O SILÊNCIO DA PEITICA*
Grassava a idade meã da década em que as novidades eram o biquíni de Brigitte Bardot, os primeiros passos do homem na lua, os meninos de Liverpool nasciam para a eterna tietagem mundial. Nos sertões dos Seridós x Seridós, a sinfonia ficava por conta da sonoridade das biqueiras esboroando as chuvas torrenciais dos invernos a cada ano mais abundantes.
Nessa toada, os bichos de pena na sementeira desfilavam seus cantos, e dentre muitos, um se destacava no seu púlpito preferido, a ponta da estaca mais alta, a PEITICA, com sua estridência, era o celebrante mais entusiasmado, e nas manhãs de sol tropical, chegava ao orgasmo de desfalecer e cair no chão pelo cansaço, no seu ritual típico e diferente dos outros pássaros.
Se naqueles tempos assistia essas sinfonias, nos tempos presentes, não só a peitica, como muitas outras aves, como o xexéu bico de osso, o gavião vermelho, o jacú do juremal, a ema com seu tropel desenfreado quando se deparava com um solitário vaqueiro, assuntando vaca parida amoitada, (Na fazenda "Esperas" do Major Marinheiro Saldanho), bandos viviam nos descampados do tempo (depoimento de meu pai, que sempre ia àquele feudo, no Mercury de Marinheiro, para o fim de caçar rolinha para os macacos deste latifundiário).
Mormente, naquelas nesgas de baixios e rios, não se ouve mais o Canto da Peitica.
Resta uma saudade silente, sepulcral, parte de seu bando foi dizimada, os sobreviventes migraram para outras terras.
*PEITICA: Pássaro nordestino.
J.E.S.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”