sexta-feira, 31 de julho de 2020

COMPROMETI MEU FUTURO, FIQUEI PRESO NO PASSADO (autor: Gilberto Cardoso dos Santos)




COMPROMETI MEU FUTURO, FIQUEI PRESO NO PASSADO
(autor: Gilberto Cardoso dos Santos)

Ao amigo Nelson Almeida

Feito Esaú que vendeu
Sua primogenitura
Num momento de loucura
Em que o instinto o venceu
Feito um peixe que mordeu
A isca e foi colocado
Dentro do aquário apertado
De adolescente imaturo
Comprometi meu futuro
Fiquei preso no passado.

Feito Ícaro eu voava
Qual águia, com altivez
Mas do sol da insensatez
Sem pensar me aproximava
Eu, que tão livre me achava
Me vi ao solo lançado
Feito um Crusoé ilhado
Em vão socorro procuro
Comprometi meu futuro
Fiquei preso no passado.

Hoje colho as tempestades
Dos ventos que semeei
Infantil fui, sei que errei
E dei guarida a maldades
Desse tempo, sem saudades
Desejo ser resgatado
Mas me sinto limitado
Por intransponível muro
Comprometi meu futuro
Fiquei preso no passado.

Como Nietzsche descreveu
Na lei do eterno retorno
A consciência, qual forno
Totalmente se aqueceu
E num loop me prendeu
Clamo e não sou escutado
Da cicatriz do pecado
Brota pus e um sangue escuro
Comprometi meu futuro
Fiquei preso no passado.

Você que tem liberdade
Use-a conscientemente
Não proceda loucamente
Fazendo o que tem vontade
Manchei minha identidade
Por causa de um passo errado
Portanto tenha cuidado
Com tudo que seja impuro
Comprometi meu futuro
Fiquei preso no passado.

Espero ansiosamente
Que algum milagre aconteça
Que Deus de mim não se esqueça
Me restaure mais à frente
Que me faça paciente
De algum modo consolado
Que eu me sinta perdoado
E do seu amor seguro
Pois maculei meu futuro
Fiquei preso no passado.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

FAKE NEWS EM SÉRIE


UM DIPLOMA PARA RIBEIRO - Crônica de José Luz da Costa



UM DIPLOMA PARA RIBEIRO

Faz pouco tempo que partiste para nunca mais voltar. No dia de teu último sonho, a cidade saíra do sono entorpecida; os ventos sopravam levando as primeiras nuvens da manhã; as andorinhas flutuavam nos ares; debaixo dos céus os destinos divagavam-se ao ar livre. O Sol não tinha pressa. Nas janelas e portas, olhos sonolentos e lúgubres entreolhavam-se buscando a rua.
A cidade não segurou tua mão, mas continua lembrada de quando tu seguravas a dela, guiando seus lentos passos, e dando segurança à sua juventude...  Foi aquela mão firme e aquela palavra amiga que a mocidade fingiu ignorar e a madurez aceitou como conselho, que proporcionaram alegria, sabedoria e amizade.
Descansaste por méritos e por justiça. Tiveste o sono dos justos. Amavas a vida. Viveste como um jovem. Morreste como um jovem. Muitos choraram por ti, porém não gostavas disto, pois acreditavas que a morte não era o fim, e que permanecemos vivos através das gerações. Hoje, quando a saudade não é mais a lágrima, que cai em silêncio, mas sim a vontade de sentir e falar de ti, sabemos o quão penoso é defrontar a realidade.
Não obstante as intempéries das estações e a longura da jornada, tu sabias que a vitória se aproximava. Mas, em meio às pelejas do combate e aos precipícios da estrada, repentinamente sobrevieram-te os solavancos da tortura sob o signo da morte.
Ela chegou e pensou vencer. Mas fracassou. Pois, sabemos que não ficaste indefeso nem entristecido, enfrentando sem medo o abraço frígido da morte. Seria este o fim da sabedoria colhida através dos tempos? A bondade de teu coração seria aniquilada pela voracidade da morte? De que valeriam então a vida e a memória do homem que defendeu a verdade e amou a liberdade? Não, jamais ela poderia te vencer. No dia de tua partida, estavas sereno, com a expressão tranquila de quem não sofreu, mas apenas adormecera para despertar onde sossegados passeiam os espíritos.
E hoje, quando terminada a luta, vencida a resistência dos desafios, e ficamos de pé para ser condecorados, sentimos o golpe da fatalidade em nossas mentes. Esta ausência a nos arrastar e a nos dominar, mas também que nos grita sinalizando a força do espírito a pairar sobre nós, muito nos ensina, muito nos aproxima, muito nos fortalece.
Era dos ditames dos céus que tu partisses, era da providência divina que tu nos deixasses. Para ti, seria vida nova e alegria; para nós, vida vazia e saudade.
RIBEIRO, com dignidade, és o primeiro de nós a ser pioneiro de outra expedição. Certamente já encontraste o caminho para a Universidade Celeste. Certamente até já te matriculaste como novel na Universidade de Deus.
Contudo, apenas por alguns instantes, é importante que fujas da distância e que venhas até nós para, em meio aos sussurros de corações dilatados, ergamos o troféu maior de nossas conquistas. Certamente não poderia haver alegria maior se não pudéssemos celebrar o êxito da conquista com aqueles que compartilham as trilhas do mesmo caminho.
E agora, na esperança de que não haja mais ADEUS, viveremos mais próximos de ti pela lembrança das coisas imarcescíveis, que tornam a vida plena de significados e não apenas de sombras e silêncios na passagem do tempo.   
E assim, fecha-se aqui o circuito das horas, quando o tempo para e o homem registra a História.
                                              
