Por que os intelectuais e os artistas de “expressão nacional”, aos quarenta do segundo tempo, ainda não entraram em campo, quando a nação, vestida de verde e amarelo, joga a sua mais expressiva partida dos últimos 21 anos? Por que não se fazem protagonistas de seu tempo num evento fundamental para a democracia, para a formação da consciência política nacional, sobretudo a de tantos jovens nascidos na era pós-impeachment? Não são os artistas os primeiros a protestarem na televisão, no rádio, na imprensa de um modo em geral, quando a liberdade de expressão é posta em xeque ou está sendo ameaçada? Por que estão tão silenciosos e inexpressivos? O quê os trancam nos armários da indiferença? A resposta a estas questões talvez esteja relacionada com a palavra “medo”, mas não o temor de também serem alvos das balas de borracha ou das bombas de gás lacrimogêneo que pululam nos confrontos eventuais que escapam aqui e ali ao controle nas manifestações que têm caráter eminentemente pacífico. Não, não é da violência repressiva do aparato estatal que têm medo; também não é o receio de serem exilados do país. É talvez um outro exílio que os amedrontam. É a possibilidade de se verem órfãos das benesses governamentais que financiam projetos personalíssimos e milionários com o dinheiro público por meio das leis de isenção fiscal e que favorecem também grandes conglomerados empresariais e midiáticos (notadamente as que beneficiam o setor da música, do audiovisual). É também o medo de serem preteridos ou boicotados como atrações dos eventos festivos de massa patrocinados pelos cofres municipais, estaduais ou nacionais, cujos cachês são simplesmente astronômicos. Não vislumbro outra razão para justificar essa apatia, esse imobilismo por parte da classe artística brasileira.
Como diz a clássica canção de Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É muito fácil bancarem os heróis da pátria quando convidados para programas de auditório. Nesses picadeiros, sentem-se a vontade para na condição de “arautos da nação”, dispararem as suas metralhadoras giratórias na mira de alvos genéricos como: “precisamos melhorar a saúde e a educação; não aguentamos mais tanta corrupção e impunidade em nosso país, etcetera e tal.
Artistas brasileiros, despertem do torpor que os imobilizam e venham para a rua mostrar a sua cara, a sua criatividade, a sua liderança, a sua voz, o seu carisma solidário junto aos jovens que tanto os admiram e que necessitam de referências nas quais possam confiar. Esses novos caras-pintadas não autorizaram os partidos políticos, não autorizaram líderes partidários a serem seus porta-vozes, mas certamente os autorizariam nessa interlocução pelo que a arte representa na transformação das ideias, na condução conscienciosa, isenta, apartidária e pacífica rumo a um país melhor. Concito-os a saírem para a luta por um novo Brasil, a se darem os braços, a cantarem com os jovens, sob pena da classe artística passar para história, nesse movimento, como cega, surda e muda. Viva ao ativismo que sempre fez parte da história artística de nosso país. Artistas entrem no jogo. A hora é essa!
Marcos Cavalcanti
Caro Marcos,
ResponderExcluirtalvez eu volte a comentar alguns trechos do seu belo depoimento. Enquanto não, lhe parabenizo pela iniciativa. Que saudades do meu tempo!
Um abraço fraterno,
Mauricio Anisio