domingo, 26 de fevereiro de 2017

Sete faces de rapariga - Gilberto Cardoso dos Santos

Sete faces de rapariga
  
Deixando o país de origem
Mariana se deu mal:
No Brasil ela era virgem, 
Rapariga em Portugal.

Feminino de rapaz,
Capaz de provocar briga:
Nossa linguagem mordaz
Pôs veneno em rapariga.

Verbos do amor conjugal
Poucos querem conjugar
Pois a tendência geral
É o verbo raparigar.

Nascida no cabaré
Em um quartinho cresceu
E rapariga hoje é
Como a mãe que a concebeu.

Jesus, vendo o fanatismo
Que à destruição instiga,
Se opôs ao farisaísmo
E salvou a rapariga.

Em um baixo meretrício
Uma comovente cena:
A rapariga em suplício
Clama a Santa Madalena.

Num tempo em que virgindade
Passou ser coisa antiga
O que, na realidade,
Vem hoje a ser rapariga?

Trova Para Rapariga * Gilberto Cardoso dos Santos

Trova Para Rapariga


Deixando o país de origem,
Mariana se deu mal:
No Brasil ela era virgem,
rapariga em Portugal.

Gilberto Cardoso dos Santos - RN

Mini Biografia
GCS nasceu em 
Cuité - Pb, a 26 de fevereiro de 1964. Cidadão norte-riograndense, ele escreve contos, crônicas, poesia, trovas e literatura de cordel. É um dos fundadores da APOESC - Associação dos Poetas e Escritores de Santa Cruz - RN e organizou a Antologia Apoesc Em Prosa e Verso, publicada em 2017. É locutor do Programa Apoesc em Canto e Verso e responsável pelo Blog da Apoesc - http://apoesc.blogspot.com.br/ . Gilberto é ainda um dos premiados no Concurso Nacional de Poesia Augusto dos Anjos 2016. 

Fonte:

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

São cidades fantasmas... - Kiko Alves

São cidades fantasmas As minhas esperanças De ruas carcomidas E desoladas janelas Nunca mais alvas donzelas De seios fartos E olhos de luas Só arrastar de chinelos De velhos crápulas Com seus escarros nauseabundos E sorridos de escárnios Moribundos sonhos vãs E sois sem manhãs.
Kiko Alves


POETA ANTÔNIO FRANCISCO DÁ DICAS DE SAÚDE EM VERSOS


Por ocasião do evento Casa das Palavras realizado em Santa Cruz - RN, em 21.02.2017, tivemos a grata satisfação de entrevistar o ícone da poesia popular potiguar Antônio Francisco, que ocupa na Academia Brasileira de Literatura de Cordel a cadeira que pertenceu a Patativa do Assaré. Pedimos-lhe que declamasse um belo poema feito para evento da Petrobrás em que dá dicas de saúde. Até então este poema não estava disponível na net.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

CARTA DE VALDENIDES CABRAL A ALUNOS


MADADAYO PARA VOCÊS

             Caros,
            Gilberto, Cláudia Jacinto, Fátima Pereira, Francinaldo Aprígio, Débora Raquiel, Joel Canabrava, Aldenir Dantas, Wescley Gama, Iara Carvalho, João Maria, Cecília Nascimento, Sol Saldanha, Eudimar, Altierres, Lucas Andrade, Carlos Barata.

            Quando li a homenagem coletiva, encabeçada pelo meu orientando do Mestrado Profissional em Letras, Gilberto Cardoso, fazendo essa ponte entre a minha vida de professora e a contada no filme Madadayo, senti vontade de assisti-lo para que, com mais propriedade pudesse agradecer a ele, por estabelecer esta relação e a cada um que me enviou uma palavra de carinho em relação aos momentos compartilhados em sala de aula e, posteriormente, fora dela. Pedi um tempo para assimilar tamanha homenagem desses alunos que me marcaram profundamente a vida acadêmica. Agora já posso. Por isso, passo a fazer o relato que se segue:

            1993[1] foi, para mim, um ano emblemático: passei no concurso para professora efetiva do Curso de Letras da UFRN-CERES, onde também fiz minha graduação em Letras. Antes disso, passei dez anos como professora do Ensino Fundamental e Médio. De lá para cá, são 34 anos bem vividos e dedicados à arte de aprender a ensinar.

