JÁ É UM GRANDE PASSO FAZER PARTE DAS ESTATÍSTICAS
Em nome dos meus coleguinhas, quero agradecer a todos vocês pelos presentes embrulhados que jamais serão abertos. Quero agradecer também aos palhaços que enveredaram nessa profissão pensando nas inocentes gargalhadas que se desprendiam da nossa ingenuidade a cada tropeção ensaiado no picadeiro.
Como era bom ser criança sem nenhuma preocupação em elaborar um pensamento voltado para discriminar quem pensasse diferente de nós. Fico com saudades do tempo em que bastava um pouco de atenção para nos alegrarmos; tenho saudades da época em que nos juntávamos no parquinho para usar o escorrego, o balanço e a casinha da árvore sem se importar se estava fazendo sol ou chovendo. Hoje eu oro para que as crianças que ficaram possam fazer o mesmo que fazíamos.
Para nós que fomos embora, é com imensa alegria poder nos comunicar com vocês neste momento mágico de interação. Só agora é que percebo que fazíamos parte de uma só família a nível mundial.
É com saudades que nos juntamos em um só coro para dizer aos pequenos e pequenas que eles são importantes para o mundo, e que sem vocês, os que se declaram grandes perdem o referencial de que um dia foram assim, puros.
Éramos o verdadeiro significado de esperança; nós, sem mesmo saber, fazíamos nossos pais se levantarem cedo para irem trabalhar com a certeza de que significávamos suas vitórias.
Este momento significa muito mais do que a oportunidade de ter total discernimento do que somos. Significa dizer que o mundo não tem graça sem a nossa presença; significa dizer o quanto são ingênuos os que se dizem racionais no momento em que permitem que sejamos mortos como vira-latas.
Nunca é tarde para se aprender que uma vida depende de outra para ser feliz. A energia emanada da nossa inocência é que faz a humanidade ultrapassar a barreira das incertezas. A convivência no lar, na escola ou no trabalho, sempre fomos nós que a transformamos.
Saímos da vida propriamente dita com a alma renovada pelos bons fluidos que tivemos oportunidade de emanar pelo pouco tempo vivido. Que nosso grito não fique perdido no meio do deserto; nossa missão na terra era semear a paz e o amor na festa mais bonita de todas conhecida por confraternização entre raças. Reforçávamos o amor nos nossos pais que acordavam de madrugada para irem trabalhar levando nosso sorriso como recompensa. Queríamos apenas cumprir com nosso papel de mensageiros do amor entregando a essência do bem para os bem-aventurados. É por isso que viemos esclarecer que é através de nós que se consegue intensificar a energia original que está em tudo que existe. Essa energia, materializada em nós crianças, também tem a função de elevar os sentimentos além do que somos capazes de se conseguir sozinhos.
Este momento de acontecimentos esdrúxulos, nos faz ter consciência de que devemos abraçar imediatamente os que permanecem ameaçados. Reconheçam, enquanto é tempo, o nosso valor, e aqui me despeço juntamente com centenas de coleguinhas que tivemos nossas vidas ceifadas no conflito na faixa de gaza.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 18.10.2023 – 12h18min.
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