domingo, 23 de maio de 2021

FRANCISQUINHA CONFESSOR: A PIONEIRA DO CORDEL NO TRAIRÍ POTIGUAR

 

Maciel Sousa (neto da poetisa), Francisquinha Confessor (aos 98 anos) e o poeta Gilberto Cardoso (foto tirada em 2012)

A PIONEIRA DO CORDEL NO TRAIRÍ POTIGUAR

Pesquisando sobre as Mulheres Cordelistas Potiguares deparo-me em meu acervo com um cordel da poetisa Francisquinha Confessor, natural de Japi onde nasceu a 22 de setembro de 1913. Folheto este, publicado sob o nº 39, pela FJA no Projeto Chico Traíra, no ano de 1998 e sendo citado como sendo o primeiro trabalho da autora a ser publicado, mesmo ela estando produzindo e escrevendo seus versos desde 1932; o entra naquela tese de que a literatura de cordel e/ou os folhetos populares, não era coisa para Mulheres fazerem e nem publicarem. A pioneira, MARIA DAS NEVES BAPTISTA PIMENTEL, natural da Parahyba, publicou o seu primeiro cordel – O Valor da Honestidade ou O Viulino do Diabo - usando um pseudônimo masculino, Altino Alagoano, em 1938. Para minha surpresa, encontro no folheto da Francisquinha dois cordéis: Minhas Inspirações e Meus Pequenos Versos. Este último tem como sub-título: Lembrando 31 de Dezembro de 65 ou A Festa de ano em Nova Floresta, com data de escrito no dia 1º de janeiro de 1966. Se alguém por acaso tenha outras informações, para mim isto caracteriza que a poetisa Japiense – FRANCISCA DE OLIVEIRA CONFESSOR – é a pioneira em cordel na região do Trairí do RN. Até que me provem o contrário.

(Kydelmir Dantas, Nova Floresta, 23/05/2021).



A FESTA DE ANO EM NOVA FLORESTA

EM 31 DE DEZEMBRO DE 1965

Autora: Francisquinha Confessor


Hoje é Dia de Ano,

Ontem foi véspera do dia,

Viajei com alegria,

Bom destino e grande plano.

Falando assim me ufano,

Gozei uma grande festa

Na cidade Floresta

 A nossa festividade.

Hoje, lembrança e saudade,

É somente o que me resta.


Estou carpino² a saudade,

Daquela gente querida.

Oh, que classe decidida

De tanta capacidade.

Gente de sinceridade,

Onde mora a simpatia.

Desta gente de valia

Eu não posso me esquecer.

Ontem, com tanto prazer.

Hoje, amargura crucia.


Minha festa predileta,

Poesia de viola.

Para mim a grande escola,

Repente, improviso, poeta.

Embora que pela seta

De cupido, eu sou ferida.

Mas tenho prazer na vida,

Onde gozo a simpatia,

Fico sempre em harmonia,

Da poesia querida.


Tive um grande prazer

Nesta viagem que fiz.

Graças a Deus, fui feliz,

Vi quem eu queria ver.

Fiz a saudade morrer,

E a mesma vive comigo

Hoje aqui em meu abrigo,

Me serve de companhia,

Juntamente a poesia,

Arrimo do meu castigo.

Daquela terra florida

Ouvi os grandes poetas,

Com suas músicas completas

Da Poesia querida.

Poeta, alma da vida,

Assim presa uma alma tem.

Joga o laço, chama e vem,

Com sua força sadia.

Com gesto de simpatia,

Traz sempre preso um alguém.


João Caetano e Simião,

Cotinha, gente de fé.

Davi Nogueira e José

De grande inspiração,

Que qualquer mágoa consola.

Quando pega na viola

É uma tranquilidade.

Por isso aquela saudade

O meu pranto desenrola.

Seus irmãos estou lembrando,

Alair, Dimas, Elias.

Seus sambas e poesias

Aqui estou recordando.

Fico sempre aguardando

Se um dia aqui vai chegar.

Minha choupana, meu lar,

A você serve de abrigo.

O prazer vive comigo

De aqui os aguardar.


Oh! Que gente delicada,

Não esqueço de seu João,

Zé Caetano, Simião,

Com sua face corada.

Bonito jardim de fada,

Abrindo sua corola.

Seu trinado de viola

É um pássaro gorjeando.

Saudades suavizando,

O seu verso é uma escola.

E não esqueço Cotinha

E o grande Davi Nogueira,

Com sua musa altaneira,

Simião fruto da vinha.

Poeta de alta linha

Da poesia um alento.

Não me sai do pensamento

Seu verso de simpatia.

Tem força de poesia,

Que me expressa sentimento.


Foi imenso meu prazer,

A noite véspera de ano.

Com ordem do Soberano,

Assim eu posso dizer.

Aqui fico a escrever,

Poesia me controla.

Abrindo sua corola,

Me orvalha o coração.

Com José e Simião,

Fiquei aos pés da viola.


Foi uma noite de rosas

Ao lado dos Violeiros.

Aqueles versos altaneiros,

Com poesias saudosas

Aquelas frases garbosas,

Nunca mais esquecerei.

José, Davi, Simião,

Cotinha e seu João,

Que de bom gosto escutei.

Ponto final me convém,

Ainda me recordando,

Um verso de quando em quando,

O meu pensamento tem.

E não esqueço a quem,

Lhe trata com simpatia.

Me expresso na poesia,

Pode falar quem quiser,

SER POETA É MEU MISTER

Falo assim com garantia.

E aqui, com pensamento

Peço desculpas também.

Cada um dá o que tem,

Expressar o sentimento.

Mando nas asas do vento,

O meu abraço saudoso.

No trinado mavioso

De um querido passarinho.

Lembrando os sons do pinho,

Teu verso melodioso.


Fiz meus versos sem alentos

Em sinal de gratidão.

ENCHENDO MEU CORAÇÃO

De altivos pensamentos.

Inspirações, sentimentos,

Tudo eu posso colher.

Nestes versos posso ver

O destino de meus planos,

E ENQUANTO EU VIVER

Não esqueço os Caetanos.


Japi (RN), 01 de janeiro de 1966.

 * Os versos em caixa alta representam sugestões do pesquisador Kydelmir Dantas para trechos meio apagados na versão impressa.

¹ "Carpino" - Carpindo.

 

 



 

 

 

 

 

 






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