            Diria que comecei a aprender a ensinar com as crianças do Fundamental, com a ajuda do amor incondicional que me dedicavam a cada ensinamento recebido. Vi, neles e com eles, que o amor é semente que germina fácil, quando bem semeada. Com eles, fiquei até 1986, quando concluí a minha graduação. Fui então, para o Ensino Médio ensinar Literatura e Língua Portuguesa no Fundamental – 5º ao 9º. Passei seis anos em processo de readaptação do amor que recebia das crianças para a rebeldia da adolescência e dos adultos em fase inicial. Vivi um amordurecimento. Essa é a palavra exata para definir o amordaçamento dos afetos e a busca incessante por uma nova fórmula de amar sem se ferir.
            Como o Uchida do filme, tomei muita cerveja com meus alunos de Ensino Médio (e algumas vezes, da Graduação, quando o tempo ainda me permitia). Nunca eles perderam o respeito por mim, enquanto professora. Respeito que se transformou em amizade permanente, como permanente é, ainda, em mim, o amor daquelas crianças que, hoje, adultas, ainda me procuram para legitimar, diante de seus filhos, uma professora para sempre. Isso não me chega como vaidade, mas me enche cada vez mais de amor pela minha profissão, pelos meus alunos de ontem e de hoje, pela minha vida, por ser, hoje, o que sou, fruto de um trabalho que se consolidou no tempo, com a ajuda de cada aluno e de cada colega de profissão. Por tudo isso, quero responder, individualmente, a cada um que me prestou essa homenagem:

·  Gilberto, querido, digo-lhe que o meu trabalho nunca foi penoso. Todos os dias, agradeço a Deus por entrar numa sala de aula esses anos todos, sem perder a ternura da primeira vez. Afirmo, com convicção, que o professor é moldado pelos alunos que tem e o contrário também é fato. Fui contemplada ao longo dos anos com alunos que possuem uma alma poética como a sua, capaz de  sensibilidades múltiplas. O nosso encontro começou no terreiro da poesia, continuou na sala de aula e permanecerá estrofes  afora, enquanto a vida nos permitir;

· Juciana, querida, o sorriso é uma arma poderosíssima, quando bem empregado. A poesia, por exemplo, é o sorriso da alma. Por isso, ele transborda e toca almas extremamente poéticas como a sua. Obrigada pelo nosso encontro poético;

· Cláudia, a gente só compreende a arte da palavra, se já tiver uma alma sensível igual a sua. Tivemos a oportunidade de nos encontrarmos por duas vezes, em períodos diferentes. O primeiro só veio se concretizar no segundo, graças a sua persistência, sua força de vontade e competência. A literatura humaniza sim, mas precisa que o seu leitor esteja predisposto a se deixar humanizar. Você é pura humanização;

· Francinaldo, querido, os nossos laços de amizade começaram no século passado e se fortaleceram neste novo século, com novos conhecimentos. A amizade e o conhecimento nos proporcionam grandes viagens. Que a Luz Divina nos cubra de paz e poesia;

·  Joel, figura ímpar. Um coleguinha que me preencheu com seu lado sério e brincalhão e também muito conhecimento de Literatura. Um dia lhe escrevi dizendo que “toda a minha vida de professora foi uma tentativa de humanizar o ensino e diminuir a distância entre professores e alunos”. E é a mais verdadeira das minhas tentativas de verdade. O seu coração carrega a beleza dos lençõis maranhenses que um dia hei de conhecer, tendo você como guia;

