico assim como nossas vidas também se empobreceram com a sua perda,fica essa lembrança Irmãos Doricos juntos, Deus te receba tio João  - 
Luciana Medeiros





terça-feira, 17 de janeiro de 2017

PALAVRAS A ANA PAZ

PROFESSORA  ANA PAZ
(Gilberto Cardoso dos Santos)

Professora  Ana Paz
Sinônimo de probidade
de respeito e humildade
Em tudo aquilo que faz
Um bom exemplo nos traz
Atua com correção
Peso e circunspecção
Traz ao academicismo
Doa-se com altruísmo
À causa da educação.

Atua com brilhantismo
No campo conceitual
Letramento Laboral
Tem o seu pioneirismo
Sem dar sinais de  esnobismo
Mostra do que é capaz
Na verdade o que lhe apraz
É viver placidamente
Mas vendo além do presente.
Professora Ana Paz!


Ana Paz não me escolheu como orientanda, mas circunstâncias da vida firmaram essa nossa exitosa parceria. Agora, mestre, distante de todas as dificuldades que, inevitavelmente, fazem parte de um curso de mestrado, cheguei à conclusão de que ter Ana Paz como orientadora foi um presente de Deus! Não só porque ela possui vasto conhecimento acadêmico, mas porque me deu muitos motivos para ser grata. Dentre as muitas qualidades que Ana possui se destaca o cuidado. Foi tão cuidadosa comigo a ponto de hoje eu poder afirmar, fundamentada em meu coração, que somos amigas! Bem mais que ensinamentos, Ana me deu amizade, me deu muito da beleza que guarda dentro dela. Obrigada, professora! Sei que a senhora não me escolheu, mas a familiaridade de nossas almas nos uniu! Agradeço por você não ter apenas passado por minha vida! Algumas pessoas são apenas personagens secundários, mas você, ao me oferecer muito de si, acabou também por mudar muito de mim! Sua presença perfumada iluminou quem eu era, tornou-me melhor! Sua amizade é uma honra que carregarei sempre comigo!


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

PICHAÇÃO FILOSÓFICA


E A TERRA CAIU NO CHÃO - glosas de Zé da Luz e outros poetas



A terra caiu no chão

Zé da Luz (1904-1965)


Visitando o meu sertão 
que tanta grandeza encerra, 
trouxe um punhado de terra 
com a maior satisfação. 


Fiz isso na intenção, 
Como fez Pedro Segundo, 
de quando eu deixasse o mundo 
levá-lo no meu caixão. 

Chegando ao Rio, pensei 
guardá-lo só para mim 
e num saquinho de brim 
essa relíquia encerrei! 

Com carinho e com cuidado 
numa ripa do telhado, 
o saquinho pendurei... 


Uma doença apanhei 
e vendo bem próxima a morte 
lembrando as terras do norte 
do saquinho me lembrei. 

Que cruel desilusão! 
As traças, sem coração 
meterem os dentes no saco, 
fizeram um grande buraco 
e a terra caiu no chão.
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A TERRA CAIU NO CHÃO

Hélio Crisanto:

Certo dia eu viajando Nos espaços siderais, Sem medo dos temporais, A lua eu fui apagando. Vi a terra naufragando, Em rota de colisão, Nela eu dei um empurrão, Virando a sua calota, Desviei a sua rota, E A TERRA CAIU NO CHÃO
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George Pessoa:
Um dia fiz um passeio Num balão com muita gente Subia com o ar tão quente E eu, cheio de receio. Com um saco de terra cheio Pra segurar o balão Na primeira ocasião Despejaram aquele peso O balão subiu aceso E A TERRA CAIU NO CHÃO.
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Tarcisio José Fernandes: Pra plantar uma roseira, Eu peguei um alguidar, Pus a terra e, pra adubar, Pus estrumo de esterqueira; Depois, com uma mangueira Aguei; e a “plantação” Pendurei por um cordão, Mas este não suportou E o alguidar desabou... “E A TERRA CAIU NO CHÃO.”
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Jarcone Vital:
Da alvenaria de um muro Na pá eu virei um traço Porém sentindo o cansaço Remexendo em troço duro Vendo ser prático e seguro Quis abrir licitação Sem saber da profissão Fui mexer na bitoneira Lhe derrubei por inteira E A TERRA CAIU NO CHÃO...
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Gilberto Cardoso:

Certa vez Jesus curou
a um cego de nascença
desafiando a descrença
de quem dele duvidou
Barro no chão ajuntou
e cuspiu sobre a porção
Com o lodo fez unção
dos olhos que nunca viram
Logo estes se abriram
E A TERRA CAIU NO CHÃO.