domingo, 30 de julho de 2017

OH, QUE BOBAGEM, AS ÁRVORES NÃO FALAM... - Naílson Costa


OH, QUE BOBAGEM, AS ÁRVORES NÃO FALAM, SIMPLESMENTE EXALAM O PERFUME DAS ROSAS QUE ROUBAM DE SI!

Aquele árvore frondosa, defronte ao Bar do Baixinho, com o seu jeito elegante e discreto de ser e de ficar ali, na sombra agradável de seu silêncio, tem as rosas mais cheirosas de todas. Ela tentava, sem sucesso, confabular no ouvido de minha atenção sempre que por lá eu aparecia. Nunca lhe dei atenção! Ela nada dizia à mesa redonda de meus amigos na hora de nossos brindes barulhentos. Ela ouvia as confidências ditas, as sentenças condenatórias prolatadas nas páginas infiéis das nossas risadas de bar. Ouvia com discrição as estórias verossímeis, extraídas do universo pobre daquela província. E ela nunca silenciou, para mim, na estrada de minhas lembranças o seu segredo não dito. Aquela árvore do Baixinho queria me dizer algo. Sempre quis. Foi ela que me levou hoje, de volta, à telúrica cidade de meus primeiros passos. E fui a Santa Cruz matar a saudade daqueles tempos de outrora, para ressuscitar as minhas boas lembranças e confabular com aquela árvore, que quisera, há muito, dizer-me algo, mas que eu nunca lhe fui atencioso! E fui, e cheguei e olhei àquela árvore linda, que me recebeu como nunca antes recebido, com as suas seivas, os seus galhos, suas folhas e suas rosas a caírem educadamente por sobre a minha presença. Poxa, quanta honra! Sentei-me à mesa posta debaixo de sua sombra única, pedi a Eduardo Couro de sapo a minha cerveja preferida, abri, apurei os ouvidos, escutei seu cumprimento delicioso, bebi todos os prazeres daquela espera e contemplei a grandeza da estátua de Santa Rita, bem à minha frente. Cadê os amigos Ivonaldo, Zé da Luz, Otacílio, Leonardo, Meireles, Baixinho, Zé Lins, Lambão, Willard, Fernando Rola, Bezerril, Pedro Bala, Valmir, Nícolas, Eurípedes, João Alberto, Gildo... onde foram todos com os seus espantos, suas mímicas, confidências, exageros, suas músicas, suas paixões, suas fomes, suas sedes, seus castelos, ... cadê aquelas mentiras deliciosamente frescas? Cadê as calúnias amistosas de morte, nossas risadas e nossas estórias? Não vieram para regar as raízes daquela árvore feliz. E fiquei a sós, eu, a árvore frondosa , a mesa redonda e a ávida cerveja, sozinhos, a costurar os tecidos da alma inesquecível daquele tempo, quando, de repente, um clarão, com formato de auréola gigante, surge assustador no céu do meio-dia de toda a cidade! E outro e outro clarões! Ventania estúpida a virar a mesa e a irrigar os pés de minha árvore quieta, que agita suas folhas, galhos e rosas pra mim na sufocante tentativa de algo me dizer, mas, mais uma vez, não lhe dou atenção. Barulho ensurdecedor, a minha cerveja chora, a terra se abre e o povo da feira corre sem direção para escapar da gravidade mortal daquele novo momento; a ceiva escorre das feridas expostas na testa de Santa Rita, que implode de seu Alto e sucumbe no desfiladeiro profundo do fogo e da sede da agonia de nossa Santa Cruz. Eu, bem no centro dessa nova estória e à espera de meus amigos de ontem, que nunca virão, olho, atônito, para essa nova velha Rosa de Hiroshima que surge e desenha, por sobre a minha consciência, as trombetas de Kin Jong-Um, os sorrisos esquizofrênicos de Trump, as nuvens atômicas de Vladimir Putin e a bandeira bestial do Brasil, a tremular com a frase “Libertas que sera Temer”. Acordo e vejo, da janela feliz de meu alívio, o dia nascer lindo e promissor, neste domingo, 30 de julho de 2017. Abro o computador e leio as manchetes dos principais jornais internacionais: “Coréia do Norte testa novo míssil intercontinental e EUA, Coréia do Sul e Japão posicionam seus bombardeiros B-1B.” As árvores brotam do chão, crescem e lutam pra ser o verde mais lindo da aquarela de Deus. Quando derramam as suas ceivas, as suas folhas e as suas rosas, sem motivo aparente, por sobre a chegada inesperada de alguém, penso que queira, apenas lembrar da “rosa, da rosa, da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida, a rosa com cirrose, a anti-rosa atômica, sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada.” Mas não tenho certeza se é isso que ela quer falar, e este texto é uma grande bobagem, até porque as árvores não falam, simplesmente exalam o perfume das rosam que roubam de ti! (Nailson Costa)