·    Wescley, quem não gama em você? 100% música e poesia; 100% doçura. Um cronópio entre famas e esperanças. Logo após o fim do mundo passamos a existir em plena comunhão de amizade;

·     Iara, a sereia que transita pelo Seridó movediço do meu coração, que fez e faz da poesia um milagre de vida. Tens o meu amor e a minha admiração eterna, na certeza de que meu anzol só fisga os seres encantados e encantadores;

·   João Maria, caríssimo, no tempo em que fui sua professora estava dando os primeiros passos na arte de cativar pela Literatura. Agradeço-lhe, imensamente, por ter sido um dos meus cobaias;

· Cecília Nascimento, obrigada por transformar meu nome em um conceito poético. O que posso lhe dizer diante de seu gesto? Você utilizou os verbos que mais utilizo nas minhas falas: encantar, enfrentar, vencer, florescer, lutar, espalhar. Sem eles, não somos ninguém;

· Eudimar, querida, você tem competência para se tornar uma grande pesquisadora e uma excelente professora. Isso tudo vem com maturidade e dedicação. É um processo. Por isso, nunca pare de se capacitar, siga em frente. O mundo é dos destemidos, dos que desejam fazer de sua vida um acontecimento. Faça-se acontecer;

·   Altierres, meu menino com cara de anjo, descobri tua luz e abri as tuas asas em busca do saber. Seus dias de aluno nunca mais serão sem mim, por mais que estejamos longe um do outro, porque deixei na tua luz a minha sombra e debaixo da tua asa esquerda, o meu coração;

· Sol Saldanha, obrigada pelo seu amor e pela sua poesia em minha vida. Lembre-se de que a vida, como disse o Ferreira Gullar, só é possível reinventada. Reinvente-se sempre, buscando sempre o caminho da competência;

·  Aldenir, meu companheiro de trocas poéticas, obrigada por todas as fotografias antigas que você pendurou, generosamente, nas paredes do meu coração. Falar teoricamente do que amamos é quase impossível. Então, aprendi que devia (e ainda o faço, hoje), penetrar “surdamente no reino das palavras”, para compreender que “meu tempo é quando”. As teorias a gente aprende lendo; a poesia, sentindo. E eu prefiro sentir. Suas palavras me lembraram de um poema de Whitman, de que gosto muito. Eis um trecho:

Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
      [ biblioteca ou à bolsa de valores,
Mas conduzo a uma colina cada homem e mulher
      [ entre vocês,
Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
Minha mão direita aponta paisagens de
      [ continentes, e a estrada pública.

Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
      [ pra você,
Você tem que percorrê-la sozinho.

Não é tão longe assim .... está ao seu alcance,
Talvez você tenha andado nela a vida toda e não
      [ sabia,
Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
      [ água e sobre a terra.

Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em
      [ frente;
Toparemos com cidades maravilhosas e nações
      [ livres no caminho. (Walt Whitman •  “Canção de Mim Mesmo”.     In Folhas de Relva    Edição bilíngüe, tradução e posfácio de    Rodrigo Garcia Lopes    Ed. Iluminuras, São Paulo, 2005

·   Fátima, querida, construir asas com você foi uma viagem incrível. Isso se deve, certamente, à nossa simplicidade e carinho mútuo. Acredito em encontros marcados e por isso tivemos a nossa chance de trocarmos saberes e humildades. O que torna especial o nosso bem querer é justamente o desejo de nos tornarmos cada vez mais humanas;
·  Carlos Barata, o que me levou a enxergar o lado atávico da vida, assim, de supetão, sem me dar a chance de me defender. Acabei descobrindo nele qualidades e defeitos que são meus. Também me levou para o caminho da loucura muriliana para constatar, mais uma vez que somos seres atávicos sim. E não tenha dúvida nem dívida comigo. Tenhamos somente a poesia que nos une e nos eleva para além de nós e de qualquer floresta, onde o lobo jamais vai comer a vovozinha.

