quinta-feira, 19 de outubro de 2023

PAI - Nelson Almeida



PAI


Pai, a gente se encontra 

Na hora do almoço, 

No seu ofício, 

No som da sua voz. 

A gente se esbarra 

Nas suas palavras, 

No seu olhar 

Distante de nós.

Um dia, na sala, 

Numa noite fria, 

Beijei o seu rosto 

Enquanto você dormia.

Saí de fininho, 

Com muito cuidado, 

Chorando baixinho, 

Pra não lhe acordar.

O tempo passou, 

Eu tive meus filhos, 

E num final de ano, 

Fomos lhe visitar. 

O seu olhar 

Mirava meus olhos, 

E um aperto no peito 

Me pôs a chorar.

Você sorriu, 

Me deu um abraço, 

E no meu ouvido, 

Me disse baixinho:

"Muito obrigado 

Por seu carinho. 

Você me ajudou 

A continuar.

Naquela noite, 

De chuva e sereno, 

Bebi um bocado 

E fiz besteira. 

Chegando à cidade, 

Descendo a ladeira, 

Pensei no rio, 

Meu carro atirar.

Mas voltei pra casa, 

Com o peito vazio, 

A alma pesada, 

O olhar sombrio, 

Pensando em mais nada, 

A não ser morrer.

Foi quando você, 

Criança sem porto, 

Beijou o meu rosto, 

E me fez entender 

Que nenhum problema 

Nessa vida é mais forte 

Do que o amor 

Que me liga a você."


Nelson Almeida. Campina

Grande/PB. 26/09/23. 03:22.

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