Caro Destino, hoje te escrevo pra queixar-me do Tempo. Às vezes me pego
pensando quão bom seria se pudesse frear, avançar ou até voltar o Tempo! Sabe,
Destino, hoje sinto tanta saudade de meu pai... Seria tão bom que eu o
voltasse! Quando ele é bom, a Vida é rápida. Quando a Vida é boa, ele voa. O
Tempo, caro Destino, é cruel. Ontem via o sorriso lindo de meu pai. Hoje apenas
lembro e sofro. Na verdade, ele não me deu tempo pra dizer ao meu velho o
quanto o amava. Não tive a honra de conhecer o meu pai criança. O Tempo não
deixou. Mas imagino-o correndo e brincando nos leitos secos dos rios da
Baixa-Verde, em São Bento do Trairi, onde nasceu. O Tempo também não me deixou
contemplar a juventude de meu pai. Teria eu o imenso prazer de conhecê-lo em
suas conquistas, em suas aventuras, venturas e desventuras. Hoje a Vida só me
permite vê-lo nos acordes e nas rimas fáceis dos cantadores de viola. Apuro os
ouvidos, ouço sua Vida com atenção, vejo meu velho querido e o Tempo me faz
chorar. São chuvas de lágrimas salgadas semelhantes às de meu pai ao plantar na
Baixa Verde, no torrão semi-árido rachado pelo Tempo, a Vida e não poder vê-la
do chão brotar. O Tempo, caro Destino, não tem sido bom. Queria voltá-lo. Ele
nunca permitiu o verde nas colinas da Baixa-Verde ou na caatinga do meu sertão.
O meu pai também chorou o Tempo. Se ele me deixar, amanhã verei novamente as
fotos de meu pai brincando de bola com o meu filho e perceberei que o Tempo
escreve linhas em meu rosto. Sei que tudo passa, menos tuas palavras. Mas elas
têm que ser escritas para ele não destruir, pois ele tem pressa. Não espera por
ninguém. Até o cheiro de meu pai impregnado em suas roupas ele apressa-se em
apagar. O mau Tempo soprou as folhas da crônica de meu pai, as flores subiram
ao céu e a ventania veio mais forte. Preciso escrever a poesia de sua Vida
antes que ele a apague em minha mente. Quando o Tempo pretérito não é perfeito,
veem-se na TV enchentes, secas, furacões, terremotos, fome, pestes, mortes,
tudo de ruim. E os mais velhos dizem que são os sinais do Tempo. Escreveste a
Vida de meu pai. E mesmo por linhas tortas, escreveste certo. Acho, entretanto,
que o Tempo não soube bem interpretar tuas parábolas. Ainda vejo meu pai em sua
casa, brincando, filosofando e sorrindo com a crônica de seu Tempo. Nas tardes
de inverno, os relâmpagos riscam nos céus o nome de meu pai. Os trovões bradam
mais intensamente em sua ausência e as águas são páginas de meus sentimentos.
Queria, caro Destino, dele ter acertado as previsões. Não fui capaz e agora me queixo
a ti. Papai foi vítima de seu próprio Tempo, que não soube explorar com
paciência a grandeza de seu Destino e a sabedoria de sua Vida.
É bem verdade meu estimado poeta
ResponderExcluirsó agora percebi que já estou na intermediária, já no fim
mais que depressa vou procurar a remir
vou aproveitar o tempo que resta.
não vou perder tempo com o que não presta
vou ocupar meu tempo no que presta.
Abençoa Papai do céu e Papai da terra
Abençoa Mamãe do céu e Mamãe da terra.
Jadson Umbelino.
Compreendo o seu lamento e saudades, amigo Nailson.
ResponderExcluirA nudez dos seus sentimentos também me conduz a todo o tempo vivido junto ao meu inesquecível pai.
O lamento contido nesta crônica traduz o pesar daqueles que sofrem a ausência dos seus entes querido. E,como bem diz Jadson Umbelino, vamos procurar remir e aproveitar o tempo que resta daqueles que estão conosco.
ResponderExcluirFrancisca Joseni dos Santos - Professora
Parabéns, Nailson! Texto que deveria ser lido e relido por todos que ainda têm a chance de fazer seus pais felizes.
ResponderExcluirNailson, é impossível ler o seu texto e não ser tomado pela emoção, pela saudade do meu pai. Parabéns!
ResponderExcluirNailson,
ResponderExcluirBelos versos sobre o Tempo e sobre suas reminiscências filiais. Eles me tocam muito porque convivi um pouco com seu pai (homem tão simples e afetivo!). A saudade de todos os que o conheceram é muito grande!