O
nosso idioma é incrível; é um panapaná de borboletas, claro; não é homogêneo e
varia muito, dependendo da época em que vive, sexo, idade, grupo social, região
em que mora o falante etc. A língua é isso;
esse prisma que reflete o falante e que espelha a cultura; é coisa
admirável e bonita de se ver: sotaques
mil, vários modos de usar alguns enunciados, os variados significados de
determinadas palavras podem inclusive causar estranhamento; isso é a língua
viva, é cultura! É bem verdade que o idioma é um só, mas até que poderiam ser
vários...
Para
a mesma coisa inúmeros nomes - mandioca, aipim, ou macaxeira; tiara, diadema,
atraca; ou um nome que pode significar coisas totalmente diferentes – bicha e
rapariga não soam tão mal em Portugal como no Brasil. O poeta e cantador
Jessier Quirino para uma mesma palavra fez uma música inteira – matuto doente das partes – começa assim
“no tronco do ser humano/nos finar mais derradeiro/tem uma rosquinha
enfezada/que quando tá inflamada/incomoda o corpo inteiro” e descreve “bufante,
frescó, apito, bozó, furico, fedegoso, piscante, pelado, boga, fosquete,
frinfa, sedém, ficha, vintém, ás de copas, foba, oi de porco...” -; enfim,
a língua é essa coisa que une os
falantes, desune, faz a sociedade andar e desandar; faz ri e faz chorar;
convence, informa, explica....E complica também.
Meu
primo Elvis lá do interior, criado na roça, desenvolvendo com maestria a
agricultura e, também a pecuária da grande fazenda composta de dez rezes; acostumado com o linguajar do
campo e do vaqueiro; pião, boi, vaca, jumento, burro, cavalo, égua... foi com
muito entusiasmo para a cidade grande; afinal nunca tinha ido e queria conhecer
aquele mundo diferente.
Depois
de algumas horas de relógio, sua mãe e ele chegavam na cidade e já se encontravam na casa de uma
parente – a madrinha de Elvis. Combinaram de ir ao centro da cidade para fazer algumas compras. Saíram de casa e foram
até a primeira parada de ônibus.
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Dependendo
da região, dos tipos e configurações, o transporte público pode ser conhecido
por ônibus, coletivo, alternativo, lotação, van, topic, Kombi, perua, besta....
***
Pois
bem, no caminho da casa até a parada de ônibus,
as duas comadres vão conversando sobre coisas diversas, inclusive sobre os perigos da cidade grande – por isso comadre – diz a madrinha de
Elvis – a gente não vai pegar mototáxi, não. É mais seguro a gente ir de
besta.
Puxando
na saia de sua mãe e com os olhos cheios de lágrimas, Elvis com a voz trêmula,
inocentemente diz:
-
Mãe, eu num quero ir de besta não; eu quero ir é de carro.
Muito engraçado e interessante seu texto , ele relata muito bem nossa realidade linguística cultural .Amei !
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