ÓDIO ÀS MULHERES
Deparo-me com uma folha completamente preenchida. No alto, uma gravura da Conferência de Berlim, de 1884, onde se definia a partilha da África. Homens sisudos, reunidos ao redor de uma mesa, decidiam o futuro de milhões de pessoas. Nenhuma mulher à vista.
Hoje em dia, sabemos que a opinião feminina deve ser considerada, mas, naquela época, o aceitável era que a mulher não passasse da cozinha. Estar presente em decisões importantes era impensável.
Convivo com uma representante da espécie humana e posso afirmar, sem hesitação, que somos nós, homens, os maiores causadores dos problemas do mundo. Basta olhar para a história: guerras, invasões, dominação – todas lideradas por homens. Ainda assim, a mulher foi estigmatizada como cúmplice da serpente, como a que embebedou o pai para gerar filhos, e por aí vai.
Acredito que a verdadeira luta pela emancipação feminina deveria começar pelo boicote aos templos religiosos. Nada de missas ou cultos onde, sutil ou explicitamente, se reforça a superioridade masculina. Alguém pode até me chamar de "manicaca", dizer que devo ver o lado dos homens. Mas a análise fria de um tema tão sério não precisa passar por nenhuma reafirmação da masculinidade.
A ideia de que a mulher é inferior está tão profundamente enraizada que muitas ainda repetem versículos bíblicos que as colocam em posição de submissão. Eva, nossa representante ancestral, já carregava essa culpa no corpo e na alma – uma discriminação que perdura até hoje.
Sinceramente, não entendo como tantas mulheres seguem os ensinamentos bíblicos, considerando que se trata de um livro essencialmente misógino. Basta notar: não há sequer um livro bíblico escrito por uma mulher. Fico imaginando que tipo de cegueira voluntária é essa de aceitar tais textos como se fossem ordens divinas. Santa paciência!
A mulher que defende esse Deus patriarcal está, na prática, dizendo ao mundo que concorda com o que está escrito em Coríntios 14:34-35:
“As mulheres devem guardar silêncio nas reuniões da igreja. Não lhes é permitido falar. Devem estar submissas…”
Mas hoje, elas falam, cantam, pulam, suam, esperneiam e gritam – porque, afinal, valem mais um dízimo. É uma concessão calculada dos homens deixá-las participar desses momentos. Será que não está na hora de reescrever a Bíblia?
Timóteo 2:11-12 diz:
“A mulher deve aprender em silêncio e com toda submissão...”
Gênesis 3:16 acrescenta:
“Multiplicarei grandemente seu sofrimento na gravidez; com dor você dará à luz filhos. Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará.”
Esse Deus que muitos comercializam em troca de dízimos ainda serve de sustentação à misoginia. Só não enxerga quem não quer.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 30.04.2025 – 14h26min
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