quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Bom dia, Jesus - Jomar Morais



Papai Noel curvado ante a manjedoura
religa-nos ao espírito do Natal genuíno





Se eu pudesse estamparia hoje em todas as primeiras páginas, em todas as capas e em todas as homepages o desenho que ontem o Google entregou-me durante a busca de uma ilustração natalina para o meu website Planeta Jota. A peça singela, sem assinatura, mostra um Papai Noel típico ajoelhado ante uma manjedoura onde um menino repousa, braços abertos, sob o brilho das estrelas.

Talvez bastasse isso para restabelecermos a verdade do Natal sem cairmos na aridez do discurso inflamado contra o que nosso materialismo e nossa fatuidade fizeram da comemoração mais importante em nossa cultura cristã.

Então, imaginei o bom velhinho, em seu traje extravagante nascido de uma campanha publicitária da Coca-Cola, há 83 anos, rendendo-se ao encanto da simplicidade infantil...

- Bom dia, menino Jesus. É por ti que venho e retorno a cada ano. É em teu nome que avivo o sonho das crianças e a ilusão dos adultos, extraindo-lhe sorrisos, cada vez mais raros, ainda que por breves horas. É por ti, sempre por ti, menino abençoado, mestre da alegria.

Mestre da alegria!

Logo percebo que Papai Noel é sábio. Não é desse menino, já feito homem, que nos fala o evangelista João, ao relatar uma animada festa de casamento em Caná da Galiléia? Não é esse o mestre que, vendo a tristeza assediar o contentamento dos convivas, pela primeira vez usa seus poderes para multiplicar o vinho e garantir a confraternização?

Talvez por isso um Papai Noel rechonchudo e divorciado de sua origem (o ímpeto solidário de São Nicolau, no século 4, amenizando a carência dos pobres na noite de 24 de dezembro) precisa voltar a cada ano para nos livrar da inanição de sonhos que sustentam a alegria. Num mundo empobrecido de valores éticos e espirituais, ele tornou-se a única e pálida referência ao sentido de comunhão do Natal para as multidões sôfregas e temerosas.

Papai Noel, reinando na mitologia do consumo e do lucro, parece-nos humano e próximo. Jesus, entronizado no altar das virtudes que, por pragmatismo e astúcia, consideramos inalcançáveis, parece-nos distante e avesso às nossas bodas barulhentas.

Claro, isso é engano. Em Jesus há humanidade e parceria e isso salta de suas palavras e da vida que levou entre nós. Se ele parece ausente de nossas comemorações, é porque, certamente, hesitamos em convidá-lo. Um mestre sacralizado e distante é mais cômodo e seguro para os nossos sistemas de poder, a começar pelo do ego embriagado de desejos. Mas quem resiste ao sorriso de uma criança e ao afago de um amigo?

Nesse sentido, a imagem de um Papai Noel curvado ante a manjedoura pode nos trazer de volta ao rumo perdido.

- Bom dia, Jesus. Como vai você? Hoje à noite vai ter festa lá em casa. Vem com a gente, amigo do peito. É seu aniversário!



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