sábado, 31 de outubro de 2015

POEMAS DE CARITO

A palavra-chave
A palavra-chave
Abre
A palavra porta!
Carito
CUIDADO! ÀREA MOLHADA!
Tem um aviso na área dos meus olhos: Cuidado! Área molhada! Perigo de queda. Meus olhos se acostumaram com a queda d’água…

*A água grita 
Quando servida 
Em tigela de berro. 


Carito
Me disseram:
- Você tem que ter os pés no chão!
Por isso tirei os sapatos.
Carito
ELA TIRANDO ONDA
Transformou 

O mar em lagoa. 


Carito






quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aos amigos - Cecília Nascimento





Nesse momento de in-temporalidade, vem-me uma ânsia de escrever... Mas, sobre o quê? Que poderia aliviar-me dessa angústia sem nome?
Amigos... Parece-me bom pensar neles... Então, escreverei aos amigos... Àqueles que, pensando tê-los, não tenho; àqueles que, quero e não terei; aos que me querem sem que eu saiba e aos raros que sei que são meus.
Começarei por dizer que sinto uma melancolia profunda ao imaginar o “Amizadear”. São tantos os tipos de amigos não diria Times New Roman, Comic Sans MS ou Arial, mas pensá-los-ia dessa forma: Os amigos duradouros trazem lembranças mistas com gostinho de salada de frutas, produzem o ranço do caju, com o doce do leite condensado, uma contradição que fortalece e agrada.
Os recentes soam como lindas canções ao som do saxofone... Suaves, adocicam a alma; fortes, impactam-nos as recorrentes lembranças de frases, sorrisos e breves despedidas.
Os de tempo médio cheiram a rosas, lindas, mas nos espetam com a hipótese do murchar... Não sabemos se essas Rosas seguirão a Lei da Natureza e desfalecerão, ou se a Lei do Amor e Eternizarão.
Os amigos que não temos são um suspiro solto no ar... Deixam uma lacuna que nem sabemos se as vão ocupar. Essa falta faz doer, mas poderá se tornar em uma linda canção, tocada naquele velho saxofone.
Os amigos que sabemos ter e temos... Ah, deixem-me respirar para neles pensar... São Um, Dois, Três, ou nem tanto ou nada mais... Não são tipos, não precisam ser antigos, mas precisam ser Amigos. Amigos num sentido que não se explica, nem se conceitua, só se sente e se percebe em atos e não atos. Nascem de surpresas afetivas, que não são essenciais à vida, mas plantam sementes de vida. Crescem à luz de muita verdade, regados pela sinceridade e adubados com afeto e perdão. Fortalecem-se a cada passo conjunto, a cada segredo calado junto, a cada desejo frustrado que a dois ou a três foi esquecido. Uns frutificam em um grande e lindo amor... Outros preservam na Amizade o mesmo fiel sabor.
E, quando morrem, passam-se anos e a amizade permanece na memória dos filhos, dos colegas, dos vizinhos, dos livros daqueles sinceros amigos. E, após gerações a fio, é possível captar nos resquícios sepulcrais um doce aroma destilado pela Amizade que jamais sucumbirá.
Aos meus Um, Dois, Três, ou nem tanto, ou não mais que isso: Meus Amigos.


(Cecília Nascimento)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

CD DE CIDA AIRAM COM PARTICIPAÇÃO DE HÉLIO CRISANTO

A cantora potiguar Cida Airam lança mais um cd, desta vez com letra  do compositor Hélio Crisanto em uma das faixas e na capa do cd.

"Cida Airam é cantora profissional desde 1992. Natural de Natal-RN, teve o convívio direto com manifestações tradicionais brasileiras, como o coco, a ciranda, o maracatu e outros ritmos, que lhe influenciaram e trouxeram uma familiaridade com os cantos regionais do Brasil. Além do seu trabalho solo, é professora de canto e canta no VOCAL BRASILEIRÃO, mantido pela Fundação Cultural de Curitiba. Radicada em Curitiba-PR, vem se destacando como intérprete e compositora, e é parceira de diversos grupos da cena musical Curitibana, participando como convidada de diversos grupos locais, como FELIXBRAVO, MOLUNGO dentre outros."  (http://fuaproducoes.com.br/cida-airam/ )



AVE CIDA

Uma ave no céu tecendo sonhos,
Voejando nos palcos culturais.
Condoreira dos ares mais risonhos,
Ave Cida dos solos divinais.