·    Lucas Andrade, meu último bolsista de iniciação científica, um aprendiz atento e envolvido com as coisas da terra. Está apto a começar a realizar as suas transformações, para o bom, para o bem e para o alto. Seja feliz e busque a felicidade para a sua vida pessoal e profissional.

Por fim, como Ushida, ainda não estou pronta. Nunca estarei, pois fiz laços que se estreitaram, nunca se desteceram ao longo dessa vida de sala de aula. Nem me canso de viver nem de aprender. É provável que eu tenha desempenhado mais o papel de aluna que de professora, ao longo desses 33 anos (três a mais que Ushida). Ainda me faltam cinco anos para que me torne uma anciã. E a vida corre feliz, tagarela, nas minhas veias. E nada mais apropriado para encerrar minhas palavras de agradecimento a vocês todos (alunos aqui nominados e aos incontáveis que passaram por mim e que possam, um dia, ler esta mensagem), do que citar as palavras do próprio Ushida:

Gostaria de lhes dizer para encontrar alguma coisa de que realmente gostem. Encontrem algo que sejam capazes de amar de verdade. E quando encontrarem, lutem com todas as forças que tiverem, pelo seu tesouro. E assim vocês terão o tesouro pelo qual lutaram. E irão adquirir o hábito de abraçar as coisas de coração. Este é o verdadeiro tesouro. Será que falei muito difícil?( MADADAYO – Diretor:  Akira Kurosawa – 1993)


Recife, 20 de fevereiro de 2017




[1] Coincidentemente, o filme foi lançado dia 17 de abril de 1993, quatro dias após eu ter entrado para a UFRN.


Valdenides Cabral de Araújo Dias








Valdenides Cabral De Araujo Dias
possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1986), mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (1999) e doutorado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (2007). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria da Literatura e Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: poesia, narrativa, erotismo, regionalismos literários. Publicou em 1999 o livro de Poesias, Pulsações, pela Annablume (SP), em 2009, Poesia Menor, pela Editora Scorteci (SP) e O Corpo Erótico na Poética de Gilberto Mendonça Teles, pela Edições Galo Branco (RJ) e, em 2011, Pontos de Passagem, pela Scortecci (SP). Em 2013 publicou O Retórico Silêncio, pela Editora da UFRN (EDUFRN), ensaio sobre a poesia de Gilberto Mendonça Teles, fruto do estágio Pós-Doutoral, na UFPE/PGLETRAS. É membro da União Brasileira de Escritores/RN.

Veja também:

À mestra VAL com carinho

CARTA A ZILA MAMEDE - José da Luz


Zila Memede
Rua da Saudade, 1985
Natal


Natal, 25 de julho de 2015.


