O Sucesso do Projeto Cria Poesia: Cordel, Cultura e Talento
O projeto “Cria Poesia”, promovido pela AMPARE – Associação da Mulher Potiguar, que ocorreu em 2024, ofereceu oficinas de cordel para mulheres e meninas no Rio Grande do Norte. Graças ao patrocínio da Potigás/RN, essa iniciativa proporcionou uma imersão na rica cultura local, valorizando a tradição nordestina por meio da arte do cordel.
As oficinas tinham como objetivo
empoderar mulheres e meninas, incentivando a expressão artística e o
fortalecimento da identidade cultural. Ao aprenderem a criar seus próprios
versos, as participantes desenvolveram habilidades de escrita e criatividade,
além de se conectarem com suas raízes culturais.
O projeto também buscou preservar
e disseminar a literatura de cordel, reconhecida como Patrimônio Cultural
Imaterial Brasileiro, garantindo que essa forma de expressão permanecesse viva
nas novas gerações.
Em Santa Cruz-RN, um dos polos, tivemos brilhantes participações e novos talentos foram revelados. Tive o prazer e a honra de fazer parte deste evento inesquecível. Vejam, abaixo, parte do que foi produzido. As capas dos cordéis foram feitas por Débora Andrade, ilustradora e tatuadora ( Instagram: @boradebs | e-mail: contato.boradebs@gmail.com)
Parabenizamos às talentosas poetisas, diplomadas pelo fazer poético.
Agradecemos à Casa de Cultura Popular Palácio do Inharé pela disponibilização do espaço.
Parabenizamos também a Luciana Bezerra e sua equipe por este e outros significativos projetos, todos feitos em prol do empoderamento feminino. Para ficar a par dos trabalhos desenvolvidos por elas, visite o site https://amparepotiguar.com.br
Gilberto Cardoso dos Santos
MATERNIDADE: AMOR, PERDA E RENASCIMENTO
(Luciana Souza)
Meu leitor, minha leitora,
Peço aqui sua atenção.
Vou contar uma história
Que tem muita emoção:
A mãe perder o seu filho,
Uma dor sem dimensão.
Início de dois mil e treze,
Quase vi se concretizar,
Foi no teste de gravidez,
Era positivo, a afirmar.
Era minha filha amada,
Em breve iria chegar.
Batizei de Geovana,
Minha maior alegria.
De sonho a realidade,
Que parecia magia.
Me senti abençoada,
Minha nova companhia.
Foi uma gravidez tranquila,
Sem nenhuma preocupação,
Geovana estava bem,
Tudo uma perfeição.
Me aguardava a tristeza,
Tamanha desilusão.
Um inesquecível dia,
Senti leve desconforto.
A médica examinou,
Não era caso de aborto.
Mas não fazia diferença,
Foi caso de natimorto.
Uma notícia inesperada:
Minha filha faleceu.
Não consegui acreditar,
Como pôde acontecer?
Parecia pesadelo,
Me senti enfraquecer.
Em dois mil e dezenove,
Teve que se repetir,
Outro filho foi pro céu,
Eu deveria resistir?
E que lindo menino!
Vi em minha vida surgir.
Dei nome de José Neto,
Meu pai homenageei.
Espelho pra meu filho,
Primeiro homem que amei.
Gerei um filho homem,
Isso nunca imaginei.
Infelizmente não contava
O que tinha que passar:
Uma doença séria veio
Pra o meu filho levar.
Sepultar outro filho,
Tamanha dor suportar.
Noventa dias comigo,
A médica desenganou.
Após os tratamentos,
Muito pouco funcionou.
Eu pensei no desespero:
O criador me enganou.
Por que fez isso comigo?
O senhor comigo brincou.
Um presente valioso,
Simplesmente me tomou.
Momento de desespero,
Creio que me perdoou.
Eu não curto vitimismo,
É minha realidade.
Não desejo pra ninguém
Tanta adversidade.
Obstáculo difícil,
Enorme fatalidade.
Ainda sobre ser mãe,
Desejo lhe relatar:
A minha filha do meio
Veio comigo ficar.
Escolhi o nome Isis,
Tenho a honra de cuidar.
A mulher vive desafios,
Algo novo a superar.
Tantas dificuldades
Que deixamos de contar.
Cada dia uma batalha,
Um leão para matar.
Mãe é algo precioso,
Todo dia a batalhar.
Ensinando o caminho
Do bem, pra o filho trilhar.
Enfrenta preconceito,
Um dos menores a citar.
