segunda-feira, 10 de março de 2025

ORDEM NA DESORDEM

 


ORDEM NA DESORDEM


Há dias em que me pego questionando a razão de viver. Para que nascemos? Essa é a pergunta sem resposta que acompanha a humanidade desde que o ser humano olhou para o próprio braço e se perguntou: o que tem aqui dentro? Não o rasgou para ver o que hoje chamamos de veias, ossos etc., devido à imposição da dor — essa sargento que dita as regras da autopreservação.


Acredito que, se houvesse um Ministério do Suicídio, onde as pessoas pudessem optar por deixar de viver, existiriam filas e mais filas de indivíduos querendo dar cabo da própria existência. Mas é proibido se matar ou estimular outros a fazê-lo.


Segundo a lei, é crime deixar a vida por vontade própria, mas não é crime sofrer as dores do câncer, suportar uma deficiência física com seu all-inclusive de discriminações e dificuldades, nem ficar sem ter o que comer. A lei é tão suicidante quanto o próprio ato de se matar.


Na Idade Média, se alguém não aceitasse trabalhar até a exaustão e optasse por finalizar o sofrimento por conta própria, sua família era torturada. A única forma para mantê-los sendo explorados era com essa ameaça.


Depois, percebeu-se a necessidade de um vigia para a própria vontade — e que fosse de baixo custo. Então criaram deuses para vigiarem a consciência dos desesperados, com o slogan de que a pior vida ainda é melhor do que morrer e ir para o inferno. Assim, tornou-se mais fácil formar um exército de esfomeados prontos para continuar trabalhando em nome da salvação da alma — outra invenção extraordinária. Criaram até um manual, com histórias ameaçadoras, para ser estudado nas sinagogas e, assim, inibir esses pensamentos desviantes.


Todos devemos pensar da mesma forma, ou seja, temer um ser que castiga aqueles que optam pelo livre-arbítrio. Seja artista, pedreiro... todos devemos ter a mesma consciência de que existe algo além do além, vigiando até nossos pensamentos. O único lugar onde há seres totalmente libertos dessa história da carochinha é em um berçário. Lá, já fomos livres para fazer o que bem entendêssemos, mas ainda não sabíamos qual decisão tomar.


Parece que essa indecisão ainda nos acompanha. Vivemos na esperança de que o amanhã seja melhor, mesmo com a ameaça da terceira guerra mundial, que nunca chega e nunca chegará, mas serve como uma forma de manter a humanidade entretida. Os Javés das presidências e tantos outros "Javezinhos" de cargos subalternos estão a serviço do capital econômico e religioso.


É preciso manter essas pessoas no poder para garantir que o medo permaneça por perto. Assim, todos do exército de reserva — que paga dízimo, imposto, pedágio, boleto etc. — continuam sem se rebelar. Essa é a estratégia para manter a ordem mundial nesse padrão que achamos normal. E, se não for assim, corre-se o risco de um Ministério do Suicídio passar a ser promessa de campanha, tornar-se realidade e, depois disso, o caos se instalar — pois a base da pirâmide social não mais aceitará sustentar o clero e a burguesia.


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal, 10 de março de 2025 – 08h42min

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