Caríssima Zila,


A correnteza dos dias vai muito apressada...
E nas folhas da memória, já são longos os 30 anos de silêncio ruidoso e de saudade oceânica.
Decidi romper com a minha timidez de admirador anônimo, e concordei que o entusiasmo do instante me ditasse as palavras desta missiva. Mas, confesso-lhe que nem sei como organizar o seu fluxo verbal.
A propósito, embora esteja lhe escrevendo somente agora, espero que releve a minha escrita sem molejo, pois desejo que esta seja a primeira de muitas outras correspondências entre nós.  
Depois de todos esses anos longe de nossa terra potiguar, principalmente de nossa ainda tão ensolarada capital, tentei, mas não foi possível antes, muito menos agora, encontrá-la na Rua Trairi, nem na Biblioteca Central da UFRN, ou mesmo na Praia do Meio.
Separados pela profunda distância do espaço-tempo, me aproximei de você através de seus livros. Acredito que o tempo se perpetua na linguagem. Assim, fiz das páginas de seus livros o calendário de meus dias. Que belas páginas! Que belos dias!
Cronologicamente, revivi sua estreia no mundo das letras com o livro de sonhos e sonetos Rosa de Pedra. Em Salinas, vislumbrei os ares e os mares, os rios e as ruas, pela retina reta e fina da poeta emergente (muito além da gramática!). Com O Arado, acompanhei seus passos oníricos de criança em meio às cercanias bucólicas do sertão. Mais adiante, uma virada formal redireciona-lhe a linguagem e o inventário poético, num salto qualitativo, em Exercício da Palavra. No auge dos cinquenta anos, o livro Corpo a Corpo me revela a luta lúdica e estética de sua maturidade poética. Engenho e arte a nós legados como Herança.
Verdade seja dita, na leitura de suas obras, os olhos de minha alma passearam sobre os signos-pedra, mergulharam nos signos-água e voaram nos signos-vento. Alumiado, descobri em seus versos que a língua materna, aos ouvidos de nossa gente, é uma canção terna e eterna.
Não me censure o arroubo de minha espontaneidade. Talvez esteja sendo ousado, ou mesmo abusado, pelo atrevido e íntimo coloquialismo. São coisas de minha confessa e sincera fascinação.  
Fico imaginando como os jovens, em especial os potiguares, estão deixando de vivenciar uma experiência bacana e inesquecível: a leitura dos escritos poéticos de Zila Mamede. Digo mais, uma poeta que estava entre as preferências literárias de Carlos Drummond de Andrade. Uma poeta de alma sertaneja, conquistada inclusive pela amizade de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto. Aqui na província, costumava prosear com Câmara Cascudo. Certamente, ao pôr do sol, o historiador e a poeta continuam conversando além do horizonte...
Como eu gostaria, saudosa Zila, de alongar o fio destas linhas. Porém, a minha vencida timidez resolveu me render. Diferente de Drummond, a minha luta vã com as palavras não alcança a manhã. Mesmo assim, acredite, se essas palavras têm algum brilho, esse procede da autenticidade de meus sentimentos.
Enfim, não sei quanto tempo você ficará nesse lugar paradisíaco. Talvez os dias aí sejam de feliz eternidade. Entre livros e anjos. Creio que a pátria do(a) poeta é onde ele(a) tomba com sua saudade. Novos mares, novos ares.
Evocando da Antiguidade as palavras de Cícero, “a epístola é um diálogo entre ausentes”, eu sou contrariado em minha vontade ao colocar um ponto (provisório!) logo adiante. Desejo muito, muito, muito repetir este contato. A sua ausência sentida não me faz solitário. Pena que as minhas palavras não traduzam todo o sentimento de minha admiração.
Queira Deus, então, que eu seja digno de sua inestimável amizade.
Com respeitoso afeto,
José da Luz Costa

Extraído do livro Cartas Para Zila Mamede


  • Autor/ Organizador: Kamyla Alvares Pinto, Marize Castro, Francisco Wildson Confessor
  • ISBN: 987-85-425-0656-3
  • Ano de publicação: 26 de Outubro de 2016
  • Linha editorial
  • Coleção/ Série
  • Tipo de publicação: Digital
  • Formato/suporte: E-book - PDF
  • Número de páginas: 179
  • Palavras-chaves: Mamede, Zila, 1928-1985 – Correspondências, Cartas brasileiras, Literatura brasileira
  • Link para baixar o livrohttps://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/21450
  • Sinopse: O livro digital "Cartas para Zila Mamede" é resultado de um projeto da Edufrn de 2015, idealizado para homenagear a poeta e bibliotecária por ocasião dos 30 anos de sua partida. A obra reúne 44 cartas de escritores, alunos, professores, bibliotecários, pessoas que conviveram com Zila e leitores de sua obra poética, que compartilham o sentimento de saudade e de admiração por ela. O projeto gráfico do livro é de Rafael Campos e conta com fotografias do acervo pessoal da pesquisadora e artista plástica Angela Almeida.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

NAS VEREDAS DE TODOS NÓS - Valdenides Cabral


NAS VEREDAS DE TODOS NÓS
Vou dizer, no meu verso,
O dia em que me perdi de mim
 pra ser poeta.

