sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

RANHURA – Maria Goretti Borges

 


Ranhura 


Que unidade de medida nos distancia do bem e do mal? O que move intensos, profundos e infindáveis mecanismos e desejos de ascendência de uns sobre outros, de constatação do meu eu - cultural, social, econômico e dogmático - como superior? Que segredos ocultos guardam essas pessoas, quais substâncias as compõem? Há algo de incompreensível, de mistério a permear os métodos e diretrizes do Deus inspirador desse Eu, condutor do espectro da superioridade; é o que nos faz crer.

Qual a dimensão da faixa que nos separa do nosso próximo? Seja nos lugares mais remotos, de dimensão minúscula ou continental, grupos atuam demarcando territórios, instituindo fronteiras, movidos pela sede de poder, intolerância, falta de empatia e aceitação do outro. Torna-se necessário que, nos mais diversos organismos sociais, mesmo nas menores células, se propague a desmistificação de verdades absolutas, atentando-se para a necessidade do fortalecimento da identificação, do pertencimento e das causas inerentes às comunidades específicas e aos segmentos sociais que as compõem.

A identificação e o reconhecimento dos múltiplos discursos embasam o enfrentamento, a desconstrução, mediante diálogo, de conceitos impregnados de preconceitos, entrelinhas recheadas de intencionalidades, cite-se: a naturalização da supremacia de uns em detrimento de outros. O reconhecimento em geral, campo mais amplo e em particular – eu, comunidade e indivíduo - traz em si a possibilidade do diálogo com o contraditório, compreensão social e política, uma via de sobrevivência.

O que o povo brasileiro frequentemente assiste no Congresso Nacional se notifica perfeitamente como discursos evasivos, com propósitos escusos. A percepção do esvaziamento de argumentações, inclusive, sem adequação aos fatos, se torna evidente quando dos questionamentos de nossos senadores em algumas arguições. Do esvaziamento da retórica, surge o simplismo intencional que fundamenta e materializa o discurso de poder, dominação e consolidação do status quo.

Com a aproximação do Natal, nascimento do menino Jesus, acende-se a clareira da reflexão sobre a extraordinária importância da passagem de um ser iluminado e de tantos exemplos deixados por meio de suas parábolas, gestos e ações. A vida é um caminho sem retorno, o que não nos impede de continuarmos na caminhada, sempre em frente, conscientes das curvas sinuosas, vielas transversais, mas, com espírito renovado e confiante na mensagem da paz e harmonia entre os povos. Para esse Natal, desejo que: confiantes num processo de restauração, possamos nos espelhar na – Ranhura – técnica japonesa de recuperação de objetos quebrados em obras de arte. Colados, porém, inteiros, que estejamos numa marcha permanente de reentrância com os propósitos de Jesus!


Maria Goretti Borges 



39 comentários:

  1. “RANHURA” é uma reflexão exitosa sobre a natureza humana, a sociedade e a busca pelo poder. O que nos distancia do bem e do mal? O que motiva a busca por superioridade em vários aspectos da vida? O texto dá pistas seguras:
    Aborda a questão das fronteiras, destacando a intolerância e a falta de empatia que muitas vezes acompanham essas divisões; enfatiza a necessidade de desmistificar verdades absolutas e fortalecer a identidade e o pertencimento dentro das comunidade; discute a importância do diálogo e do reconhecimento de múltiplos discursos para enfrentar e desconstruir preconceitos; critica discursos evasivos e argumentações vazias.
    Como poeticamente sugere o texto, que possamos nos inspirar na técnica japonesa de “Ranhura” para restaurar o que foi quebrado e continuar avançando. Parabéns, MGB, e feliz reconstrução natalina para a autora e seus leitores – Gilberto Cardoso

    ResponderExcluir
  2. Gente, sem palavras para comentar essa analogia de tão bem feita, precisa, melhor que a obra.

    ResponderExcluir
  3. Excelente texto. Mensagem pontual e atual. Que todos possam juntar seus cacos, colá-los, fazê-los resistir a infortúnios do porvir!...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, professor! Resistamos ….

      Excluir
  4. O importante é decidir, como diz Cora Coralina… é essencial, apesar das ranhuras humanas, seguir sempre!