Se cantar como pássaro é tua sina.
.. Faz da vida um gorjeio permanente,
Canta alto pra nós ave menina
Voa livre a cantar, alegra a gente

Se o teu verso é chuva que goteja...
Nos acordes da ave sertaneja
Ouço a voz desse canto tão fecundo.

Ribaçã que partiu singrando os mares
Se ausentando das terras potiguares
Pra fazer serenatas pelo mundo.


(Hélio Crisanto)



Ouça a música


Para badeba quiki, com trechos poéticos de Hélio Crisanto:




Parabéns à brilhante cantora e ao poeta Hélio Crisanto pela parceria!




segunda-feira, 26 de outubro de 2015

UM ALTAR DE FLORES AOS PÉS DE SANTA RITA - Chagas Lourenço

Plantas que gostaria de ver, um dia, no Santuário de Santa Rita e nas ruas e praças de Santa Cruz. - Chagas Lourenço

Para salvar o ambiente
Vou começar a plantar
Pedir e incentivar
Numa luta diferente
Com amor muito contente
Como se fosse uma dita
Minh'alma no peito grita
Transbordando de amores
Quero ver um altar de flores
Aos pés de Santa Rita.

domingo, 25 de outubro de 2015

Saudade do Magu - Joel Canabrava



Saudade do Magu

Como é ruim sentir este momento!
Olhar p’ra todo lado e ter certeza
Que o cantar dos pássaros está distante
Que a brandura de minha gente some
E que outro céu na minha gente surge.

Pronto! Acabou-se aquele sossego
E aquela brisa gostosa à tardinha
Sinto que deu lugar a uma fervura
Que somente o meu Magu apagará.

Mesmo estando ao redor de mil pessoas
Sinto-me como se estivesse só,
Pois o calor do meu povo é primórdio

E todos passam , mas não me percebem;
Lembro-me de lá, onde estes são bem vindos.

Sei que estou distante, mas voltarei!



sábado, 24 de outubro de 2015

ENEM - Manoel Guilherme de Freitas


ENEM

A hora da pressão, da avaliação,
que mexe, toca, avalia o sujeito,
pois se foi perfeito,
não fugirá dos resultados.

É apenas uma avaliação,
nada mais, irmão!
Já que têm provas,
que mostram o ensino, bem como a disciplina acadêmica
de quem já passou anos na escola.
Assim, chegou a hora
de querer os resultados?

Têm a redação,
que cobra do cidadão, resultados,
mas se tudo é precário,
como escrever, então, bem?

Mas, não surgem as tais fórmulas,
ou seja, receitas mal-feitas em cima da hora,
se escrever é leitura?
Ás vezes, as tais criaturas, professores de português,
ainda, são fregueses desse sistema de ensino?

São conceitos, teoremas mal-resolvidos
que, em questão de segundos, viram doce, ouro, agrado.....
Decerto, é coisa séria, pois não se aprende às pressas,
mas num continuum
por isso você, aluno, faça correto, direito
portanto, sendo-o sujeito de um processo ensino-aprendizagem.

Este é marcado, traçado como ares,
com sonhos, utopia,
que se errado
vira agonia
de uma pedagogia silenciada.

Cuidado com panfletos,
por que textos,
não se aprendem assim...
Do nada.... Do além
através de escolas salvadoras,
redentoras,
Por que, então, não se ensinam lá,
todos os dias, nas salas de aulas?

Manoel Guilherme de Freitas. Professor, poeta, revisor. São Francisco do Oeste, RN.

Casa velha coberta de poeira... - Hélio Crisanto

Casa velha coberta de poeira...
Cinco anos de seca é teu calvário.
Um sanhaço sibila solitário,
Agourando na trave da porteira.
Geme um pote debaixo da goteira,
A quentura do tempo lhe rachou.
O cercado de vara o sol queimou
Nossa fauna foi toda dizimada;
A carcaça de um peixe abandonada
No porão de um açude que secou.


