sexta-feira, 24 de junho de 2022

A DESFAÇATEZ DO DISCURSO - Maria Goretti Borges

 


A desfaçatez do discurso

 

Em conformidade com “A fábula dos dois lobos” o homem tem o livre arbítrio e o poder para escolher, dentre os lobos que o habitam, qual alimentar. Os lobos alimentados determinam as relações sociais e também as lutas internas nossas de cada dia. Partindo-se desse entendimento, o alimento para a alma é tão ou igualmente necessário quanto o alimento para o corpo. Quiçá ambos estão imbricados, complementando-se, uma simbiose!

O lobo que você alimenta rompe a esfera individual, adentra a esfera social, construindo-se um espaço transitável, com movimentos determinantes.

Muitos são os estratagemas adotados desde tempos remotos para confundir as mentes quando a temática em pauta é o bem e o mal. “O lobo em pele de cordeiro” não é apenas um personagem, são personalidades e estão presentes nas páginas dos livros, são oficiais! O que impressiona mesmo não é a sua presença na história da humanidade, mas a sua capacidade de travestir o bem em mal e vice-versa, de transformar doce em fel e apropriar-se das palavras ditas para a libertação dos homens em correntes opressoras. Discriminar, injuriar, matar de fome, subjugar, escravizar, dissimular são apenas alguns de seus atributos, aos olhos e aplausos de muitos. Segundo Hobbes, essencialmente o “Homem é o lobo do homem”. Incompreensível o quanto o despropósito, ou seja, coisas tão irreais ocupem o centro do debate em detrimento dos problemas concretos que afetam os povos em todos os tempos e lugares. Observemos o que está acontecendo na Ucrânia e também “num ponto equidistante entre o atlântico e pacífico”. Só para exemplificar.

As pessoas estão apressadas, as perguntas rasas e as respostas imediatistas, tudo permeando a superficialidade! A justiça está de olhos e mentes fechados. Leva-se dias para encontrar os assassinos de Dom Phillips (jornalista) e Bruno Pereira, mas algumas horas apenas para concluir que não tem mandantes, nem motivos para tamanha perversidade. Como assim?

Dentre os inúmeros fatos a serem refletidos, está a velha retórica dos “lobos velhos e maus”, cite-se: os discursos vazios de conteúdo, descontextualizados, carregados de preconceito e falsa moral, uma desfaçatez do mal, o lobo na sua mais perversa versão.

“Não se coloca vinho novo em odres velhos” (Mateus 9:14-17; Marcos 2:18-22; Lucas 5:33-39). Sujeitos historicamente desprovidos de pudor (farsantes), com práticas autoritárias, sem compromisso com o bem público. Não poderia e não está em seus projetos de poder a possibilidade de políticas voltadas para harmonização, promoção da justiça e da equidade social. Um contrassenso, seria!

“Ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da roupa e o rasgo aumenta” (Matheus 9:16). Uma sociedade com um tecido social esgarçado como a nossa, necessita de projetos políticos condizentes com as necessidades reais de seu povo, contemporâneos. Cada homem é senhor do seu tempo, uma nova aliança para cada época!

Dentre os inúmeros questionamentos que encontramos, eis um pensamento afirmativo: é preciso equacionar para encontrar solução ou soluções, ou encaminhamentos para inúmeros problemas que nos afligem.

Na dinâmica da vida “as coisas se transformam e isso não é bom nem mal”. Apenas faz parte da dinâmica. Os problemas e suas soluções são cíclicos. Uma coisa de cada vez! Então, entremos em ação, já sabemos o que temos para o ano de 2022.


Maria Goretti Borges



3 comentários:

  1. Texto verdadeiro. Exatamente assim. Mas muitos não estão preparados para "ver" e/ou ler estas verdades. Goretti Borges sempre certeira. Parabéns!!!!

    Joseni

    Francisca


    Francisca Joseni dos Santos

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  2. Mais um texto de elevada qualidade, amiga Gorete, digno de nossas reflexões. Parabéns!

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