Zedaluz.
Santa Cruz, janeiro de 1985.


HOMENAGEM AO PROFESSOR RIBEIRO DA ESCOLA QUE O TEM COMO PATRONO





A Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo Integral Professor Francisco de Assis Dias Ribeiro torna pública sua homenagem ao saudoso Professor Ribeiro que, neste mês de julho de 2020, completaria 80 anos. Ribeiro, nome pelo qual se tornou mais conhecido, exerceu destacada atuação docente, em nossa escola, lecionando as disciplinas Português e Francês. Detentor de notório saber nessas disciplinas e vasta cultura enciclopédica, o Professor Ribeiro, foi também poeta, escritor e hábil orador. Como decorrência dessa diversidade de atributos, Ribeiro contribuiu expressivamente para a educação de várias gerações de santacruzenses e trairienses, tendo deixado inestimável legado de competência e compromisso profissionais que certamente se constitui referência louvável para nosso atual corpo de professores que,  hoje, assim como ele, no passado, orienta sua atuação pedagógico-docente para a formação de alunos e alunas protagonistas, auxiliando-os na construção de sua aprendizagem e na descoberta do caminho que os leva ao encontro de suas identidades cidadã e profissional.

Ao saudoso Professor Ribeiro, nossa HOMENAGEM, nosso RESPEITO!

Gestores, professores, funcionários e alunos.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Ao sineiro da mensagem lutuosa: “Os sinos dobram por Ribeiro”



Ao sineiro da mensagem lutuosa: 
“Os sinos dobram por Ribeiro”


Caríssimo Doutor Professor José da Luz, certamente o precoce falecimento do Professor Ribeiro (22/07/1940*-14/08/1984†) pode ser considerado como um dos momentos de maior comoção na história de Santa Cruz.

Na qualidade de um familiar próximo, sendo ele primo carnal da minha mãe, te agradeço profundamente não apenas por me permitir fazer a releitura da sua homenagem póstuma ao Professor Ribeiro, mas principalmente pela oportunidade de também te dizer o quanto as junções das famílias Dias, Ribeiro e Damasceno foram acalentadas naquele dia por esta sua preciosidade literária.

O último conselho que recebi de Ribeiro foi durante uma visita, quando ele esteve internado no Hospital Ana Bezerra.  Estava com a minha mãe, Lindomar Ribeiro Dias. Minha idade era 16 anos e meses. Visivelmente com dores, quase sussurrando, por alguns minutos ele apertou bem forte a minha mão, falou várias coisas, mas uma me marcou naquele instante: Roberto, estude para você passar no vestibular e futuramente poder também ajudar a sua mãe, ela batalhou muito por vocês!

Veio o falecimento, o vazio do luto, passaram poucos meses, veio o vestibular de dezembro de 1984. Minha mãe sempre nos ensinava a rezar em todas as provas para pedirmos que “o Espírito Santo iluminasse nossa inteligência”. Ela também passou a dizer por várias vezes que eu também “pedisse para Ribeiro interceder por mim”, ao realizar o vestibular. Confesso que só pedi ao Espírito Santo, mas não havia como não me lembrar dos conselhos e lições de Ribeiro naqueles dias, principalmente na Redação e na Língua Portuguesa. Deu tudo certo. Pedagogia foi meu primeiro curso e marco na minha trajetória acadêmica. Obrigado, Ribeiro, por tudo o que você fez por sua família. Foram muitos os que contaram o quanto você foi um bom filho, um bom irmão, um bom tio, boa amizade, referência para todos por sua inteligência e por amor aos estudos.

