DESILUSÃO
I
Agora é que estou vendo
Como tenho agido errado
Desde que abandonei
O lugar que fui criado
Até hoje eu não combino
É culpar só o destino
Tem mais cúmplice do seu lado.
II
Encontrei outros suspeitos
Com minha investigação
A cabeça é uma delas
O outro é o coração
Tenho provas incontestáveis
Os três são os responsáveis
Por esta situação.
III
Foram vocês que aceitaram
Que eu deixasse o aconchego
Abandonasse a família
O lazer e o sossego
No auge da mocidade
Pra ir pra outra cidade
Atrás de diabo de emprego!
IV
Era pra eu estar aqui
Lutando como lutava
Comendo feijão macassa
E mocotó de boi com fava
Pra quê eu fui entrar nessa?
Uma tabocada dessa
Há tempos eu não levava!
V
Tudo o que o destino apronta
Tu, cabeça tonta, aceita
E tu, coração de pedra,
Não discorda nem rejeita
A culpa cai sobre os três
E cada um de vocês
Tem atitude suspeita.
VI
Iludiram um pobre moço
E o levaram embora
Judiaram do coitado
Vinte anos lá por fora
Ninguém mais conhece ele
Que diferença daquele
Pra porcaria de agora.
VII
Olhe aí, cabeça tonta,
Nem de longe se parece
Levastes um caboclo forte
Quando é agora aparece
Com este velho cansado
Visivelmente esgotado
Freguês do INPS.
VIII
Levaram um moço saudável
Tão corajoso e disposto
Trouxeram um velho cansado
Cheio de pregas no rosto
Que traz no olhar tristonho
A desilusão de um sonho
Que transformou-se em desgosto.
IX
Neste corpo ainda existe
As marcas da mocidade
Onde um passado brilhante
Foi reduzido à metade
Vítima desta malvadeza
O que plantou foi tristeza
E vive de colher saudade.
X
Não culpo só o destino
Por tudo que ele fez
Cabeça e coração
Culpados foram vocês
Se vier algum castigo
E me perguntarem eu digo
Tem que dividir com os três.
XI
Agora cheguem-se pra ele
Ponham os joelhos no chão
Como reconhecimento
Implorem, peçam perdão,
Provando assim que erraram
Iludiram e estragaram
A vida do cidadão.
XII
Quando a cabeça não pensa
O coração vira ingrato
O destino leva a culpa
De cumprir-se naquele ato
No meu caso, foram vocês,
Por isso eu acho que os três
Precisam pagar o pato.
XIII
Quando novo, a gente pensa
Que nunca, nunca envelhece
Que as forças não diminuem
Que o corpo nunca adoece
Que o coração nunca falha
Mas, por trás desta muralha,
Nem sabe o que acontece.
XIV
Esta é a diferença
Que na vida a gente alcança
Quando a pessoa é jovem
Pensa que aquela sustança
Jamais desaparecerá
E nem que um dia chegará
Essa terrível mudança.
XV
Que os três são responsáveis
Por parte do grande estresse
Cabeça e coração
E o destino acontece
Que esta grande diferença
Velhice, ruga e doença
Quando esse trio não pensa
Aí o corpo padece.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popularíssimo DAXINHA.
17/02/1998.
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
Maravilhoso!!
ResponderExcluirSó gratidão, Gilberto Cardoso dos Santos!!
Muito bem elaborada a poesia Desilusão.
ResponderExcluirO Brasil perdeu um excekente poeta.