quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O TEMPO E A VIDA (MAIS UMA PRIMAVERA) - Hélio Crisanto

 



O TEMPO E A VIDA (MAIS UMA PRIMAVERA)


O tempo é tão majestoso

Mas de certo nos derrota

Deixa a gente experiente

Rugas na face ele bota

Sem compaixão nos liquida

Regendo a canção da vida

Sem tocar nenhuma nota


Eu vi a besta do tempo

Num galope sem medida

Anunciando os flagelos

Desta terra combalida

Sem um pingo de clemência

Vi os dentes da existência

Roendo o osso da vida


Reluto entregar-me ao tempo

Com seus caprichos medonhos

Nos estilhaços das horas

Persigo dias risonhos

Lançando flores de vida

Na palidez dos meus sonhos


Minhas maiores lições

Não aprendi na escola

O tempo dita os conselhos

O medo não me controla

Em cada queda um impulso

E o chão servindo de mola


Não sei por que tanta pressa

Se essa vida pouco dura

Somos fantoches do tempo

Placebos de criatura

Correndo não sei pra onde

Marchando pra sepultura


Aprendi com as veredas

A trilhar pelos atalhos

Saltar os muros do tempo

Pra me livrar dos cascalhos

E assim como os passarinhos

Saber pisar nos espinhos

Sem desprender-me dos galhos


Minha alma de menino

Na plenitude se lança

A canção da vida embala

Meu coração de criança

E sigo empinando o tempo

Com a linha da esperança


Passa o tempo carrancudo

Com toda velocidade

Roubando fardos de sonhos

Dos ombros da mocidade

Jogando as cinzas das horas

No mausoléu da saudade


O tempo esse cão feroz

A nossa vida ele aluga

Cada ano que se passa

Bota na gente uma ruga

É como um trem na banguela

E a gente pela janela

Querendo saltar em fuga


(Hélio Crisanto)

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