    ResponderExcluir
  5. Goretti nos propõe uma excelente reflexão nestes dias ainda tão polarizados, parabéns vou compartilhar com amigos.

    ResponderExcluir
  6. Muito obrigada, feliz que tenha gostado! ❤️

    ResponderExcluir
  7. É possível recuperar o que foi quebrado e nos tornar um belo vaso! Parabéns, seu texto é bem reflexivo Goretti. Excelente!

    ResponderExcluir
  8. Que reflexão! De cacos às ranhuras sejamos e que a transformação seja plena pra todos nós. Parabéns por mais um belo texto.

    Joseni

    ResponderExcluir
  9. Parabéns por mais esse belo texto. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Josenir, minha querida, muito obrigada pelo incentivo e carinho, feliz natal 🎄

      Excluir
  10. Que as nossas ranhuras nos sirvam para o nosso engrandecimento pessoal.Excelente reflexão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo, que os anjos digam amém! 🙏

      Excluir
  11. Que possamos sim, nos inspirar em Jesus, que veio para unir, unificar pelo amor. Assim, como a técnica japonesa, Jesus seja em nossas vidas, em nosso meio a cola que uni cada ser e nos torna essa obra de arte que Deus, nosso pai, assim nos criou. Texto maravilhoso, professora Goretti! É sempre um prazer fazer a leitura. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada por enriquecer o texto com um belo e oportuno comentário! Que Deus nos abençoe 🙏

      Excluir
  12. Goretti, minha amada irmã! Que texto maravilhoso e profundo! Muito embora eu acho difícil lubrificar as nossas ranhuras, mas mesmo assim a gente vai levando a vida. Parabéns!

    ResponderExcluir
  13. Isso mesmo, sempre em frente e com otimismo! 😘

    ResponderExcluir
  14. Que texto maravilhoso, atual e entusiasta, que sigamos como errantes e esperançosos, em busca das ranhuras de nossas almas.

    ResponderExcluir
  15. Muito obrigada! Isso mesmo, esperançosos, sempre e confiando no poder do bem. Feliz Natal 🎄

    ResponderExcluir
  16. Parabéns professora pelo excelente texto. Sigamos em frente nessa rápida experiência repleta de obstáculos que é a vida. Feliz Natal.

    ResponderExcluir
  17. Muito obrigada, meu amado amigo, professor Domingos! São muitas vivencias, sempre em frente! ❤️

    ResponderExcluir
  18. Parabéns, Goretti! Amei seu texto! Receba meu abraço e votos de Feliz Natal, Lúcia Eneida

    ResponderExcluir
  19. Muito obrigada, Lúcia Eneida! Agradecida pelo seu comentário, Feliz Natal 🎄

    ResponderExcluir
  20. Adorei, maravilhoso! Que possamos nos espelhar e viver💕🙌👏👏👏👏👏👏👏

    ResponderExcluir
  21. Muito obrigada, minha querida Siomara! Feliz Natal 🎄

    ResponderExcluir
  22. Parabéns pelo texto, excelente reflexão! Feliz Natal!

    ResponderExcluir
  23. Minha madrinha tem muitos talentos, parabéns pelo excelente trabalho e pertinente reflexão, tão necessária não somente somente no período natalino, mas todo o ano! Um abraço. Att. Daniel Celeste.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A recíproca é verdadeira, meu afilhado é muito talentoso! Que Deus nos proteja, Feliz Natal 🎄

      Excluir
  24. Que maravilha me deparar com essa reflexão na véspera de Natal 👏 Parabéns, Goreti, que possamos olhar com individualidade (e não individualismo) para as partes sem esquecermos da grande obra que é a junção do todo.

    ResponderExcluir
  25. Que maravilha me deparar com essa reflexão na véspera de Natal 👏 Parabéns, Goreti, que possamos olhar com individualidade (e não individualismo) para as partes sem esquecermos da grande obra que é a junção do todo. Forte abraço! Daura.

    ResponderExcluir
  26. Muito obrigada, maravilhosa Daura! Que Deus continue te abençoando e fortalecendo cada vez mais os seus dons!
    Um beijo 😘

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Texto muito bom, nos proporciona uma excelente reflexão, parabéns!
      Júnior

      Excluir
    2. Muito obrigada 😍

      Excluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”