Vagas Memórias
Os
espaços que me remetem a memórias de leitura são poucos, porém, significativos.
Os causos, contos, registros relatados nas casas que frequentava, poucas, para
mim eram bastante atrativos e interessantes. Alguns, guardo comigo até hoje.
Curiosa, assim me defino. Sempre gostei de conviver com pessoas mais velhas,
principalmente para ouvir histórias.
Lembro-me,
com carinho, de uma senhora, Tá Nené, sempre que podia passava tardes com ela,
ouvia longas histórias de pessoas que não conhecia. Herotildes, esse nome ficou
registrado na minha memória de tanto que Tá Nené falava. Essa pessoa, nunca vi
e nunca verei. Os contadores de histórias foram e são os primeiros livros a que
temos acesso, e para muitos os únicos. São também, sem sombra de dúvida, a mais
importante biblioteca, pois chega a todos, indistintamente. Podemos associar a
biblioteca virtual dos nossos dias aos contadores de história de outrora. Os pais
e professores continuam as suas missões apesar do advento da internet ou aliados a ela. Esses personagens são muito importantes, são responsáveis diretos pela propagação
e interesse pela leitura.
A
música também despertava em mim um grande interesse. Sempre que ouvia uma
música procurava saber o significado das palavras. Ex.: Álibi (1979),
composição de Djavan. “quando se tem o álibi de ter nascido ávido e convivido
inválido mesmo sem ter havido...”; outro
exemplo: Qualquer Coisa (1975) composição de Caetano Veloso. “você já está pra lá
de Marrakesh... nem a sanha arranha o carro nem o sarro arranha a Espanha meça
tamanha...”. Sempre gostei das entrelinhas, do “jogo do esconde”, da busca,
da descoberta. A obviedade cansa rápido e a transparência ofusca a beleza,
artisticamente falando. Quando adolescente, gostei de uns versos do livro de
Menotti Del Picchia. “ Ai! Coqueiro de mato! Ai! Coqueiro de mato! Em vão
tentas os céus escalar na investida... Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato...
Ai! Tu sempre serás um coqueiro de mata... Ai! Eu sempre serei infeliz nessa
vida!”. O Juca sempre sonhando e ao mesmo tempo se conformando com as
situações. Uma alma sensível lê a natureza fazendo um paralelo consigo mesmo.
No caso de Juca Mulato, contrariando alguns pensadores, nem todo sonho é
possível. O que de forma alguma tira a beleza do sonho! O reconhecimento de
Juca Mulato das condições que lhes eram impostas não o proibiam de sonhar e ao
mesmo tempo de ser realista. Pensando bem, somos todos Juca Mulato!
Gosto
da literatura oriental, histórias muito tocantes, bastidores da vida humana, o
avesso da alma. No que se refere à literatura oriental, destaque-se, em
particular, as mulheres descritas. Em A Cidade do Sol o escritor Khaled Hosseini
entrelaça a história de dois personagens, Mariam e Laila num enredo
emocionante, de ir às lágrimas. Falar de Dostoiévski, é redundância. Voltando
para o início da conversa, posso afirmar que a referência mais importante que
tive quanto à leitura foi a minha mãe, principalmente por valorizar a educação
formal. Lembro-me dos folhetos de cordel que ela lia para mim. Exemplo: Lourival
e Irene; Valdemar e Terezinha... dentre outros. Histórias de amor, porém, com
finais tristes. O diferencial era João Grilo, que nos levava a gargalhadas!
Quando criança fazia algumas chantagens, tipo: só faço ou permito isso se você
contar histórias. Coitada, já não tinha mais como inventar tantas histórias!
Gostaria de ter sofrido maiores influências e incentivo à leitura, no entanto,
o meu meio familiar não dispunha de uma
boa educação formal.
Moacyr
Scliar, numa de suas entrevistas fez a seguinte afirmação: o maior legado
deixado para a humanidade, foi um feito do seu povo (judeu). Que foi exatamente
um livro, a Bíblia Sagrada. Assim como Moacyr Scliar, tantos outros concordam
que os livros são os maiores legados de um povo, a luz da humanidade! Meu primeiro
acesso direto aos livros se deu no ano de 1972, quando ingressei na escola, aos
oito anos de idade. Minha formação escolar foi sempre precária, com lacunas e,
consequentemente a minha formação leitora. O livro é sempre uma boa companhia,
espero continuar me apaixonando pelas histórias e ampliando esses espaços em
mim.
Ilustre professora Goretti, parabéns. Seus préstimos, na educação, junto a sociedade são inapagáveis. Acredito que todos que experimentam, posso assegurar, usufruir do privilegio de trabalhar sob a sua batuta, ganha excelente referência profissional/intelectual.
ResponderExcluirQuerida Gorete, que belo relato o seu ��! Quando você fala da sua busca por léxicos desconhecidos me vi em você. Ao ouvir as mesmas canções que lhe causaram estranhamentos, eu também senti o mesmo e recorri a dicionários. Ainda hoje faço isso. Gosto do nascimento dos significados.
ResponderExcluirJá percebi sua dedicação aos livros. Constantemente lhe vejo com literaturas contemporâneas, biografias entre outras obras que eu me identifico. Um apaixonado por livros se "metalíngua" quando encontra outro.
Parabéns pela belíssima contribuição que sua existência tem dado a humanidade.
Que bom que vc gostou amiga Luzia, te admiro muito, obrigada pela palavras de Carinho!Um bjo
ExcluirGilberto Cardoso Dos Santos, reunindo sempre novos escritores, apaixonados pela arte literária. Me identifiquei com as influências literárias orais, com o apreço ao Oriente, que é deveras fascinante, e o bom gosto musical da professora. Que maravilha conhecermos mais de perto a memória dos mestres que nos influenciaram em sala de aula. Lembrei de suas aulas maravilhosas, e de um filme que a professora disponibilizou para nossa apreciação: Sempre amigos. Muito inspirador.
ResponderExcluirParabéns Gorete., acervo literarario, conhecimento pedagógico, político, filosófico, visão ampliada e crítica de nossa convivência no mundo terreno.
ResponderExcluirFeliz por você. ����
Parabéns, profa Maria Goretti Borges, me pego a imaginar; "minha formação escolar foi sempre precária, com lacunas.." , caso tivesse uma formação sem precariedade e sem lacuna, vou pensar em responder o que a sociedade ganharia, somando a ti, mais qualificação. Excelente epítome do que pode vir por ai do vosso perfil/intelectual.
ResponderExcluirMainha, parabéns pelo texto, ficou incrível! Uma leitura leve e gostosa. Obrigada pelo estímulo à leitura e escrita! Sou sua fã!!!!
ResponderExcluirObrigada Juliana, te amo, bjo!
ExcluirParabéns Gorete, tudo que achei já foi falado, parabéns.
ResponderExcluirGorete é a personificação da gentileza. A conheço há menos de 3 anos e desde o princípio admiro-me com tamanha sensibilidade e presteza. Assim como Gilberto, a vejo sempre com livros às mãos. Sutilmente percebo que existe uma preferência por biografias. Eu também tenho essa predileção...mas a polidez da personalidade dela é realmente algo admirável. Bem que ela poderia nos dar umas aulas da mansidão, temperança e serenidade. Gorete é uma pessoa admirável - Luzia Pessoa
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