PASSOS - Manoel Guilherme de Freitas


Vividos, sentidos, exauridos aqui, ali, acolá sem, ao menos, sentir que pode resolver tudo ou nada? Lentos, propensos a não serem questionados, ou mesmo isolados por quem não atinge o alvo. Medidos,calculados, trocados, invertidos na vértice da vida buscando,apenas o cálculo... Ah! Se... se... Prouver, se vier e preencher o vazio, o espaço deixado, marcado, traçado ao lado de quem sempre espera!

MANOEL GUILHERME DE FREITAS

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

VERSOS SOBRE O FANATISMO POLÍTICO (Gilberto Cardoso dos Santos)



VERSOS SOBRE O FANATISMO POLÍTICO (Gilberto Cardoso dos Santos)

Eu não sei se é cegueira
Má vontade, hipocrisia
Ver alguns na dianteira
Defender com ousadia
Até com certa grossura
Gente que não tem lisura
E faz o que não devia.

Usam pobres argumentos
Comuns à oposição
Defendem comportamentos
Próprios da corrupção
Parece que em seus anseios
Os fins justificam os meios
Mesmo ferindo a razão.

Falhas graves da política
De pessoas ilibadas
Já não recebem mais crítica
Hoje são justificadas
O medo de piorar
Leva o povo a aceitar
Coisas antes condenadas.

Alguns, por razões escusas,
Interesses pessoais
Expressam razões confusas
Para os deslizes morais
Falam da oposição
Mas na argumentação
São parecidos demais.

Fazem uso da Internet
Pra fazer difamações
Ai daquele que se mete
A fazer reclamações!
Pode ser caluniado
Ofendido e humilhado
Só por dar opiniões.

Com as opiniões diversas
Forte é a intolerância
São ditas coisas perversas
Que revelam arrogância,
Descontrole emocional
Quem se opõe é do mal
Deve manter-se à distância.

Gente bastante instruída
De inegável inteligência
Parece destituída
De razão e coerência
De maneira lastimável
Defende o indefensável
Conforme a conveniência.

Acho que todos vivemos
Um momento delicado
Certamente não queremos
Ver o país afundado
Como em anos precedentes
E nem sermos coniventes
Com aquilo que é errado.

Vocês que antigamente
Tinham um discurso honroso
Não defendam cegamente
Algo que é duvidoso
Devido partidarismo
Que parece  fanatismo
De caráter religioso.

É preciso ter cuidado
Na hora de discutir
Pra não ficar exaltado
E ao semelhante ferir
Argumentos racionais
Não ataques pessoais
É o que se deve ouvir

Com certeza o pior cego
É o que se recusa a ver
Quem por causa do seu ego
Não dá o braço a torcer
E continua  insistindo
Pra si mesmo repetindo
Tentando se convencer.

Por favor não me odeiem
Por assim desabafar
Peço que não se chateiem
Com meu modo de falar
Sou contra a corrupção
Fiz isso na intenção
Apenas de ajudar.

Porém se em verso ou prosa
Alguém quiser contestar
Ouvirei de forma honrosa
Tudo que argumentar
Meu intuito é construir
Ver o país progredir
Do atoleiro escapar.

       Gilberto Cardoso dos Santos

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Não tinha nada de luxo Mas havia muito amor - Gilberto Cardoso dos Santos


A casa era apertada
e pouca era comida
mas apesar de sofrida
a vida era animada
a cama velha quebrada
escassez de cobertor
noites de frio ou calor
de fome roncava o bucho
não tinha nada de luxo
mas havia muito amor

tudo junto e misturado
no estreito compartimento
nosso entretenimento
era sempre improvisado
o brinquedo reciclado
era de grande valor
Meu pai era um sofredor
grande era o seu repuxo
não tinha nada de luxo
mas havia muito amor




sábado, 17 de outubro de 2015

O FEDERAL - Joel Canabrava


O Federal

Todos sabem que existem algumas categorias para classificar a polícia: civil, militar, rodoviária e federal. Bem, todos também têm conhecimento que existem as universidades particulares e públicas; estas, dentro de cada estado, são classificadas em universidades estadual e/ou federal. Fiz e este pequeno introito para relatar um causo ocorrido num certo interior.

