quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O SOL SALVANDO VIDAS

 


O SOL SALVANDO VIDAS


Convidou o amigo e a esposa para um churrasco em casa. Chegou atrasado, hein? Rou Rou Rou! Só riu. Ele não é papai Noel, mas parece ser, de tão bom que é. 

De tempos em tempos, encontram-se para colocar as conversas em dia. Eu peguei COVID, disse sentando-se sem parar a conversa. Foi logo no começo da pandemia. Fiquei em casa trancado no escritório, a mulher batia na porta, deixava o prato e saía pra se isolar. No início, era um terror só. Eu me sentia um lobo solitário, pegava o prato e ficava pensando: será que vou resistir até amanhã? 

Quando eu botava a cabeça na janela, só via a correria dos vizinhos entrando em casa e fechando as portas. Não dava nem tempo eu pedir pra eles comprarem um remédio.

Uma vez, percebi uns passos na calçada e logo em seguida uma voz gritando: ei, cuidado que o homem dessa casa aí está com COVID! Escutei o cabra pulando pro meio da rua. Quando coloquei a cabeça no portão, o vizinho da esquina gritou: se sair vai ser preso, viu!?

Rapaz, o negócio era desmantelado. Eu não podia sair na rua para ir ao hospital, mas pra ser preso eu podia. Rou Rou Rou!  

Dias depois, consegui ser atendido. A médica passou uns exames e quando voltei para apresentá-los ela foi logo dizendo: vou precisar viajar, mas um infectologista amigo meu vai lhe atender. Entrei na sala e mostrei a papelada... E aí doutor? Ele fez um gesto na boca dizendo é assim mesmo e vamos ver como é que fica. Voltei pra casa e a mulher perguntou: o que aconteceu? Você saiu bonzinho e voltou pior!? O doutor não me deu nem esperança. Vou ter que ir à capital. 

Telefonei para os meus irmãos, contudo nenhum quis ir dirigindo. Os taxistas também se recusaram a me levar. Lembrei-me de um outro irmão que mora no sítio e liguei. Eu vou na hora, disse ele demorando a chegar.  Liguei novamente pra confirmar, foi quando escutei: rapaz, acho que não vou não! Essa doença aí mata todo mundo, e o cabra não pode nem chegar perto porque pega. Aí eu me afobei: pois eu vou aí cuspir, lamber e morder todo mundo da sua casa... se prepare que eu chego já, viu!? Homem tenha calma que eu vou ver aqui se meu filho vai com você. 

Meu sobrinho é mais vexado do que o pai. Não passou nem vinte minutos, ele buzinou. Entrei no banco de trás coberto com um plástico. Que marmota é essa? É para lhe proteger do vírus. Por mim não porque eu vou dirigindo sem máscara, disse ele arrancando em busca da capital. 

Chegando ao hospital, eu disse fique aqui fora que eu vou entrar sozinho. Quando fui entrando tinha uma senhora chorando no pronto-socorro. O que foi, minha senhora? É que a médica disse que não vai me atender porque eu estou com COVID. Ora não vai! Tomei as dores da senhora que tinha a idade de ser minha mãe. Um bocado de técnicas de enfermagem só olhando de longe sem fazer nada. Bati na porta e entrei logo dizendo: olhe, esta senhora vai ter que ser atendida porque está precisando. Depois de muita insistência a médica atendeu também a mim. 

Quando voltei para o carro, o canto mais limpo. Meu sobrinho tinha desaparecido. Quando penso que não, lá estava ele assistindo televisão, sem máscara, dentro do hospital. Mas rapaz, você está aqui no foco da COVID sem máscara!? Tem nada não, disse ele.

Fui à portaria reclamar:  o senhor guarda deixou aquele ali entrar sem máscara? Eu nem vi quando ele entrou. 

Voltamos pra casa e graças a Deus escapei para contar a história, e só sei que quem é doido não pega COVID. Estou brincando, mas parece que quem possui o nível alto de vitamina D  fica imune ao coronavírus, e como meu sobrinho vive trabalhando no roçado de sol a sol...


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 26.10.2023 - 11h43min. 




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