Esse singelo cordel
Quero aqui dedicar
Ao professor Gilberto,
Sempre a me convidar
Para fazer um cordel,
Sempre a me influenciar.
Maria Luciana de Souza Silva
FILHA DE ANALFABETOS FORMOU-SE MESTRA
(Ana Glória R de C Gama)
No
interior distante,
Com
a vida a sonhar,
Nascia
Ana, menina,
Sempre
atenta a estudar.
Filha
de analfabetos,
Fez
das letras seu pensar.
Sua
mãe, muito cansada,
Sem
as letras conhecer,
Dizia:
"Filha, estude,
Pra
seu nome aprender.
Ler
o que quer decifrar,
Para
o mundo saber."
Sonhando
com os estudos,
Ana
sempre insistindo,
Estudando
letra a letra,
No
ensino persistindo.
Na
escola dessa vida,
Nessa
luta resistindo.
Anos
depois de formada,
Com
o diploma na mão,
Filha
de Zé e das Dores,
Virou
mestra em ação.
Com
seus conhecimentos,
Transformando
a nação.
Com lutas e persistência,
Desafios encarou.
Do PROFLETRAS fez parte
E uma mestra se tornou.
Com apoio da família,
Muitas coisas, alcançou.
Depois
de formada mestra,
Ana
conta sua história,
Que
foi no mundo das letras,
Construindo
a trajetória,
E
formando seu caminho,
Teve
a vida meritória.
Mesmo
sem experiência,
Nos
mostrou que é capaz.
Vibra
junto da família,
Pelas
coisas que se faz.
Estudar
é o caminho,
O
orgulho satisfaz.
Lá
da Serra da Tapuia,
Venceu
o medo e dor
Para
o sonho alcançar,
Graduada
por amor.
Das
Letras ser uma mestra,
Isso
digo com fervor.
CRIAção de POESIA
(Karla Assis)
Como vou me concentrar
e buscar inspiração
para criar um cordel
que transmita emoção,
que não gaste muito tempo,
mas que sirva de lição?
No meio dessas artistas,
com anos de produção,
economizar tempo
parece perturbação.
Nesse jogo de palavras,
não encontro solução.
Surge assim tão de repente,
com a produtividade,
mas ficar sem escrever,
isso é pura crueldade.
Para quem ama a cultura,
poesia de verdade.
Espremer nossas ideias
de forma assertiva,
despertando o pensamento
de maneira gradativa,
produzindo um bom texto
e criar expectativa.
Uma rima singular
que parece um rabisco.
Não me sinto preparada,
mas ainda me arrisco.
Quem apenas se lamenta
nunca muda esse disco.
Peço a Deus que me ajude,
me dando sabedoria,
e faça brotar em mim
os traços da alegria,
ao fazer da minha vida
uma eterna poesia.
Conhecendo as histórias,
estimulando a mente,
a um breve suscitar,
de modo bem consciente,
fazendo a reflexão
para ser experiente.
Ser parte de um projeto
mudou o meu pensamento,
a criar loucuras novas
nesse novo experimento.
Importante nessa vida
é viver esse momento!
A FUGA DE MONALISA
(Andressa Nascimento)
Monalisa, certo dia,
cansou de o museu abrir.
Usou de sua ousadia
para se sobressair.
Pensou: "De que vale a fama,
se aqui dentro sou um drama?
Preciso mesmo é partir."
Desceu do Louvre ligeira,
não fez alarde nem som.
Passada leve e fagueira,
da rua, olhou o tom.
Sentiu-se de novo viva,
desejava a luz altiva
e tudo que fosse bom.
Depois de sair, correu,
a passada se avexava.
Andava gritando: "Eu
há séculos procurava
a porta da liberdade.
Eu morria de saudade,
mas ninguém me libertava."
Ao passar da porta aberta,
viu um mundo diferente.
A rua estava deserta,
mesmo que em sua frente,
como que em outro mundo,
passasse ali por segundo
uma carrada de gente.
Era muita novidade,
não acreditava ao ver
pessoas de toda idade
andavam sem perceber.
Olhavam a própria mão,
quase saíam do chão
de tantas vezes correr.
Mulheres bem arrumadas,
com muito a oferecer,
andavam tão animadas.
Assim quis também viver
de fato, algo importante,
e esse futuro distante
mudou seu jeito de ser.
Cada mulher que passava,
desimpedida, inclusive,
Monalisa se assustava.
Falava: "Sem nem um prive?
Posso estar alucinando
ou será que estou sonhando
com um mundo que não tive?"