(Valdenides Cabral de Araújo Dias, in: poemas inéditos)

            Parodiando  o poeta Manoel de Barros, venho aqui dar umas “despalavras” sobre o novo livro do poeta santacruzense, Hélio Crisanto, Nas veredas de mim mesmo. Tendo lido os seus primeiros livros, Retrato Sertanejo (2008) e  Prosa de Cancela (2014), poderia dizer, num repente: a poesia deste poeta cantador cheira a chão, a água, a sol, a terra. Cheira aos quatro elementos primordiais da natureza, como bem pede a linguagem da grande poesia e como também nos diz o crítico francês, Mikel Dufrenne, no seu livro, O poético (1969, p. 53) referindo-se à relação  do poeta e da linguagem poética com a natureza:
Se o poeta trata a linguagem como coisa natural, é talvez pressupondo uma natureza falante. É em todo caso respeitando a função semântica da linguagem, elevando ao máximo seu potencial expressivo; esse potencial será tanto mais elevado quanto mais a palavra for restituída à sua natureza e reconduzida à sua origem.

            Reconduzida a sua origem, a palavra poética de Hélio Crisanto adentra o sertão potiguar buscando nele motivos para o seu versejar.  Em  cada palavra utilizada pelo poeta a musicalidade se instaura e, já não temos apenas  um poema, senão um canto-poema que prescinde da forma para existir, tamanha a força da escolha lexical. O conjunto de versos que compõem este livro traça uma cartografia do homem sertanejo em  toda a sua amplitude. Do  sertão sócio-histórico, geográfico e cultural que o circunda enquanto poeta e sertanejo, diante das veredas de terra batida e sol escaldante, o poeta (en)canta mais profundamente por tocar a essência de um ser, paradoxal, que vive entre o campo e a cidade, que é rio a desembocar no mar, um matuto em trânsito entre a forma e o conteúdo de sua poesia. No poema Biografia, por exemplo,  ele diz: “Trago em minha verve as prosas matutas”.
 Entre as décimas e as redondilhas o poeta capta o cotiano do sertanejo com a mesma maestria dos livros anteriorese e, com a maturidade poética que as “prosas matutas” lhe concederam, percorre, também, as veredas poéticas das palavras sem amarras de rimas e métrica;  desconstrói o corpo poemático formal para adentrar na espessura dos sentidos e transportar o leitor para um universo onde o real se mistura à fantasia, deslocando a palavra do seu lugar comum, ou despalavrando a palavra que agora vagueia pelos labirintos da dor humana que se alarga para além do sertão. Ele entende, como Manuel de Barros, que
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Haver com eles um relacionamento voluptuoso. Talvez corrompê-los até a quimera. Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los. Não existir mais reis nem regências. Uma certa luxúria com a liberdade convém. (BARROS, O guardador de águas, p. 65 e 63)

            E é de dentro dessa liberdade formal que ele vagueia a sua mente, clandestino de seu próprio fazer poético, querendo apenas o amor da sua musa, a poesia. Diante dela, e não de sua forma, ele se curva e se preenche em corpo e alma, como podemos perceber no poema Resgate:

Vem poesia,
Penetra sorrateira em meus poros.
Arrebata-me.
Embala-me com teus acordes
Enquanto tenso, vou tecendo o fio das horas.
Escorrega na minha garganta suavemente
Para que eu possa te degustar.
Vem poesia,
Masturba o meu ego
E resgata o meu ser
Pois és meu verdadeiro orgasmo.

            Aos leitores, eis as veredas de um poeta que não precisa de diploma de poeta para sê-lo, posto que já nasceu poeta. E não se enganem: as veredas aqui não significam caminhos secundários. Em poesia, nada é secundário. As veredas são, portanto, os caminhos para se chegar a uma poesia que nem é popular, nem erudita. É, simplesmente, poesia. E agora são nossas.

