POR DEVER DE LEITOR (José da Luz Costa)
Quando se vive no mundo dos livros, ninguém escapa ao fascínio das palavras.
A linguagem flexibiliza o tempo e neutraliza a distância espacial. A linguagem veste e reveste e desveste os sentimentos humanos.
Antes, porém, que eu mude a direção e a intenção deste breve texto, vou me fixar no propósito primeiro de sua elaboração.
Eis aqui, portanto, a sua motivação primordial. Comprei, faz poucos dias, diretamente ao próprio autor, o livro "Crônicas da casa de Maria Gorda", do jornalista santa-cruzense Rosemilton Silva.
E entre uma tarefa e outra, entre um intervalo de aula e outra, fui adentrando as páginas desse livro com cheiro de guardado. Aquele cheiro que caracteriza as coisas boas que se guardam por muito tempo. E tudo nesse livro cheira a guardado. Guardado na cristaleira de memórias desse excelente contador de histórias. Mente lúcida e lúdica, de raciocínio linear, Rosemilton vai tecendo no presente a trama vívida de dias retorcidos e de personagens contorcidas. Pelo peso do tempo. E o contador de ca(u)sos não faz cerimônia, com vocativos nos chama e nos acompanha pelas ruas e becos de Santa Cruz, cruzando com figuras nobres e pitorescas (e outras piturescas, mesmo!). Aqui e ali, provocativo, faz insinuações sutis sobre atos e atores daquele cenário social. Tudo ao gosto da doçura e da lisura.
Com efeito, Rosemilton consegue, numa escrita prosaica mas não arcaica, reconstruir uma aquarela de reminiscências humanas e urbanas que nenhuma fotografia antiga, por si só, jamais nos levaria a um passeio nostálgico e saudável no passado (quase) recente de Santa Cruz.
Fui morador de Santa Cruz em três momentos históricos: duas vezes na década de 1960 e a partir de 1973 até 1995, quando muito triste me mudei para Natal.
Por isso, fica fácil para mim, e para quem assim se vê, reconhecer-se, mesmo estando ausente dos enredos narrativos, como mais um dos personagens dessas Crônicas. Conheci e convivi com muitas dessas figuras humanas repintadas fielmente pelo autor. Não nos mesmos dias, mas em tempos mais tardios.
Pois bem, não me esqueci da promessa lá do início: que seria um texto breve. Muito poderia eu ainda falar e comentar sobre as Crônicas, todavia, como registro de reconhecimento do engenho (da obra) e do talento (do autor), deixo aqui estas minhas palavras de apreço e de aplauso.
Espero que outros leitores possam fazer essa mesma experiência com as Crônicas.
Parabéns, Rosemilton.
Zedaluz.
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