Ao meu pensar e sentir espiritual, depois de tudo o que foi dado como honras e preitos de solidariedade pelos santa-cruzenses, representantes da chamada classe política do Trairi, de outras regiões do estado e da própria capital, autoridades e representantes religiosos, caso pudesse e de forma surreal diria Ribeiro a você: Zé da Luz, Zezinho, após tudo o que ouvi em minhas exéquias, só tenho mais que agradecer a Deus por ter me dado muitos amigos e tantas realizações. Eu, que vim de origem familiar humilde, pude ultrapassar inúmeros obstáculos até chegar aqui. Dê-me a sua homenagem, guarda-a no bolso do meu paletó, pois é ela a que quero para levar nessa viagem. Tenho dito!



Obrigado, Doutor, Mestre e Professor José da Luz, pelos sinos que dobraram por Ribeiro através do deslizar da sua caneta no papel. Não deve ter sido fácil para você expressar tantos sentimentos. O sonido marca a saudade ao nosso coração, contudo parece ainda soar aos nossos ouvidos para nos fazer relembrar do valor de um bom professor e seu legado, ora representado por Ribeiro.

Obrigado, Ribeiro, gerações te agradecem!

Obrigado, Ribeiro! Abençoada seja essa herança genética que me fez amar os estudos.

Em, 24 de julho de 2020.
Roberto Flávio Dias Câmara


quinta-feira, 23 de julho de 2020

TIRE O SEU PRECONCEITO - POEMA


OS SINOS DOBRAM POR RIBEIRO - José Luz



OS SINOS DOBRAM POR RIBEIRO

Parece ter sido ontem. Tu caminhavas pelas ruas e avenidas da cidade, cumprimentavas o povo, o jovem, a criança. Eras um transeunte do dia a ­dia da cidade. Todas as manhãs, a tua voz estridente, comunicativa e a­miga chegava aos nossos ouvidos. Por longos anos, tu permaneceste firme nos microfones da Difusora Municipal. Ainda ontem, tu, com aqueles pas­sos curtos e apressados, cruzavas a praça (palco de polêmicas diversas) e chegavas à Escola Estadual. Teu ofício era ensinar. Eras professor por excelência. Mesmo assim, tu eras mais sábio pela simplicidade do que pelo que sabias. Tua voz era acompanhada de sorriso, e teu sorriso espan­tava o silêncio.
Parece ter sido ontem, quando do alto de carros alegóricos, tu transmitias o calor das campanhas políticas; quando ao cair das noites de domingo, tu cantavas a ave-maria na igreja-matriz; quando dos campeonatos de futebol, tu incentivavas os jovens e divulgavas o esporte; quando dos dias 7 de setembro, tu dirigias os desfiles e informavas da genealogia dos colégios; quando das festas de maio, tu eras o locutor oficial da procissão.
Os anos se passaram. Entraste para a universidade. Tive o prazer, junto com outros ingressantes, de seguir-te na escalada pioneira para o curso superior. Muitos episódios – alegres uns, dramáticos outros – perpassaram o cotidiano de nossa convivência universitária. Teu espírito observador e investigador sustentava-te no tempo, e tua sede de ensinar para saber fazia de ti uma pessoa totalmente atual.
Entretanto, a caminhada de muitos acaba com o nascer do dia. E o destino já não se faz pela vida e sim pela morte.
Sim, parece ter sido ontem, quando a cidade em polvorosa contraiu-se de dor pela morte do filho, e amigo, e estudante, e professor... um homem chamado RIBEIRO.
Manhã serena de agosto, os ventos sopram brandamente. Tu estavas para ser pioneiro de uma nova jornada. Uma jornada onde o tempo não exis­te e o passado já não faz mais sentido.
Após a missa, a tua última missa; após uma caminhada – que mais pa­recia o teu último passeio, a tua última passeata ou a tua derradeira procissão; após o desfile de estudantes, que mais parecia o teu último dia 7, tu seguiste silenciosamente para tua morada final – uma nova cidade para um novo habitante.
De repente o tempo galopou, e tua ausência gerou saudade. Saudade que veio de um, mas que permanece em todos. Não chegaste a ser nem filósofo nem doutor, porém fizeste da vida uma filosofia, e nessa filosofia eras um doutor!
Agora, fica a impressão de que Santa Cruz nasceu quando tu nasceste e que envelheceu quando tu morreste.
Todos voltam para casa enquanto os sinos dobram sua ladainha. Até parece a voz do mestre amigo, comunicando-nos que o AMANHÃ logo virá!
                                                             
* * *


P.S.:  Muitos dirão: “Não se fazem santos em vida, senão depois da morte”.
Para mim, Ribeiro, em vida, foi meu grande amigo e conselheiro, e escutá-lo era o meu autêntico testemunho de respeito.
Agora, com sua morte, cabe a mim registrar esta verdade.

            Zedaluz
            Santa Cruz, 14-08-1984.