Currais Novos, 14 de abril de 2016

Valdenides 


Valdenides Cabral De Araujo Dias
possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1986), mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (1999) e doutorado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (2007). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria da Literatura e Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: poesia, narrativa, erotismo, regionalismos literários. Publicou em 1999 o livro de Poesias, Pulsações, pela Annablume (SP), em 2009, Poesia Menor, pela Editora Scorteci (SP) e O Corpo Erótico na Poética de Gilberto Mendonça Teles, pela Edições Galo Branco (RJ) e, em 2011, Pontos de Passagem, pela Scortecci (SP). Em 2013 publicou O Retórico Silêncio, pela Editora da UFRN (EDUFRN), ensaio sobre a poesia de Gilberto Mendonça Teles, fruto do estágio Pós-Doutoral, na UFPE/PGLETRAS. É membro da União Brasileira de Escritores/RN.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

SAUDADES DA MINHA TERRA - Adriano Bezerra


SAUDADES DA MINHA TERRA Deixei a minha cidade, O lugar que eu nasci, Porque oportunidade Não pude encontrar ali. Mesmo querendo ficar, Fui obrigado a deixar Para não morrer de fome Deixei meu lugar, tristonho E voltar, hoje é meu sonho, A saudade me consome!

Adriano Bezerra 19/02/2017

sábado, 18 de fevereiro de 2017

SANTA CRUZ EM PROSA E VERSO - Zé da Luz



SANTA CRUZ EM PROSA E VERSO

Há exatamente oito dias passados, numa noite de sábado festiva, o Teatro Candinha Bezerra foi palco de um acontecimento literário cultural. Na verdade, multicultural. Pois, em meio a músicas e declamações, se deu o lançamento, em grande lume, de dois livros literários: Apoesc em prosa e verso (antologia com textos de 50 autores) e Nas veredas de mim mesmo (poemas, do poeta, cantor e compositor Hélio Crisanto), como também estava sendo divulgado o CD de músicas religiosas – Vinde, adoremos – de Arthur Nóbrega.

A APOESC – Associação de Poetas e Escritores de Santa Cruz – vem expandindo as trilhas deixadas pela ASPE (Associação de Poetas e Escritores), ao produzir e promover a cultura literária, falada, escrita e cantada, da cidade de Santa Cruz e região.  A razão de tamanho sucesso da APOESC se deve, primeiramente e reconhecidamente, aos espíritos altruístas de Gilberto Cardoso e Hélio Crisanto, que desenvolvem, além dos ofícios profissionais próprios, o trabalho artístico nos campos da literatura popular e da música nordestina sertaneja. Segundo, porque inegavelmente a APOESC conta com o apoio de inúmeros colaboradores e simpatizantes, capazes de respaldar sempre as iniciativas exitosas dessa dupla de modernos menestréis.

O lance e o alcance das publicações da APOESC já despertaram o interesse e o entusiasmo de muitos leitores, muito além das cercanias do Trairi. A APOESC tem reunido poetas jovens e maturos, prosadores de ontem e de hoje, acolhendo seus trabalhos e dando-lhes visibilidade, voz e vez, em prol da consolidação de uma literatura local e regional, que tem fôlego e asas para alcançar ares universais. Para tanto, a Associação dispõe de Blog, programa músico-literário na Rádio FM Santa Rita e do Grupo Amigos da Cultura Popular, no WhatsApp.

A matéria predileta da APOESC é a poesia.

Então, sábado, 11 de fevereiro, se emoldura em nossa memória como data marcante, inesquecível. Noite de trovas e prosas. Santa-cruzenses e viandantes de outras paragens re-viveram os embalos de um sábado à noite regados à boa música e à poesia boa. Foi realmente uma noite de apoteose da palavra. Da palavra poética.

Lembro, por fim, que Deus nos deu a vida, o pão... e a poesia (o verbo).
E, depois da oração, somente a poesia nos aproxima do divino.
 
