POR UM FIO
A luta por uma democracia
Está presa por um fio:
Fio do tempo
Fio de um tecido
Que fio a fio
Se trama sua malha
Fio dos anos da cor de chumbo
E no fio da navalha.
Agricultores, pescadores, extrativistas
Religiosos, operários, estudantes, sindicalistas...
Não foram poucos os que sofreram
Torturas e prisões ilegais
Desapareceram...
Para nunca mais
Se meterem com a dita-dura
A democracia em sua forma
Real, leal, tão pura
Ainda hoje procura...
Por seus filhos
Seus homens e mulheres
Que sumiram no emaranhado dos fios
Do pau-de-arara
Da vala rasa
Do choque-elétrico
Dos telefones, sem fio...
Seguindo em desafio
Sob a sombra da história
Sigo tropeçando em fantasmas
Assombrando-me com o som
Dos sobrevoos...
Mesmo assim:
Voo e vou
Juntando os fios da meada
Ligando os fios da estrada
Iluminando as memórias vividas
E não contadas
De nossas vozes sofridas
Silenciadas...
A democracia ainda é frágil
E sei que a justiça
Quando não falha, é lenta
Mesmo assim eu confio...
A opressão ainda se apresenta
Anos e anos a fio!
A arte sobreviverá
A democracia também...
Mesmo estando por um fio!
Bertin Di Carmelita
Marabá-Pará, 20/02/25
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