VAIDADES EXACERBADAS
Hoje, ele amanheceu, mais uma vez, com preguiça de falar. Claro que existem milhares de assuntos à disposição, mas é preciso querer gostar deles. Neste momento, veio-lhe a imagem de Pedro encontrando o Brasil perdido em seu caminho. O resto do que Cabral fez todos já sabem, por isso nem adianta dizer que ele estava interessado era mesmo nas índias, mulheres dos índios.
Prosseguindo sua varredura, encontrou Immanuel querendo ser falado. Calma kant, disse ele se escondendo do filósofo alemão. Se eu falar em sua doutrina do idealismo transcendental, pouca gente vai prosseguir a leitura. Diga pelo menos que eu nasci no dia que o Brasil foi descoberto, 22 de abril. Tudo bem, posso até dizer, só que muita gente vai confundir achando que você nasceu em mil e quinhentos. É só você acrescentar que foi em 1724. Eu sei que a data do seu nascimento é importante, mas acho que o seu pensamento é muito mais. Eu também concordo, até porque o espaço e o tempo são meras formas de intuição que estruturam toda a experiência... e digo mais: os objetos da experiência são meras aparências. Está vendo!? Já começou a complicar, por isso não quero falar em você. Apenas, fazendo-lhe um favor, posso dizer que você morreu no dia 12 de fevereiro de 1804. Eu não morri, sou igual a Elvis Presley. Fisicamente sim, porém o que vale é o pensamento interligando-se com outros, e o meu continua sendo debatido nas maiores Universidades do mundo. Tudo bem, mas acho melhor falar de um muito mais inteligente do que você. Quem? Leonardo da Vinci. Deixa de ser besta, rapaz, que inteligência não há como se medir. Alto lá, disse Leonardo chegando para a discussão. Há, sim! Você vai bem dizer que o teste de Q.I. não tem importância!?
Peraí, interferiu o escritor já vendo que estava perdendo o controle da página. Não adianta começarem a tumultuar só para que eu aceite falar em vocês. Exijo meu direito de resposta, disse Elvis aparecendo todo penteado defendendo que ele realmente não tinha morrido. O escritor fechou Elvis em um baú para que não começasse a tocar um rock and roll tumultuando ainda mais este espaço.
Muito bem, Leonardo, reservo umas linhas para você dizer o que fez. O que ele fez muito bem foi pintar a amante Monalisa e acha que foi o bastante, ironizou Kant. Você não prova que ela era minha amante, até porque eu sempre achei a relação entre homem e mulher repugnante. Calma gente, não vamos transformar este espaço num ringue egocentrista.
Eu posso falar? Quem é você? Sou o Francês Alfred Binet, o inventor do teste de Q.I., e como falaram no meu teste eu acho que por direito posso entrar na discussão. Nós falamos, mas isso não altera em nada, interferiu Kant mudando sua atenção para os microfones da página onde disse que fez muito pelo pensamento ocidental, inclusive que tinha sido um dos principais pensadores do iluminismo, e continuou. Lembro-me muito bem que até hoje ninguém quase entende o meu livro Crítica da Razão Pura, e isso é uma demonstração de que eu sou o cara.
O psicólogo francês Alfred Binet logo interferiu. Claro que você sempre foi um homem de pensamentos inovadores, mas tudo isso não lhe dá o direito de se vangloriar. Eu concordo, disse Leonardo, porém não poderia deixar de dizer, humildemente, que me destaquei como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.
O escritor, não encontrando uma brecha para desenvolver algo mais pé no chão, encerrou o texto.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 28.10.2023 – 12h25min.
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