domingo, 3 de junho de 2012

A Cidade dos Poemas - Epitácio Andrade


Monteiro/PB

A Cidade dos Poemas
                      No pórtico de acesso à cidade, um sanfoneiro conterrâneo e a flautista Zabé da Loca anunciam que Monteiro, capital do cariri paraibano, é a cidade dos poemas.
                                   Mas, foi Severino Lourenço da Silva Pinto (1895-1990), "Pinto do Monteiro", poeta repentista e um dos maiores improvisadores do Brasil, que imortalizou a cidade dos poemas, cujo legado está sintetizado no design arquitetônico de sua principal praça.
                        "Eu comparo esta vida/a curva da letra 'S'/tem uma ponta que sobe/tem outra ponta que desce/e a volta que dá no meio/nem todo mundo conhece", eis um pouco da sensibilidade e da perspicácia do poeta Pinto do Monteiro.
                                       A cidade respira poesia. Os estabelecimentos comerciais são decorados com poemas. Uma das principais pousadas do município adota o nome de poetas para designar os seus apartamentos e suas paredes são repletas de estrofes.
                            Natural de Monteiro, a poetisa Janice Japiassu é uma das homenageadas da Pousada dos Poemas. Radicada em Recife desde os anos sessenta do século passado, onde conheceu o mestre Ariano Suassuna, um de seus incentivadores, Janice expõe na sua terra natal a paixão pela capital pernambucana.
                                     Localizado na fronteira pernambucana, a cidade interiorana recebe a influência cultural da metrópole nordestina. Está exposto numa parede o poema "Recife, com paixão", onde a poetisa, com suavidade, revela as contradições da grande cidade do "descaminho do reino das águas".
                                   As águas do rio que dá nome ao estado da Paraíba nascem na Serra de Jabitacá, no município de Monteiro, na divisa com Pernambuco, e ao longo do curso dos seus 380 km até a foz na ilha da restinga, entre Santa Rita, Cabedelo e Lucena, o Rio Paraíba vai recebendo afluentes, entre os quais, recebe o rio Taperoá, oriundo das glebas onde o poeta Ariano Suassuna passou sua infância e conheceu os primeiros "improvisadores".
                                   A cerca da vastíssima produção cultural do menestrel Armorial, ressalta-se o poema "A Cantiga de Jesuíno", musicado por Capiba, que foi apresentado no Festival da Canção, em 1967, no Rio de Janeiro. Este poema é uma referência ao cangaceiro potiguar Jesuíno Brilhante (1844-79).
                                          Na toponímia da região, na circunvizinhança de Monteiro, está a cidade de Zabelê, nome de ave, mas também do cangaceiro-sanfoneiro do bando de Lampião, que inclusive afirmou ser de autoria do "Rei do Cangaço" a letra e a música "Mulher Rendeira". É em Zabelê, onde ocorre a "poética" e uma das mais tradicionais corridas de jegue do nordeste brasileiro.
                       A imponência do estilo gótico da igreja de Nossa Senhora das Dores no centro da cidade contrasta com o atraso de alguns aspectos do desenvolvimento econômico do município, como a desconexão com os sistemas de cartão de crédito.
                          Por outro lado, a implantação do Serviço Móvel de Urgência (SAMU) está em sintonia com o desenvolvimento sócio-cultural da cidade representado pelo resgate histórico do legado da obra de seus poetas.
                        Com poema, Rafael Menezes vai revelando o quotidiano da cidade do interior paraibano. "Se queres receberás/É cidade do interior/Pedindo conseguirás".
                         Já o ás do improviso Pinto do Monteiro, assim define o poeta: "Poeta é aquele que tira de onde não tem e bota onde não cabe".
                         E a terra natal também é definida em poesia: "Em Monteiro nasceu o riso/Tristeza passou por fora/Paro a vida, ali eu fico/O resto mando embora".
                         No poema do sapo, Onésimo cantador fala da determinação econômica do destino deste anfíbio: "O sapo é um animal que tem tudo, mas não vale nada! Tem couro, mas não dá bainha/Tem tripa, mas não dá buchada/Tem sangue, mas não dá chouriço/Tem leite, mas não dá coalhada". Para não ser injusto, noutras estrofes, o poeta repentista fala da importância do sapo na cadeia alimentar.
                       Os adereços da decoração são definidos, poeticamente. Animais da caatinga em cerâmica, canteiros de plantas xerófitas, a indígena rede de dormir, o galo de campina na árvore, a cadeira de cipó, móveis antigos, instrumentos museológicos, lavabo de louça, vitrais, instalações rústicas e um "carrinho de carneiro", representando a tradição econômica baseada na ovinocaprinocultura, completam o cenário lítero-poético deste recanto paraibano.
Canteiro de Macambira 
   Rede de dormir, uma invenção indígena
                                                                    Galo de Campina 
                                                                     
                                                               Carrinho de Carneiro
                                 A programação noturna não seria outra: Degustar a culinária cariri, baseada no binômio "bode-carneiro", e conhecer novos acervos de poesia.
                                   Epitácio Andrade e Cristina Cláudia

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Prezados Gilberto e Hélio,

      Esta reportagem foi produzida durante uma viagem em que tive a honra de representar a APOESC, no II Festival de Músicas do Cangaço, no dia 28 de abril de 2012, em Serra Talhada/PE.

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    2. Prezados Gilberto e Hélio,

      Esta reportagem compõe uma série que está sendo produzida a partir da viagem a Serra Talhada/PE, onde tive a honra de representar a APOESC, no II Festival de Músicas do Cangaço, na noite de 28 de abril de 2012.

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  2. Belissima Matéria caro amigo, fiquei maravilhado em conhecer mais um pouco da terra desse grande poeta.

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  3. Cultura é aqui msmo nesse blog, so tem coisa boa ufa

    ana mércia

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  4. QUERO CONHECER ESSA TERRINHA E PROVAR DESSA CULTURA. QUE MARAVILHA!

    PEDRO

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  5. OU TERRA BOA. EU GOSTO DESSAS COISAS ANTIGAS,DA CULTURA E TD MAIS.

    JOANA

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