Um amigo, que morava no interior foi estudar na cidade grande e, como era muito estudioso, passou no vestibular para o curso de Administração na UFPI (Universidade Federal do Piauí).

A empolgação da família, da vizinhança  e dos amigos que moravam no interior era grande, afinal um menino pobre e do interior ir para a cidade grande e passar no vestibular não era comum lá. Pois bem, a notícia correu a cidade inteira. Onde se estava, os comentários eram os mesmos –“passou, o Bernardo passou no vestibular; ele vai fazer faculdade; o Bernardo vai fazer universidade; o Bernardo vai para a federal”.  Todas essas frases eram ouvidas frequentemente, principalmente a última e, depois, unicamente ela.

Em todos os locais a frase “o Bernardo vai para a federal” era constante. Houve inclusive uma pequena discussão entre uma vizinha do meu amigo e uma pessoa da cidade.
 - É mentira! Ele não passou na Federal. Nem teve concurso esses dias. A vizinha eufórica respondeu – passou sim, ele raspou até cabeça. Porque quando é para entrar lá, tem que cortar o cabelo bem baixinho.

A discussão continuou por algum tempo, até que resolveram parar porque nenhuma quis recuar.

Outro colega de Bernardo fazia certos comentários  do tipo: rapaz, agora sim eu posso ir para cidade e não ser multado, o Bernardo está lá e, ele não vai prender minha moto.
Certo vez um homem meio embriagado, ao ver a mãe de Bernardo na rua, aproximou-se dela e disse:

- Olhe dona Maria, a senhora sabe que eu sou zangado, que eu gosto de beber minhas pingas e que eu sou bagunceiro. Considero a senhora, mas se seu filho um dia quiser vir me prender, eu vou fazer uma besteira... Só porque ele vai trabalhar na polícia... Não é assim. A senhora diz logo para ele o que eu lhe disse.

Dona Maria respondeu meio temerosa, mas com um pequeno sorriso de zombaria:
- Não se preocupe que ele não vai lhe prender. Pode ficar tranquilo – Depois respondeu mais séria – o meu filho não vai ser policial, ele passou na federal, mas foi na Universidade Federal do Piauí. Ele vai  é estudar para trabalhar em empresa.


Assim, toda vez que Bernardo vinha visitar a família, ele tinha de explicar direitinho a história, caso contrário ia continuar sendo visto como policial federal. Coitado, antes fosse!!!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

VACA BRABA - Luiz Berto


VACA BRABA

Vaca Braba, até o tanto que posso me lembrar, não tinha nada de braba. Tinha era muita alegria e disposição. Era puta antiga na Coréia; sua figura preenchia os espaços daquela rua alegre.

Tinha quase dois metros de altura, pés 42, e as mãos, enormes e fortes, denunciavam a infância no cabo da foice no engenho. Tudo nela era agigantado, e sua voz era compatível com o restante da figura. Andava com os braços balançando desengonçadamente ao lado do corpanzil. Não me lembro de tê-la visto com os pés calçados.

Ria um riso destabocado, e suas gaitadas eram ouvidas de longe. Sua disposição para rir e ficar alegre só se igualava à enormidade de sua figura.

Arranjou uma filha, que cresceu na Coréia e se iniciou cedo no meretrício pela mão da mãe. Também era corpulenta e usava franjas. Quando começou a ficar mocinha, peitos mal pipocados, tomava banho nua no Pirangi, para delícia dos meninos. À falta de outro nome, e como se parecia com a mãe, lhe batizaram de Vaquinha. Como tinha o hábito de se abaixar e urinar na rua, estivesse onde estivesse, completaram-lhe a alcunha: Vaquinha Mijona.

Por nova e solicitada, Vaquinha Mijona envelheceu tão rápido quanto a mãe, atolada na aguardente o dia todo.

Vaca Braba era disposta, de munheca pesada, e não foram poucos os homens que ela surrou com sua mão larga. Um tapa seu valia por duas quedas. Uma vez, de brincadeira, deu um bofete no tocador de pife Goelinha, que ele foi parar no Hospital Regional. E em mulher, então, nem se fala: ela batia de bunda limpa arroxeando as nádegas com sua manopla.

