segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

RECICLANDO A ROTINA

 



RECICLANDO A ROTINA 


Finalmente recebeu um interfonema importante. É para você. Alô!? O vizinho estava convidando-o para se candidatar a síndico do prédio enumerando defeitos da atual gestão e até se prontificou a ajudá-lo. À noite, quando eu voltar, conversaremos. 

Você vai querer assumir esse pepino? Recebi um chamado que deveria fazer algo de mais útil, só que eu não sabia que os céus tinham contato imediato com ele. 

Saíram para o trabalho, e durante o percurso, torço para perder a eleição, já que não tenho interesse em assumir um trabalho enquanto outros ficam no bem bom. Você ficará isento de pagar todo mês. 

Enquanto pensava na proposta, jogou o pensamento para o conto copromancia e ficou a imaginar como reagiria sua colega de trabalho se pedisse a ela para ver o mesmo que o personagem fez com a namorada. 

Perto das vinte e duas horas, chegou para decidir sobre a candidatura sem esquecer do outro conto que teimava em sua cabeça sobre uma jovem que ficou grávida e a aconselharam a ter o bebê com o objetivo de vendê-lo, só que quando o menino nasceu, ela o jogou no lixo, pois era aleijado e ela não iria dar o peito para alguém que nem servia para ser vendido. 

Acabei de chegar e daqui a pouco subo para discutir nossa campanha. Nem responde aos meus questionamentos, disse-lhe o outro proprietário indignado pela falta de atenção daquele que é pago para proporcionar conforto aos moradores. Fizeram um texto com as propostas, abaixo-assinado e partiu para o passeio semanal. Quando eu voltar lhe aviso. 

Depois da linha do trem, dobraram à direta seguindo o muro até apertar a cigarra. Um menino estava do lado de dentro e foi quem fez o portão deslizar da direita para a esquerda descortinando uma camisa de torcida organizada usada pelo pai. Você segue assim assim, disse o homem com cara de esfomeado. 

Será que estou no castelo do Drácula? Lembrou-se do orçamento feito pelo mecânico retirando os pneus para verificar os amortecedores que anunciavam uma disposição de mais de três mil para não escutar os tocs da estrada esburacada que se seguiu. 

Nem sabia que iria ficar sem internet durante e depois do almoço no caminho de uma mulher vendendo cocada de coco. Seu semblante detectava que ela estava distante como sempre fazem as pessoas insatisfeitas. Crianças brincavam de correr no refeitório, pelo menos estava diferente dessa vez. 

O encontro religioso trouxe também um homem negro com a cabeça raspada, sem bigode e com a barba por baixo do queixo dando a impressão que estava com um esparadrapo contornando o queixo. Cada vez que mastigava, os cabelos grisalhos subiam e desciam num verdadeiro personagem de desenho animado. 

Uma piscina de água esverdeada tinha um chafariz para dispersar o abafado do ambiente obrigando-o a passar o resto do dia ouvindo o barulho do ar esfriando o quarto com três camas e só um gancho para rede. Alguém furtou o outro, pensou na beira da lagoa divertindo-se em olhar a lua sendo coberta e descoberta por nuvens que prometiam derramar-se no final da noite. Um círculo de pessoas ouvindo um humorista chamava-lhe a atenção com piadas caseiras. 

Na sala de jogos, onde só lá os vídeos baixavam, deixou a experiência de mais calor da planície onde o vento ficou indiferente. Naquele momento, a dona caminhava com dois dragões que foram modificados geneticamente de vira-latas. Ela era bonita até virar o rosto para lhe mostrar as presas salientes de quem sugava o sangue das cozinheiras pálidas. 

O ambiente vazio expulsou para os auditórios quem veio participar do evento deixando as piscinas sem gritos nem choros das meninas que queriam descer no toboágua sem os coletes salva-vidas da noite anterior. 

Na saída, o galego ainda estava torcendo pelo time rubro-negro, e até tirou o chapéu mostrando a careca contrastando como resto do corpo queimado. Nada mais restava a fazer, a não ser errar o caminho de volta e entrar na dimensão do lar só à boquinha da noite. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

São José/RN, 29.01.2024 - 07h37min






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