quinta-feira, 28 de maio de 2015

DE BESTA OU DE CARRO? - Joel Canabrava


O nosso idioma é incrível; é um panapaná de borboletas, claro; não é homogêneo e varia muito, dependendo da época em que vive, sexo, idade, grupo social, região em que mora o falante etc. A língua é isso;  esse prisma que reflete o falante e que espelha a cultura; é coisa admirável e bonita  de se ver: sotaques mil, vários modos de usar alguns enunciados, os variados significados de determinadas palavras podem inclusive causar estranhamento; isso é a língua viva, é cultura! É bem verdade que o idioma é um só, mas até que poderiam ser vários...
Para a mesma coisa inúmeros nomes - mandioca, aipim, ou macaxeira; tiara, diadema, atraca; ou um nome que pode significar coisas totalmente diferentes – bicha e rapariga não soam tão mal em Portugal como no Brasil. O poeta e cantador Jessier Quirino para uma mesma palavra fez uma música inteira – matuto doente das partes – começa assim “no tronco do ser humano/nos finar mais derradeiro/tem uma rosquinha enfezada/que quando tá inflamada/incomoda o corpo inteiro” e descreve “bufante, frescó, apito, bozó, furico, fedegoso, piscante, pelado, boga, fosquete, frinfa, sedém, ficha, vintém, ás de copas, foba, oi de porco...” -; enfim, a  língua é essa coisa que une os falantes, desune, faz a sociedade andar e desandar; faz ri e faz chorar; convence, informa, explica....E complica também.
Meu primo Elvis lá do interior, criado na roça, desenvolvendo com maestria a agricultura e, também a pecuária da grande fazenda composta  de dez rezes; acostumado com o linguajar do campo e do vaqueiro; pião, boi, vaca, jumento, burro, cavalo, égua... foi com muito entusiasmo para a cidade grande; afinal nunca tinha ido e queria conhecer aquele mundo diferente.
Depois de algumas horas de relógio, sua mãe e ele chegavam  na cidade e já se encontravam na casa de uma parente – a madrinha de Elvis. Combinaram de ir ao centro da cidade para  fazer algumas compras. Saíram de casa e foram até a primeira parada de ônibus.
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Dependendo da região, dos tipos e configurações, o transporte público pode ser conhecido por ônibus, coletivo,  alternativo,  lotação, van, topic, Kombi, perua, besta....
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Pois bem, no caminho da casa até a parada de ônibus,  as duas comadres vão conversando sobre coisas diversas, inclusive  sobre os perigos da cidade grande – por isso comadre – diz a madrinha de Elvis – a gente não vai pegar  mototáxi, não. É mais seguro a gente ir de besta.
Puxando na saia de sua mãe e com os olhos cheios de lágrimas, Elvis com a voz trêmula, inocentemente diz:
- Mãe, eu num quero ir de besta não; eu quero ir é de carro.


Um comentário:

  1. Muito engraçado e interessante seu texto , ele relata muito bem nossa realidade linguística cultural .Amei !

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