QUANDO A ALMA ENGANCHA NO ARAME DO PASSADIÇO
Nos sovacos de serras, em trilhas estreitas, vez por outra nos deparávamos com cercas de arame ou mesmo de pedra, nas divisas dos feudos, adereçadas de um passadiço, em cuja crista havia um fio de arame farpado. Os desatentos, não raro, ao passarem a perna para a travessia, tinham seu vestuário espetado por uma farpa, cuja presilha inesperada, aprisionava de forma que não se via, e inconveniente para distorcer e liberar o vestuário, e o próprio corpo.
Trouxe essa cena aldeã, para, pegando a aselha do presente quotidiano, que embaraça o livre pensar na vocação de encontrar as premissas, que permitam o reencontro com o estuário da utopia intrínseca na alma de cada um de nós, tecendo o presente e vislumbrando o futuro na estação da normalidade.
Na estação da dubiedade, o trem faz a rota do inverso. E, sendo assim, bate a saudade da sala de reboco, onde os acordes das antigas concertinas, despertavam o entrançado de corpos a velejarem nas danças em forró pé de serra. Do cênico de meu avô Eloi de Souza, confeccionando um nó de rosa, na extremidade da corda para o laço de semoventes do conserto de gastas cunhas de pião para pô-las no eixo do carro de boi, o que aviva o gemido pelas estradas empoeiradas do meu Sertão.
...E essa saudade, traz o aperto na cilha de sustentação da sela ou cangalha do animal equino ou muar; Da ferra dos bezerros desmamados para a solta nos campos abertos; O esgotar da novilha parida, deixando um pouco do colostro para sua cria; das argolinhas no "Riacho do Saco", montado em cavalo de pau e adereçado da faixa vermelha em papel crepom, feito por Lero do Caboclo Antônio de Virgínio Velho. Da ternura com os bilros de Isabel de Dubelo, tecendo as franjas brancas para adereçar centro de mesas.
Bate a saudade, ainda, do tic-tac de persistentes pica-paus furando o miolo de velhas aroeiras para construir seu ninho; Das casacas-de-couro, no seu trabalho incansável fazendo a cidadela para depositar seus ovos; de colher o fruto do xique-xique, deslumbrando em sua cor róseo-avermelhado; dos sonhos em noite de natal, a espera dos pequenos velocípedes que Papai Noel, deveria depositá-los debaixo de nossas redes, quando a noite debutasse sua negritude.
Enfim, esse tropel que nos presenteia com essa estação lerda, de vozes quase do além, mas fazendo de cada um de nós, seres de "crina acesa", como diziam os antigos nos Seridós-Seridós.
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