Eu disse outro dia em seção na Câmara de Vereadores:
quando meu filho
nasceu nossa bandeira já existia e se os senhores,
enquanto representantes
de todos os japienses permitirem, eu quero mostrá-la
também para os
meus netos. Minha neta apressadinha está a caminho e
espero que sejamos
capazes de segurar nossa bandeira por mais tempo. Eu fui
apelativo porque
sabia que apesar das enquetes nas redes sociais e de
documentos oficiais
apontando o desejo de uma maioria ali representada ser
pela permanência
da nossa bandeira, a decisão final estava mesmo era entre
os legisladores
e espero ainda que apesar da insistência por parte do
poder executivo
municipal, sejamos capazes de conquistar a esta altura, a
simpatia de quem
de fato deveremos.
Por algum tempo me detive na impressão de que nossa
bandeira já
estivesse segura e protegida. Ainda mais quando estive na
Câmara de
Vereadores dias depois por duas vezes. Primeiro
participando de audiência
pública sobre nossos limites territoriais e depois em
nova audiência
para decidir a aplicação da emenda de iniciativa popular
no valor de R$
400.000,00 aqui no município. Nestes dias eu a vi
tremular e não tremer
entre os nossos vereadores e, por último, nossa bandeira
estava como
se quisesse abraçar o prefeito. Foi o que afirmei ali.
Ela estava em seus
fascínios, exuberando um deslumbramento que lhe era
oficial, num lugar
que lhe era de fato e de direito, de onde pensei que
nunca haveria de sair.
Encantei-me com a cena e assim imagino outros também, mas
hoje lamento
pelo possível reverso da história e por dentro sofro,
enquanto que na
bandeira é quase isso o que antevejo por fora.
Foi observando a natureza das coisas que desde cedo
aprendi que não é
apenas o vento, mas também o tempo que lança distante o
eco, até que
se cria um ambiente favorável para que se estabeleça o
contraditório. Com
a passar do tempo voltou a proposta de substituição da
bandeira aqui no
município e no projeto de lei, enviado pelo prefeito à
Câmara Municipal,
no art. 5° “a antiga Bandeira não será incinerada e sim,
arquivada como
elemento histórico e de pesquisa”. A verdade é que com a
substituição não
mais veremos nossa bandeira onde antes estivera, ou
haveria de estar. E
sorte minha e dela que não conhecemos a ditadura pela
ditadura e sim
através da História, porque tanto quanto ela ainda está
aqui; eu, no foco,
brincava inocentemente nas quatro ou cinco ruas que
tínhamos, enquanto
se baixava decretos para que se emudecesse de vez e sem
voz, sem força
ficasse, ou que a força não fosse suficiente para se
levantar bandeiras.
É verdade que pouco temos assistido de sua imponência,
pois seus dias
têm sido bem empoeirados, vitimados também pelo descaso
do percentual
desastroso de analfabetismo que nos persegue, mas creio
que não só em
mim existem lembranças, boas lembranças, de suas
aparições ostensivas,
nos raros momentos de civismos pontuais em que esteve
presente, ladeada
de outras, ao seu modo irredutível. Lembro as poucas
vezes quando esteve
a devolver reverência em testemunho aos filhos de nossa
terra por suas
conquistas e quando aqui ou além-fronteiras por nós
velava os presentes
só de corpo, onde por vezes eram bem poucos e ela,
somente, por último, a
vê-los em despedida para que só então partissem... de
vez.
Antes até se cogitou o exagero de um plebiscito para seu
destino. Ideia de
gente que como eu foi convidada a dá palpites. Quisera
eu, estivéssemos
a fim realmente de irmos ao mais profundo do sonhado
exercício
democrático. Distante disso, a historiadora e escritora
Anadite Fernandes,
bem ao jeito dela, foi quem enxergou na bandeira um
equívoco histórico
e desconfiou de sua capacidade de nos representar
decentemente. Até
então, só conheço seus rastos, mas é ao menos nela ainda
que espero a
chance de ter o tão cobrado argumento único que me seja
tanto e quanto
convincente do porquê de tal mudança: unzinho somente.
É natural que arrisque aqui minha desconfiança no aval
daqueles
que desacreditam nas traças e dos que insistem em fazer
história em
detrimento da História para que o destino de nossa
bandeira ganhasse
forças bem nas mãos da escritora, no seu traçado, nos
seus traços,
desenhos, toques e retoques na outra, que insiste em
querer se impor em
sua pujança, embora a nossa já esteja fincada e com
raízes na história, em
cujos deveres cívicos constam não poder ser arriada,
assim, a qualquer
hora, ainda mais na negritude do momento.
Mesmo assim torço para que não se confirme minha
desconfiança de que
isto que agora nos acontece seja o anúncio ou prenúncio
de coisa pior e
para que caso consigam o que querem com a nova bandeira,
que com o
tempo ela consiga devolver-me ao menos o carisma que só
quem tem é
bandeira envelhecida.
Prof. Maciel. Japi/RN.
Que belo texto. Depois me explica o contexto?
ResponderExcluirValeu, grande Maciel!
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