TUDO
VERDADE
Decidi não mais falar de algo fruto da imaginação.
Diante dessa minha decisão fiquei ontem no alpendre do sítio querendo catar uma
verdade. Uma galinha aproximou-se e disse-me que estava um pouco tristonha
porque o galo não mais queria namorá-la. Falei com o galo e ele disse-me que
estava se aposentando e que uns amigos dele, frango ainda, estavam só esperando
a permissão dele para atuar junto àquela de pescoço pelado. Foi quando percebei
que a galinha reclamante não era a mais bonita do terreiro. O galo ficou por
ali pertinho de uma que estava com pintos, mas não rolou. Tentou aproximação,
sofreu umas bicadas e foi embora. A de pescoço pelado também foi à procura de
uma lagarta para se alimentar. Chegou compadre Caetano dizendo que estava
conversando com os animais. Estranhei e perguntei-lhe como havia sido a
conversa. Conversei com os porcos, disse ele, e continuou: eles disseram que
estavam com tédio de viver sem lazer. Apenas comiam e procriavam. Nunca saiam
para passearem. Resolvi deixar Caetano falando com roxim, um burro que tenho, e
saí para almoçar. No caminho do almoço resmunguei como é que Caetano não tem
vergonha de mentir dizendo que falou com porcos. Galinha, galo e jumento ainda
se acredita, mas com porcos, só mesmo Compadre para mentir desse jeito.
Sentei-me à mesa e recebi um bom dia de uma vasilha que se ofereceu para se
despejar no meu prato. Eu já lhe disse que não gosto de farinha, e que você só
está na mesa porque às vezes chega visita que gosta, mas por mim você ficaria
lá na despensa. O feijão deu risadas juntamente com o arroz e a carne, e ainda
ficaram dizendo: e aí branquelo! Vá soprar num ventilador kkkkk. Ficou difícil
mantê-los na boca de tanto riso que expressavam. A farinha ficou por ali, mas
foi prestigiado por Caetano que, mesmo sem ser convidado, almoçou comigo depois
que soube das fofocas que roxim tinha para contar. Perguntei-lhe quais as
novidades que Roxim disse, e Caetano me contou, em segredo, que Roxim está
estudando para ser cavalo. O curso demora três anos, e um requisito para a
diplomação é relinchar em vários tons, e que zurrar, como ele tem feito até
agora, não lhe dá diploma nem de égua. Almoçamos e a sobremesa chegou correndo.
Eram bananas gritando: eu, eu... Mangas deram rasteira nas bananas, mas findei
comendo rapadura com coco. Caetano foi quem comeu quatro bananas com casca e
tudo. Nunca vi ninguém gostar tanto de banana daquele jeito. Foi embora com a
barriga gritando: um sanitário por favor! Não sei o resultado final de Caetano,
mas o meu é que consegui cumprir a promessa de não mais mentir.
Heraldo Lins
Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 22/01/2021 – 17:17
84-99973-4114
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”