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Ontem à noite tive um sonho estranho. ViSeverino morto, deitado num caixão e rodeado deflores. Eu sabia que estava triste, mas não chorava.Achava bonito ele todo arrumado, a camisa bem passadaabotoada até a gola, as mãos cruzadas sobre opeito. Severino parecia tão tranquilo. E eu também.A sala onde o caixão estava era grande e muitobonita. Só nós dois lá dentro. Eu ouvia de longe osino da igreja tocando, tocando. E o som ia ficandomais alto, como se chegasse perto da gente.Eu ia até uma janela bem grande, toda de vidro.Olhava para fora e a cidade parecia outra. Era grandee cheia de prédios altos e vistosos. Quando euvoltava para perto do caixão, era como se eu tivesseido contar a ele o que eu via. Mas quando me aproximei,ele não estava mais lá.Agora quem estava deitada no meio das floresera minha mãe. Eu segurava a mão dela e sentia elaapertando a minha de volta.Eu me lembro que não tinha medo, que ficava felizpor ela segurar a minha mão.Depois, eu subia na mesa e entrava no caixão aolado dela, ia me deitando, arrumando um lugar, eme deitava abraçada com mamãe. Era como se euconseguisse sentir o cheiro das flores.Eu dizia a ela que não estava com medo e ela segurava mais forte a minha mão.Foi quando ela me disse para fechar os olhos e eu fechei.Quando abri os olhos de novo, achei que estava acordada. Não havia mais caixãoe eu estava no quarto de Severino. Ele dormindo na cama, o lençol cobrindo acabeça. Eu me levantei e fui até a cozinha, mas quando cheguei lá vi meu paisentado, tomando café.Eu me aproximei e ele jogou a xícara de café quente em mim.Foi nesse momento que eu acordei de verdade, muito apavorada e com gosto desangue na boca.Senti medo, muito medo. Pensei em visitar papai, mas não tive coragem. Tambémnão contei nada do sonho a ninguém.
Dalva,
Currais Novos, 14 de dezembro
*Trecho do romance "Deus me perdoe por quem eu sou"
---------------------------------------------------------------------------------------------------Palavras do autor sobre a obra:
Saiu!
Está entre nós “Deus me perdoe por quem eu sou”, meu mais novo romance que cruza as vidas de Severino, Dalva e Naldo em uma história de amores, medos, incertezas, pertencimento e tantos outros sentimentos que fazem humanos os personagens e seus leitores.
Esse livro não conta apenas a história de seus personagens, mas a de muitas pessoas cujas vozes foram silenciadas.
O livro sai pela Editora Libertinagem e está em pré-venda no link
https://www.editoralibertinagem.com/product-page/deus-me-perdoe-por-ser-quem-eu-sou-de-theo-g-alves
Quem adquirir o livro neste momento recebe o desconto de 10% e ainda terá seu nome na página de agradecimentos do livro.
Além disso, tem livro em dobro se atingirmos a marca dos 100 exemplares vendidos nesta fase. - Theo G. Alves
Sobre o autor:
Theo G. Alves nasceu em dezembro de 1980, em Natal, mas cresceu em Currais Novos e mora em Santa Cruz, ambas no interior do Rio Grande do Norte. Foi premiado em concursos nacionais e regionais tanto por sua prosa quanto por sua poesia. Publicou os livros “Pequeno Manual Prático de Coisas Inúteis”, “A Máquina de Avessar os Dias”, “Doce Azedo Amaro”, “Caderno de Anotações Breves e Memórias Tardias” e “Inventário de Tão Pouco”, todos de poesia; “Por que Não Enterramos O Cão?”, de contos; e “A Cartomante que Adivinha O Presente” e “Peço Desculpas por esta Crônica (e por outras)”, de crônicas”. Publicou ainda o romance “Barreiro das Almas”. Já teve textos publicados em diversas antologias e revistas de diferentes partes do país. Theo continua escrevendo, entre silêncio e barulho, por acreditar na palavra como caminho, inevitavelmente.
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