CAMPO DE CONCENTRAÇÃO MODERNO
Meu nome é Yara, tenho apenas 10 anos e moro na Faixa de Gaza. Meu mundo sempre foi feito de escombros, barulho de bombas e medo constante. Enquanto outras crianças sonham com brinquedos, eu sonho em um dia poder parar de me esconder.
Minha mãe tenta desviar meu pensamento da realidade, contando histórias de um passado com praias tranquilas, festas em família, porém nada disso combina com o cinza que vejo ao meu redor. As risadas, antes tão comuns, desapareceram com os bombardeios, e tudo que resta é poeira, barulho e silêncio pesado entre um ataque e outro.
Eu tinha um irmão, Sami. Ele era também meu melhor amigo. Fazíamos planos de um futuro fora daqui, todavia numa noite, uma explosão o levou. Desde então, nada preenche a ausência dele.
Quando a noite chega, o frio entra pelas rachaduras do abrigo improvisado. Dormir é um luxo, pois a qualquer momento o céu pode cair.
Estudar está difícil. Às vezes temos aula, às vezes fugimos. A escola vira abrigo, vira alvo, vira poeira. Seria bom ter um lugar onde eu pudesse ser criança, mas nos tornamos reféns, e para ser refém não há idade.
Comer é outra luta. A comida é pouca, e minha mãe finge não sentir fome para que nós tenhamos o que mastigar. Ela divide o pão como se fosse tesouro, e a gente se acostuma a guardar a fome no peito. As filas são longas, e o medo de voltar de mãos vazias é constante. A guerra também acontece no estômago.
Outro dia, acordei com febre, entretanto não havia remédio. O médico da região só consegue atender os feridos. O posto é cheio de corpos e gemidos. Doença aqui é sentença.
O que mais dói é a sensação de que fomos esquecidos. Ouço que em outros países há parques com crianças felizes. Por que aqui é diferente? Esse silêncio do mundo machuca tanto quanto o barulho das explosões.
Escrevo porque quero que alguém, em algum lugar, saiba que existe uma criança assustada, mãos estendidas e um pedido de paz urgente.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 03.07.2025 - 02h35min.
Eis a dura realidade de uma infância roubada pela guerra, onde os sonhos de brincar são substituídos por batalhas pela sobrevivência. - Gilberto Cardoso
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