AMOR
Amor, sentimento
de abrangência incomum, atribuições inimagináveis, significações diversas,
características múltiplas, atributos complexos. O termo, num jogo dos
interesses, tem sido compartimentalizado no espaço-tempo para se moldar às
caixinhas das particularidades humanas. Observando-se a abrangência de suas
titularidades, constata-se a posse indevida do amor e a sua fragmentação para permear
discursos e projetos no intuito de torná-los confiáveis, legítimos. Ah, o amor!
O escritor C. S. Lewis,
em sua obra The Four Loves, explora a natureza do amor na perspectiva cristã e
divide-o em quatro categorias: storge, philia, eros e ágape
- palavras advindas do grego, o que não tem sido suficiente para atender às
demandas sedentas do amor. No quadrante das necessidades humanas, o amor é
dinâmico, se eleva, é sublime, mas o amor também inclina, é de perdição.
Pasmem: tem até o amor desalmado, que para a lágrima dos amantes - no cardápio
dos amores - é o mais praticado! Há os que professam o amor verdadeiro, como se
falso o amor pudesse ser! E, nessa gangorra, cada um pratica o amor que lhe
convém. Imaginem só, o companheiro de Leila Diniz, em sua legítima defesa, alegou
tê-la matado por amor. Pelo visto, também temos o amor que mata! Argumentos
como este, dentre outros, têm sido usados para justificar inúmeras atrocidades.
Seria o amor atroz mais uma desqualificação do amor bondoso? Na diversidade que
o habita, o amor é atual: nas redes sociais os emojis do amor – coraçõezinhos –
são as coisas mais fofas e usuais!
No mundo dos amantes,
o amor não correspondido tem cor. “Vá, se
mande, junte tudo que você puder levar. Ande, tudo que parece seu é bom que
agarre já (...) os alquimistas já estão no corredor e não tem mais nada, negro
amor”. Dos escombros do amor, no coração de quem ama, resta uma gota de
generosidade: “(...) risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor e
não tem mais nada negro amor”. (It’s All Over Now Baby Blue - Bob Dylan / Negro
Amor - versão Caetano Veloso e Péricles Cavalcante).
Para o poeta
Fernando Pessoa, no máximo, no mundo dos apaixonados, o amor é ridículo: “Todas
as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem
ridículas. As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas (...)”.
Dissolvidas as
generalizações, eis que temos a mensagem do Apóstolo Paulo: “Ainda que eu falasse
línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, serei como sino ruidoso
ou como címbalo estridente (...)”. Como
também, diz: “O amor é paciente, o amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho (...)”. O amor é. E na dinâmica do espaço-tempo, revela-se
de várias formas. O amor é como incenso, em sua abstração se manifesta!
“Diego não
conhecia o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dumas altas, esperando. Quando o menino e
o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o
mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu
fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar,
tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!” (Eduardo Galeano). Ainda
que eu dominasse o conjunto de estudos que compõe a teoria da relatividade - Albert
Einstein -, não conseguiria relativizar um sentimento tão profundo e tão
peculiar. Como descrever um gesto de tamanha emoção, dependência, confiança que
só o amor reciproco pode vivenciar?
E, assim, o amor
vai seguindo seu curso, ora sendo o centro, autor da razão: amor de canção,
amor de mandamento, amor de salvação. Ora a margem, figurante da resultância:
amor de uma nota só, amor de resultados, amor de prisão. O amor que não afaga e
não enobrece é como o vinho que não embriaga, ambos permanecem presentes, tão
somente, no dicionário da involução.
Maria Goretti Borges
Lindo texto ❤️ realmente o amor tem ganhado muitos sinônimos e tem sido confundido, perdido na loucura da humanidade, mas o amor é são, é único, concordo com Paulo e Fernando Pessoa
ResponderExcluirIsso mesmo minha querida Siomara! Um forte abraço 🫂
ResponderExcluirMuito bom!!!
ResponderExcluirParabéns pela grande criatividade e pelas belas e emocionantes junções textuais sobre a definição do amor ou da palavra amor, porém concordo muito com a definição do Apóstolo Paulo!!
Obrigada João. Não tem como não concordar com Paulo, define o amor como ninguém! Um abraço 🫂
ExcluirO amor na sua complexidade requer gestos simples na sua expressão.
ResponderExcluirIsso mesmo minha querida Suzana!
ResponderExcluir@Maria Goretti Borges, mais uma vez parabéns pelo repertório discursivo. De verdade, suas crônicas é como um bálsamo para o nosso âmago, nos remete à reflexões profundas.👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMuito obrigada minha querida amiga Walteiza! Fico feliz com suas palavras de carinho e acolhida. 😘😘😘
ResponderExcluirDivinamente lindo❤️
ResponderExcluir❤️❤️❤️
ExcluirO amor é sem dúvidas o sentimento mais belo e raro, sim raro...
ResponderExcluirEm minha infância fiz minha primeira reflexão sobre o amor, baseada justamente nas palavras do Apóstolo Paulo... E que até hoje levo comigo. Que lindo reviver emoções e outras reflexões sobre o amor. Mais uma vez, prof. Goretti, belíssimo texto. Parabéns!
Hummmm, o amor é realmente um sentimento lindo! ❤️
ExcluirMe fez feliz ler esse texto hoje ❤️
ResponderExcluirMuito obrigada, que bom que vc gostou, assim tb fico feliz! ❤️
ResponderExcluirSeus textos são surpreendentes,sinto muito 'Amor' em lê-los
ResponderExcluir,pois quando você compartilha também está expressando seu Amor em diversas formas.Gosto muito da definição do Amor de
São Paulo em suas cartas aos
Coríntios,como gostaria de tê-lo,infelizmente ainda tenho que fazer uma longa caminhada.
Muito obrigada, fico bastante lisonjeada com as suas palavras, que sejamos sempre mensageiros do bem! Um forte abraço 🫂
ExcluirLindo texto! Sensibilidade, harmonia e elegância demonstra a crônica em definir com diversos parâmetros o que é o AMOR. Parabéns Goretti Borges.
ResponderExcluirMuito obrigada minha querida, suas palavras afagam a minh’alma! 😘😘😘
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