Ficou um pouco assustada
com tanta força e coragem.
Enquanto ela, calada,
ilesa naquela imagem,
via o pincel da igualdade
pintando outra verdade,
mudando toda paisagem.
Conheceu mulheres fortes,
posicionadas na vida,
enfrentando só com sorte
os preconceitos da lida.
Agora via o levante
do que, naquele instante,
era um ponto de partida.
O mundo corria tanto,
Monalisa se perdia.
Era flash em todo canto,
muita luta e correria.
Entre tanta informação,
ela viu a decisão
difícil que tomaria.
Essa aventura a cansou,
e a mulher não quis ficar.
Olhou em volta e pensou,
analisou o lugar.
Por mais que de lá gostasse,
decidiu o seu impasse:
ao Louvre quis retornar.
De volta para seu quadro,
se arrumou para voltar.
Pensava com animação
em seu próximo lugar,
pra, se quiser novamente,
sair do quadro e, contente,
correr para visitar.
De volta à sua moldura,
só se olha quem puder.
Nos olhos, sua figura
mostra um brilho de mulher.
Mas quem a observava
sentia que ela estava
num paraíso qualquer.
Monalisa fica assim,
de sorriso tão sutil.
Seu olhar fala, enfim,
trocando palavras mil:
se novamente fugir,
vai correr pra descobrir
as belezas do Brasil.
VIVENDO E APRENDENDO
(Joyce Santiago)
O novo me assusta,
mas eu não me esmoreço.
Apesar da vida dura,
o sonho tem seu preço:
ter medo do que vai vir,
coragem do recomeço.
Quem sabe o desejo
grande Deus para mim tem?
Vou enfrentar esse medo,
arriscar-me, que mal tem?
Contas não podem parar,
quanto ficar sem vintém?
Muitas vezes tentei fugir,
mas estava destinado.
Destino é duvidoso,
até mesmo no passado.
Meus pais nasceram aqui,
mas fui em outro estado.
Acho que, na verdade,
eu tive muita sorte.
E se nada me faltou,
pensei até ser trote.
Tantas pessoas boas,
e isso virou meu norte.
Nunca vou me esquecer,
tá guardado bem aqui.
Aquecer das memórias
faz a gente refletir.
Sorte de boa amizade,
a menor dor é partir.
No fim, vou caminhando,
sem pensar em desistir.
Os sonhos são maiores,
não se pode resistir,
pois o motivo maior,
os meus, espera aplaudir.
MÃE MANSA E HUMILDE DE CORAÇÃO
(Simone Araújo)
Vou contar uma história,
relatos de um amor,
falar de uma mulher,
um ser de grande valor.
Ela é muito valente,
cheirosa como uma flor.
O seu nome é Helena,
sobrenome resistência.
Com sua simplicidade,
sempre teve paciência.
Mesmo nas dificuldades,
demonstrava sapiência.
Guardo ainda na memória,
lembro-me de mim criança,
de um tempo bem difícil,
mas havia esperança.
Mãe sentada na calçada,
mergulhada na lembrança.
Tinha dias que não tinha
direito o que comer.
Ela olhava pro céu,
orava pra Deus prover.
Milagres aconteciam,
e surgia o que fazer.
O tempo foi se passando,
assim ela nos criou.
Com muita dignidade,
amor nunca nos faltou.
Hoje, com cabelos brancos,
vê os frutos que plantou.
E agora, já velhinha,
nos dá ainda lição.
Com uma fé fervorosa,
guardada no coração,
se sente realizada
vendo nossa união.
Com setenta e um anos,
um câncer ainda enfrentou.
Em meio à pandemia,
essa notícia chegou.
Para surpresa de todos,
ela que nos acalmou.
Hoje, completa três anos
que ela está curada.
Pra honra e glória de Deus,
essa história é contada.
Sou grata ao Senhor Deus
pela minha mãe amada.
Muito gratificante fazer parte desse projeto, meu primeiro cordel... espero melhorar nos próximos! Obrigada, mais uma vez, pelo convite professor Gilberto
ResponderExcluirFiquei muito feliz com sua exitosa participação e ajudas pontuais.
ExcluirUm projeto maravilhoso. Foi uma prazer participar, aprender e vivenciar momentos com pessoas incríveis. E além de tudo, publicar meu primeiro cordel♥️. Obrigada, amigo Gilberto, pelo convite e pelas contribuições.
ResponderExcluirO prazer foi todo nosso. Foram significativos os resultados alcançados! - Gilberto Cardoso
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