Estou me sentindo forçado a conhecer mais e mais sobre padre Alessandro Campos. Nas ruas de Santa Cruz, principalmente aos sábados, é impossível não ouvir
"O que que eu sou sem Jesus?
Nada, nada, nada
Sem Jesus o que que eu sou?
Nada, nada, nada"
O povo costuma fazer coro à resposta. Involuntariamente, não resisto à tentação de completar a música. Acho que aquilo faz bem à feira. Traz uma sensação de paz aos que ali circulam, a julgar pelo que vejo nos semblantes. Obviamente, alguns se irritam com o alto volume e repetitividade, mas no geral o saldo é positivo. As músicas que anteriormente tocavam nos carrinhos de cds piratas eram horríveis.
Minha sogra é fã desse clérigo. Costuma ouvir tudo que ele canta e fala. Foi quem me indicou o vídeo, gravado em um lixão de Brasília.
Ao ver a reportagem intitulada "O padre na pele do povo" lembrei do seguinte trecho bíblico:
"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz." - Filipenses 2: 5 a 8
Num certo sentido foi isso que o padre fez: despiu-se do luxo e glórias que a função lhe confere e buscou igualar-se aos menos favorecidos, ainda que temporariamente. Nosso mundo carece mais e mais dos que se põem na pele dos outros para conhecer mais de perto seus dramas. A empatia parece imprescindível nos dias de hoje.
Fico imaginando o que este líder religioso pensa ou deveria pensar vendo tantos irmãos - todos católicos - vivendo em condições tão desfavoráveis.
Chamou-me a atenção o momento em que o padre perguntou a um dos catadores:
- O que você encontrou aqui de mais importante?
E a resposta:
- Minha família. Foi aqui que eu conheci minha mulher.
A reportagem trouxe-me também à lembrança os seguintes poemas:
Além da Imaginação
,
,
Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
E não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece
imaginação.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
E não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece
imaginação.
(Ulisses Tavares)
O Bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
(Manuel Bandeira)
Em suma, a reportagem nos traz à reflexão uma realidade para a qual pouco atentamos.Há um outro Brasil que precisa ocupar mais as manchetes. Parabéns ao padre e à TV Aparecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”