gênese
para lucas pietro
um mundo dentro de mim
sua atmosfera
uma delicada membrana
num universo d’água
força centrípeta
colocando meu corpo em órbita
envolvo o pequeno planeta em meus braços
como se fosse possível senti-lo ainda mais perto
anseio por seu rosto
seu pouso sobre meu colo
quero lhe falar do meu amor
então...
estrela combusta: de supernova a buraco negro
e é ele quem fica à mercê da gravidade
nasce
um desconhecido íntimo
a filha de antes
agora é
mãe
Extraído do livro
Resenha do livro LAJES PINTADAS - por Macabéa Edições
'LAJES PINTADAS ', livro de estreia de Jakenia Nascimento, traz a morte e a vida como temas centrais, perpassando camadas de nostalgia voltadas à infância e à cidade do interior do Rio Grande do Norte, Lajes Pintadas, em que a poeta cresceu e viveu boa parte de sua vida.
O livro é fruto do processo terapêutico da autora ao lidar com o luto pela partida de sua mãe. Os poemas dialogam com as diversas fases do enlutamento: da negação da morte como suportabilidade, à dureza de "encarar o corpo sem vida".
A autora explora um universo imagético rico em detalhes. O eu poético se entrelaça com a poeta, vida e obra propositalmente se misturam e dançam juntas.
Jakenia traz referências diretas às obras de Eliana Alves Cruz ('Água de barrela') e Clarice Lispector ('A hora da estrela') em dois poemas, além de duas epígrafes que abordam o luto de uma filha e o nascimento de uma criança, de Maria de Lourdes Hortas (Romaria) e Lucia Forghieri (Flor de asfalto), respectivamente.
O prefácio é assinado por Anna Clara De Vitto, a orelha, por Silvia Barros, e a quarta capa, por Thainá Carvalho. A arte de capa é produzida por Caroline Silva a partir de uma pintura da artista plástica Maria Alice (integrante do Surto Criativo), feita em técnica de pontilhismo com aquarela.
"'Lajes Pintadas' é um testemunho benfazejo sobre a possibilidade da cor, sem melindrar nenhum matiz" (Anna Clara De Vitto).
"Em 'Lajes Pintadas', encontramos um lugar muito próprio. Um pouso para os olhos e o coração, enquanto a vida se desenrola nos cantos, nas pedras, nas ruas. Há delicadeza, há tristeza, há despertar. E, principalmente, há memória “'fiel até depois da morte'” (Thainá Carvalho).
A obra de uma mulher, segundo Silvia Barros, gera uma "expectativa de uma escrita de mulher, justamente porque se espera frustrá-la e encontrar nesses versos o fundo de humanidade – e uma humanidade frequentemente massacrada por outras humanidades que se colocam neste mundo como soberanas – que nos iguala e nos conecta." O que faz de 'Lajes pintadas' "um portal de expectativas do que é ser mulher".
Sobre a autora:
Jakenia Nascimento é Psicóloga, Gestalt-terapeuta, atriz amadora – como costuma se intitular – e mãe do Lucas Pietro. Nordestina, nascida no Rio Grande do Norte, apaixonou-se pelo universo literário na primeira infância. Encontrou na poesia o seu altar da espiritualidade e seu ofício psicoterapêutico. A partir desse lugar de cura processual, a poesia tornou-se seu desvio dos precipícios.
Participe da campanha: https://benfeitoria.com/projeto/lajespintadas1
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