O TEMPO E A VIDA (MAIS UMA PRIMAVERA)
O tempo é tão majestoso
Mas de certo nos derrota
Deixa a gente experiente
Rugas na face ele bota
Sem compaixão nos liquida
Regendo a canção da vida
Sem tocar nenhuma nota
Eu vi a besta do tempo
Num galope sem medida
Anunciando os flagelos
Desta terra combalida
Sem um pingo de clemência
Vi os dentes da existência
Roendo o osso da vida
Reluto entregar-me ao tempo
Com seus caprichos medonhos
Nos estilhaços das horas
Persigo dias risonhos
Lançando flores de vida
Na palidez dos meus sonhos
Minhas maiores lições
Não aprendi na escola
O tempo dita os conselhos
O medo não me controla
Em cada queda um impulso
E o chão servindo de mola
Não sei por que tanta pressa
Se essa vida pouco dura
Somos fantoches do tempo
Placebos de criatura
Correndo não sei pra onde
Marchando pra sepultura
Aprendi com as veredas
A trilhar pelos atalhos
Saltar os muros do tempo
Pra me livrar dos cascalhos
E assim como os passarinhos
Saber pisar nos espinhos
Sem desprender-me dos galhos
Minha alma de menino
Na plenitude se lança
A canção da vida embala
Meu coração de criança
E sigo empinando o tempo
Com a linha da esperança
Passa o tempo carrancudo
Com toda velocidade
Roubando fardos de sonhos
Dos ombros da mocidade
Jogando as cinzas das horas
No mausoléu da saudade
O tempo esse cão feroz
A nossa vida ele aluga
Cada ano que se passa
Bota na gente uma ruga
É como um trem na banguela
E a gente pela janela
Querendo saltar em fuga
(Hélio Crisanto)
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