José da Luz Costa

Professor (UFRN)


Veja mais sobre o evento em 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ALVA MARIA - Nelson Almeida



ALVA MARIA Alva no nome Alma sombria Ostenta o cargo Que inculta ocupa Voraz é tua perseguição Injusta é a tua justiça Oh, Alva Maria! Caças incansavelmente Irrevelável contravenção Cobras cegamente Severa punição Sem saberes, brava Maria Que não se pode punir A quem não se discorre o delito Dito isto, tenho dito Que pacientemente espero Que ajas solenemente Débil posicionamento Não queiras castigo eterno A quem tem carne efêmera Não queiras a ruína De quem tudo perdeu Dito isto, tenho dito Que espero paciente Enquanto curo a minha alma Ver-te agir debilmente.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

OPINIÕES SOBRE O DUPLO LANÇAMENTO DA APOESC




Jose Rosemilton Silva

Bom dia. Fiquei muito feliz ontem em participar do lançamento de dois livros em Santa Cruz, no Teatro Candinha Bezerra, colocados a disposição dos leitores pelo excelente poeta Hélio Crisanto - Nas veredas de mim mesmo - e pela Apoesc, tendo a frente outro especial poeta, Gilberto Cardoso dos Santos, numa antologia reunindo gente de tudo quanto é canto. Me vi nos anos 60 quando havia uma ebulição cultural em Santa Cruz através da disputa benéfica e salutar dos grêmios lítero-recreativo das escolas Normal e Comercial. Fiquei impressionado com o envolvimento de crianças e adolescentes no recitar de poesias belas, cordéis maravilhosos e, tudo isso, recheado pelo canto afinadíssimo dos dois promotores da noitada cultural. Teatro cheio nos leva a crer que a festa literária de Santa Cruz volta a ganhar corpo mesmo sem tantos incentivos. Parabéns!


Parabéns, nobre Poeta Gilberto! Ter a honra de participar com grandes nomes de tua publicação. Obrigada pela oportunidade, e o zelo com o qual cuidaste desse evento. Bom saber que a Cultura ainda enche nossos teatros.Deus o abençoe grandemente!



Ana Lucia 

Parabéns a Apoesc Associação de Poetas, através das pessoas de Hélio Crisanto e Gilberto Cardoso Dos Santos pela organização e realização do evento e pelo lançamento dos livros. Estava tudo perfeito, voltei para casa de alma revigorada e a cabeça cheia de "ideias". Com certeza iremos recorrer a vocês, grandes poetas para colocá-las em prática aqui no município de Lajes Pintadas. Um abraço e muito sucesso e inspiração a vocês, grandes poetas.


Robson Freitas 


O Blog participou mais uma vez do lançamento do livro "Nas Veredas de Mim Mesmo" de autoria do poeta santa-cruzense Hélio Crisanto, este amigo a quem admiro seu trabalho musical e literário.

Na oportunidade também esteve lançando sua obra literária "Apoesc em Prosa e Verso" o querido poeta Gilberto Cardoso, também da cidade de Santa Cruz, foi uma noite memorável, de muita poesia e musicalidade, de pura cultura nordestina.

Prestigiei este evento, juntamente com minha esposa, Jaira Freitas, ambos damos o devido valor a cultura local, da nossa região, enfim a cultura brasileira. 

Vários poetas e amantes da cultura nordestina abrilhantaram este evento que aconteceu no Teatro Candinha Bezerra, na cidade de Santa Cruz. O lançamento duplo dos poetas supracitados foi sucesso de público, o teatro simplesmente lotou.

Na oportunidade também registrei em vídeos algumas apresentações dos poetas, inclusive do jovem poeta tangaraense Danilo Teixeira. 

Eu como sempre gosto de prestigiar a pura cultura nordestina, gosto da poesia, versos e principalmente da nossa música. Todos estes atrativos pude conferir de perto nesta noite de lançamento dos livros dos amigos poetas santa-cruzenses Hélio Crisanto e Gilberto Cardoso. - Robson Freitas, blogueiro tangaraense. (Ver mais em