Lindomar Izídio e Epitácio Andrade em área atacada |
No último dia 04 de janeiro, o engenheiro agrônomo Lindomar Izídio de Lima e o médico sanitarista Epitácio de Andrade Filho começaram a fazer um estudo exploratório em regiões do litoral sul potiguar para diagnosticar e propor intervenções no problema caracterizado pela infestação de cajueiros pela praga da mosca branca e suas possíveis repercussões nas atividades e saúde humanas.
A praga se caracteriza pela infestação parasitária do inseto conhecido como “mosca branca do cajueiro” que coloniza os cajuais e deposita suas fezes açucaradas na folhagem da planta, favorecendo o desenvolvimento de um fungo fitopatogênico denominado de “fumagina”, que impede a fotossíntese e atraem outros insetos como formigas.
Mosca Branca do Cajueiro |
A evolução fitopatológica da praga acarreta diminuição acentuada da produtividade da planta, motivada pelo desfolhamento causado pelo ataque da mosca e pelo desenvolvimento da “fumagina”.
Folha atacada por “Fumagina” |
Segundo estimativas mais otimistas 30% dos cajueiros, planta nativa dos trópicos brasileiros, encontram-se sob séria ameaça de sobrevivência devido ao ataque da mosca branca, ocorrendo, sobretudo em áreas desmatadas, onde se elimina o alimento natural da praga, que passa a buscá-lo, principalmente, nos cajuais.
Cajueiro parcialmente atacado em área desmatada
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Cajueiro totalmente atacado |
O ataque é caracterizado, principalmente, pela deposição das fezes adocicadas do inseto na parte dorsal das folhas da planta.
Ataque na parte dorsal da folha do cajueiro |
A contaminação da parte ventral das folhas também se dá pela deposição de restos de insetos e outros subprodutos resultantes da evolução fitopatogênica da praga, que vão caindo das folhas mais superiores atacadas.
Ataque na parte ventral da folha do cajueiro |
Os pesquisadores identificaram num município do litoral sul potiguar uma área que teve uma infestação maciça, onde 95% das plantas foram atacadas pela mosca branca. O ataque da praga não se restringiu aos cajueiros, alcançou bananeiras, plantas ornamentais e até plantas tóxicas, caracterizando uma situação de desequilíbrio ambiental, que tem acarretado danos sociais e econômicos em várias atividades humanas, inclusive com repercussões na promissora atividade turística.
A seguir serão apresentadas imagens deste ataque maciço da mosca branca numa área peri-urbana deste município litorâneo.
Ataque na parte ventral da folha da bananeira
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Ataque na parte dorsal da folha da bananeira |
Plantas ornamentais como a dracena vermelha, o hibisco e a alamanda carne, assim como plantas tóxicas, como o “comigo ninguém pode”, também foram alvo do ataque devastador da mosca branca.
Alamanda carne sendo atacada |
Flor do hibisco ainda livre do ataque
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Dracena vinho atacada |
Flor do hibisco atacada |
Nesta área de infestação maciça, os pesquisadores constataram que nem plantas tóxicas, como é o caso de “comigo ninguém pode” foram poupadas do ataque da mosca branca.
“Comigo ninguém pode” atacada |
Durante dez dias de pesquisa de campo, o psiquiatra sanitarista Epitácio Andrade constatou algumas repercussões patológicas na saúde humana que podem guardar relação de causa e efeito com a exposição à praga. Inicialmente, foram identificados casos caracterizados pela presença de corpos estranhos nos globos oculares de recém-nascidos e bebês expostos a “fuligem” que fica a cair das árvores permanentemente; observou-se uma tendência ao surgimento de dermatites de contato em usuários de piscinas contaminadas com os subprodutos da praga, assim como o aumento dos riscos de otites e de processos alérgicos; como toda praga, por uma determinação filogenética, é potencialmente ansiogênica, foram observadas situações de elevação do nível de ansiedade de turistas, agravadas pelo receio de estarem sendo expostos a agroquímicos potencialmente tóxicos.
Noutra incursão exploratória, o pesquisador social Epitácio Andrade constatou no alto da Serra de Santana, no sertão central do Rio Grande do Norte, o grande receio da população local sobre a utilização de agrotóxicos no combate a praga da mosca branca do cajueiro, que o sábio poeta-agricultor Zé Limão, radicado naquelas glebas distante 30 km da área urbana do município de Santana do Matos, registrou em versos de cordel:
“A Mosca do Cajueiro”, de Zé Limão
A mosca do cajueiro
Precisa ter solução
Para se recuperar
Novamente a produção
Mais isso só é possível
Através de avião
Pois com bomba manual
Acho muito perigoso
Para lutar com veneno
Eu sou um tanto nervoso
Pode nem matar a mosca
E dar-se um causo doloroso
Eu acho que essa praga
Merece ser dizimada
Para a nossa produção
Voltar ser recuperada
Do contrário o cajueiro
Não vai valer é mais nada
Acho que devia haver
Uma breve solução
Para não acontecer
Como o plantio do algodão
Que por causa do bicudo
Acabou-se a produção
A população reclama
Mais não tem jeito pra dar
Se acabar o cajueiro
A riqueza do lugar
A situação do pobre
A tendência é piorar
Vamos pedir ao bom Deus
Pra que haja solução
Para os nossos cajueiros
Voltar a dar a produção
Do contrário o nosso povo
Irá passar precisão
(Santana do Matos, 2009).
Em consultoria gentilmente prestada por Khadidja Dantas Rocha, doutoranda em agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, comprovou-se que a utilização de agrotóxicos, do tipo inseticida, está cada vez mais em desuso no controle da praga da mosca branca. A especialista afirmou que a aplicação do extrato aquoso das folhas da planta “Nim” diretamente nos cajueiros atacados tem sido observada uma eficácia no controle da praga superior a observada com a aplicação de óleos vegetais.
O desuso de agrotóxicos tem sido uma tendência mundial que está sendo impulsionada pelo desenvolvimento da consciência ecológica de parcelas cada vez mais significativas da população planetária, passando a ser mais exigente com o controle de qualidade da produção agrícola e da oferta de serviços que tem o meio ambiente como principal atrativo, além de influenciar a produção científica para a busca de soluções ecologicamente equilibradas, com é o caso da utilização dos agentes de controle ambiental das pragas, do tipo organo-naturais.
Doutoranda Khadidja Dantas Rocha |
O Nim, popularmente conhecida como “amargosa”, é uma planta originária do subcontinente indiano, introduzida no Brasil em 1982, com excelente adaptabilidade por suas características de resistência a seca, e está sendo utilizada como uma espécie de inseticida natural orgânico, sem evidências de danos ambientais, no controle de várias pragas, dentre elas a mosca branca do cajueiro.
Nim Indiano |
Praia da Pipa/RN/Brasil
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Texto Epitácio de Andrade Filho, médico psiquiatra e pesquisador social
Parabéns aos pesquisadores pelo trabalho desenvolvido em busca de benefícios para a população.
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