Mas, um dia, ela perdeu a parada, para sempre e sem esperar. Sentou-se para beber com um homem na casa de Maria Uleiro, e, como sempre fazia, emborcava de copo cheio. O homem, espantado, desafiou-a para beber no bico da garrafa. Como nunca havia enjeitado qualquer parada, Vaca Braba não se fez de rogada e topou de imediato.

Mastigou duas piabas e ordenou a Maria Uleiro que abrisse uma garrafa de Pitu. Temperou a garganta, deu uma cusparada no chão e encostou o gargalo da garrafa na bocarra. Cabeça levantada, o nó da goela se mexendo a cada gole, foi bebendo devagar e sem interrupção. A esta altura, a casa já estava cheia de gente. As pessoas acompanhavam em silêncio a façanha.

À medida que a garrafa ia meando, os olhos de Vaca Braba iam-se avermelhando, e, de sua testa, grossos pingos de suor caíam rosto abaixo. Vaquinha Mijona incentivava a mãe com gritinhos.

A garrafa esvaziou, e ela nem teve tempo de colocá-la sobre a mesa: estatelou-se dura, e, na queda, seu peso enorme rebentou a cadeira. Os cacos de vidros se espalharam pela sala. Vaquinha Mijona deu um grito:

– Que foi, mãe?

O corpo frio, rija como uma tábua, Vaca Braba não respondia.

Levaram-na em cima de uma cama de lona para o Hospital Regional, o cortejo quase a correr pelas ruas. Vaquinha Mijona chorava, enquanto seguia os homens que levavam a cama.

– Torna logo, mãe.

No dia seguinte, o serviço de som do Bar Riso da Noite tocava a Ave Maria de Gounod com o chiado característico. Esse disco só era passado quando morria alguém na Coréia. O alto ficava de luto; emudeciam-se as putas.

O locutor entrava no meio da música:

– ... e agradecemos a todos que comparecerem a este ato de caridade cristã.

No caixão azul, Vaca Braba estava mansa e serena em sua mortalha roxa, costurada por Dona Maçu.

Vaquinha Mijona sumiu no mundo e nunca mais voltou a Palmares.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Tem ventania estocada Na cuca de muita gente

Glosadores: Hélio Crisanto, Zé Ferreira e Gilberto Cardoso dos Santos     
MOTE: Hélio Crisanto
ESTROFE DE HÉLIO CRISANTO:

Tem roubo e corrupção
Dominando consciências,
Tem governo de aparências
Ludibriando a nação.
Tem imposto e petrolão
Para engrossar a corrente
Mas a nobre presidente
Balbucia e não faz nada
Tem ventania estocada
Na cuca de muita gente



ESTROFE DE ZÉ FERREIRA:

A geração desta era
escrava de seus "amores"
vive invertendo valores
e assim se degenera.
A práxis de hoje gera
uma prole inconsequente
e, se for falar da mente
dessa massa desvairada,
tem ventania estocada,
na cuca de muita gente.


Ouvi que a energia teria preço simbólico pois um projeto eólico o seu custo baixaria. a parte de engenharia do projeto está pendente outra parte, a presidente disse estar completada; Tem ventania estocada na cuca de muita gente.
(ZéFerreira)





ESTROFES DE GILBERTO CARDOSO:

Tentam colocar a pasta
De volta no dentrifício
E em tão estranho ofício
Nossa mente se desgasta
Dobrar a meta não basta
Quando esta está ausente
Com a mandioca à frente
Mulher-sapiens tá brisada
tem ventania estocada, 
na cuca de muita gente.

Quanto à energia eólica
É necessário estocar
Bons ventos vão agitar
Nossa paisagem bucólica
Se a frase é meio estrambólica
O resultado é patente
Pra que discurso eloquente?
Mais vale uma roraimada!
tem ventania estocada, 
na cuca de muita gente.

Ao que não pensa direito
Chamam cabeça-de-vento
Todo mundo fica atento
Às tolices do sujeito
Mas não tenha olhar estreito
Ante o discurso fluente
Pois quem fala belamente
As vezes não tá com nada
tem ventania estocada, 
na cuca de muita gente.