SEXTILHAS DE LOURO BRANCO SOBRE SAPO


Acho bonito o inverno
Quando o rio está de nado
Que o sapo faz oi aqui
Outro oi do outro lado
Parece dois cantadores
Cantando mourão voltado


Acho bonita a enchente
Descendo no ribeirão
E o cururu em cima
Dum garrancho de pinhão
Parecendo um chofer bebo

Dirigindo um caminhão.



sábado, 29 de julho de 2017

ROBINSON FARIA, MAS NÃO FEZ - vários autores



Saúde sucateada
Bastante gente morrendo
Segurança abandonada
Policiais se fudendo
Educação sem valia
Porque Robinson Faria
Mas acabou não fazendo.

Estradas esburacadas
E ninguém faz um remendo
As altas taxas cobradas
Pra quê serve?não entendo!
Deve ser uma micharia
Porque Robinson Faria
Mas acabou não fazendo.

X

 O cidadão vive preso
A violência crescendo
Assassinatos diários
É o que estamos vendo
RN em agonia
Porque Robson Faria
Mas acabou não fazendo


X

Em estrada esburacada
Não faz sequer um remendo
Um ladrão em cada esquina

E nós de medo tremendo
Nesse estado de apatia
Porque Robson faria
Mas acabou não fazendo





quinta-feira, 27 de julho de 2017

LUZIA LUZINDO EM VERSOS


LUZIA LUZINDO EM VERSOS

Luzia Anália é uma educadora caicoense de inegáveis charme e inteligência. Tive o privilégio de conhecê-la e tornar-me seu colega no final de 2015, quando demos início ao mestrado em Literatura e Ensino. Ela sempre deixou claro, nas vezes em que a vimos falando,  ser uma pessoa de grande sensibilidade. Eu insistia para que ela me mostrasse algum texto literário que, com certeza, já teria escrito, mas ela, por timidez, sempre recusou fazer isso. Ontem, porém, ela surpreendeu-me enviando alguns versos para análise. Fiquei muito feliz  e comprovei o que já esperava: qualidade no que ela faz.

ABISMO (De Luzia Anália)

Quem sentir a febre
De um amor sem fim
Venha rápido, 
Corra para mim.

Quem souber andar
Ao sabor do vento,
Conte essas estrelas
Do meu pensamento.

Quem quiser um beijo
Ou um mar de flor,
Corra para o abismo
Deste meu amor.

Mas, não sintam!
Mas, não saibam!
Mas, não queiram!
Fujam!


SOBREVIVO! (De Luzia Anália)

Entre medos e segredos,
Sobrevivo!
Entre sonhos e cuidados,
Esfarrapo-me!
Como num balé de fumaça, 
Despedaço-me!

O fogo queimou o que havia pra queimar
E agora a saudade, em brasas, tripudia do meu pranto, em gargalhadas brutais.

Não sobrevivo mais.
Agora, nem sonhos, nem segredos.


No poema Órion, de Drummond, há um verso que diz: "Luzia na janela do sobradão."
O duplo sentido, quando associado ao título, faz-se evidente. Fico feliz por comprovar que minha amiga, que tanto brilhava na qualidade de aluna e colega, também luze em versos. A Luzia de Drummond limitava-se, talvez, à janela do sobradão, mas está há de sobrar em brilho nas aberturas dos ambientes virtuais. Quem sabe, não venha a espargir raios nas páginas de nossa segunda antologia APOESC em Prosa e Verso!? Assim espero, assim desejo. 

Mostrou-me apenas dois de seus poemas, mas tenho a impressão que há uma botija de versos prestes a ser desenterrada, e eu quero meter a mão nesse tesouro.

-Gilberto Cardoso dos Santos










domingo, 23 de julho de 2017

ALBATROZ - Débora Raquiel



Albatroz eu te invejo libertino,
nesse voo de amor que desenlaças,
meu amor é escravo, não tem asas,
peregrina entre o algoz e a senzala.
Entre beijos...correntes e açoites,
No abraço um chicote a estalar,
Albatroz, me empresta tuas asas,
feito ave vadia vou dançar...
desenhar nesse céu, meu infinito,
enfeitar de poesia meu destino,
Alforria esse amor que é clandestino,
que carrega um abismo em cada mão.
Faz teu pouso, me ampara, alivia...
essa dor que macera o coração.
Ave alada, aniquila o meu degredo,
Se pequei por amar quem não devia,
Eu amei uma lua em segredo,
Sem remorso, sem culpa, foi paixão...
Revogando esse caos, ave ligeira,
Proclamai em voz alta meu perdão,
arrebenta as correntes dessas portas,
Acalmai esse mar que mora em mim,
Meu império será a liberdade,
meu decreto é amar sem ter mais fim.




Débora Raquiel Lopes



sexta-feira, 21 de julho de 2017

Amando... - Sabrina Dorico


Amando...

Observando você, descobri.
Mil motivos pra te desejar
Um deles é o seu respirar
Que azeita minha alma
A minha vida
E o meu caminhar
Aliás, ao longo do tempo.
Eu só quero te amar
Amo mais e mais
Não consigo parar
Então, escuto!
Ouço dizer:
Todas essas perguntas
Levam-me até você
Assim... Como se definisse
O meu ser
Tranquilamente, na paz do seu querer...

Sabrina Dorico

Currais Novos 20/07/2017

sábado, 1 de julho de 2017

PRECE AO DEUS DOS BRASILEIROS - Gilberto Cardoso dos Santos


PRECE AO DEUS DOS BRASILEIROS
(Gilberto Cardoso dos Santos (gcarsantos@gmail.com)


Senhor Deus dos enganados! 
Desperta-nos, Jesus Cristo!
É sonho ou realidade
Tanto horror que temos visto?!
Juízes, feito monarcas
Sugam as riquezas parcas
Da explorada nação
Repulsivas são as ondas
Que nos chegam hediondas
Do mar da corrupção.

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizem que és brasileiro
Temos bancada evangélica
Teu nome está no dinheiro
Com a mão na Bíblia Sagrada
Juram que não farão nada
Contra a Constituição
Mas é tudo hipocrisia
Teu nome lhes propicia
Domínio e ostentação.

Senhor Deus dos castigados
Pelo próprio egoísmo!
Na política demonstramos
Nosso analfabetismo
Tu, que te indignaste
E do templo expulsaste
Mercenários, vendilhões
Varre nossa consciência
Dá-nos luz e mais prudência
Em tempo de eleições!

Senhor dos desenganados
Milhões de vezes traídos!
Com paciência de Jó
Temos sido oprimidos
Em um beco sem saída
A nação desfalecida
Não enfrenta o opressor.
Põe de pé os derrubados
Que acham que estão deitados
Em berço de esplendor!