São muito os vendavais
tornados e furacões
próprios das corrupções
nas esferas estatais
Há calmaria demais
perante o roubo frequente
percebo que infelizmente
nossa nação é culpada
tem ventania estocada, 
na cuca de muita gente.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

UM DIA - Cecília Nascimento


Um dia

Estava hoje à tarde a me deleitar com a teoria da crônica, feliz por descobrir o mundo em pequenos pedaços de papel amarelado.
Vi, então, passar diante de meus olhos três velhinhas em direção a uma festividade junina. Elas trajavam saias muito coloridas e com o bico das anáguas aparecendo pelo corte posterior. Blusas de linho fino trabalhado, com botões simples como a essência da vida. Sapatinhos pretos, bem confortáveis, sem modelo. São sempre iguais os calçados das idosas: sapatilhas molecas ou coiotes... Como deve ser bom andar assim!
Elas caminhavam serenas, conversando, sem pressa. O que pensavam? Como me viam a mim que as observava?
Parei de ler... Parei para senti-las. Parei para sentir aquele momento sublime e simplório simultaneamente. Como devem ser felizes aquelas velhinhas! Como devem sofrer! Como devem ter sido felizes e sofrido no passado! Mas, puxa vida, como são serenas, parece que não fazem parte da vida moderna e acelerada.
Imaginei como devia ser bom ser velhinha... Então me dei conta de que já o sou e somos. Envelhecemos precocemente. Nós, os que antecipamos os problemas com medo de não resolvê-los a tempo. Nós, os que nos esquecemos de brincar com o pequenino do nosso lado em virtude do capitalismo selvagem. Nós, os que nos escravizamos com roupas e calçados desconfortáveis que não gostamos, mas acabamos usando para nos enquadrarmos em padrões pré-moldados. Nós, os que não ousamos cometer a incrível façanha de parar em caminhar serenamente conversando com amigos sobre coisas simplórias...
Pensando bem, não, nós não somos velhinhos... Quem nos dera que fôssemos!


(Cecília Nascimento)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Parece até que estou vendo As sombras do meu passado - Gilberto Cardoso dos Santos

Glosa: Gilberto Cardoso dos Santos  Mote: Marcos Medeiros
                                            

As estradas poeirentas
E a árvore ressequida
Não oferecem guarida
Nas horas mais calorentas
No céu, as nuvens cinzentas,
No chão, o verde mirrado
Há um silêncio pesado
Na tarde que vai morrendo
Parece até que estou vendo
As sombras do meu passado.


Pálpebras de alvenaria,
Janelas retangulares
Por onde os raios solares
Entram trazendo alegria.
O clima é de poesia
No cenário desolado
Um chocalho é balançado
A brisa sons vem trazendo
Parece até que estou vendo
As sombras do meu passado.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

EI, CRIANÇAS...! - Tarcísio José Fernandes Lopes

EI, CRIANÇAS...!
I
Neste dia da criança,
EU me vi, em "regressão",
indo aos tempos do "eu-menino"
(na cidade ou no sertão);
e tive o pressentimento
de rever cada momento
que me fez ter emoção.
II
E ao voltar da regressão,
eu me vi vendo meus FILHOS
sendo imagens do que eu fui,
pondo os pés em meus rastilhos;
e, também, sendo instruídos
a seguirem, destemidos,
o rastejo de meus trilhos.
III
Vi, também, os meus três filhos
sendo pais de meus “projetos”;
é que, desde eles crianças,
eu os vi pais de meus NETOS;
netos que ainda são crianças,
mas que são as esperanças
de, algum dia, eu ter bisnetos.
IV
EU, meus FILHOS e meus NETOS
somos partes de uma imagem
que escolhi para, às crianças,
render minha homenagem:
– PARABÉNS para as crianças
que, ainda, são as esperanças
de um mundo sem “malandragem”.

Tarcísio José Fernandes Lopes

Oração de pai nordestino... - Hélio Crisanto





Quando o sol invade a telha

Do rancho do camponês,


Berra com fome uma ovelha,


Cai de fraqueza uma rês.


O pai já compadecido

Vê seu filho desnutrido


Comendo uma tripa assada


Olhando as cinzas do fogo


Se ajoelha e faz um rogo


Pra Deus mandar invernada



(Helio Crisanto)