40 ANOS DA TRAGÉDIA QUE ABALOU O RIO GRANDE DO NORTE
Tarde de 01 de abril de 1981, imagine se alguém ligasse para você pedindo que deixasse sua casa imediatamente que a cidade iria ser inundada a qualquer instante, naturalmente você entraria em desespero, no entanto se esse pedido fosse feito em uma data específica, 01 de abril (Dia Nacional da Mentira), logo você não acreditaria de imediato ou ficaria em dúvida, mas o que aconteceu foi real a exatos 40 anos em Santa Cruz no Rio Grande do Norte.
Na tarde daquele dia o telefone toca no gabinete do Prefeito Hildebrando Teixeira de Souza, do outro lado da linha, quem falava era a telefonista Maria de Fátima da Silva do posto telefônico da Telern em Campo Redondo - RN, aflita ela comunica ao prefeito de Santa Cruz que o Açude Mãe – D’água em Campo Redondo estava prestes a se romper, de imediato Hildebrando começa a tomar as providências, colocando carros de som nas ruas e pedindo a população que saíssem de suas casas e se protegesse na parte alta da cidade e se possível deixasse Santa Cruz, pois a barragem Mãe d’água em Campo Redondo distante 25 Km iria se romper a qualquer momento.
As chuvas torrenciais não paravam de cair e a barragem se rompe, a população aterrorizada temia pelo inesperado e começa a abandonar suas casas na tentativa de salvar suas próprias vidas. Em três horas as águas chegam a Santa Cruz invadindo e destruindo tudo que se tinha pela frente.
A catástrofe destruiu mais de 1000 casas por onde a enxurrada passou deixando um rastro de destruição, duas pessoas morreram, 5 mil ficaram desabrigadas, o Estado do Rio Grande do Norte ficou sem luz e água por cinco dias, o governador na época o Dr. Lavoisier Maia decretou estado de calamidade pública em toda região do Trairi, a correnteza ainda percorreu 80 Km e atingiu outros quatro Municípios.
Mas graças a atitude da telefonista Maria de Fátima da Silva em comunicar com antecedência a iminente tragédia muitas vidas foram salvas e ela se tornou a heroína do Rio Grande do Norte.
Quando este fato aconteceu o Poeta cuiteense Dinamérico Soares descreveu em versos a referida tragédia. Abaixo o relato poético da catástrofe que abalou o Rio Grande do Norte.
Eliel Soares – Historiador
O DRAMA DE SANTA CRUZ
Peço ao Senhor das alturas
Um pouco de sua luz
Para assim eu descrever
Pois só ele me conduz
O drama das invernadas
E das tristezas causadas
Na cidade de Santa Cruz.
Reinava perfeita calma
Naquela boa cidade
As chuvas iam caindo
Em tom de prosperidade
Todos estavam contentes
Plantando suas sementes
Na maior tranquilidade.
Parecia que até
Santa Rita padroeira
Tinha atendido aos pedidos
Daquela hospitaleira
Gente simples, fervorosa,
Que tanto lhe davam rosas
Com a fé verdadeira.
Assim o verde brilhava
Nos campos, na plantação
Tudo agora era esperança
Mudado estava o sertão
E as águas sempre correndo
Os açudes se enchendo
Sanando a situação.
Era chuva em abundância
Chega dava gosto olhar
Os enormes sangradores
Tão grossos a esborrar
Cada vez mais se enchendo
Os açudes do lugar.
Os maiores e mais fortes
Além de muito se encher
Iam recebendo outros
Que deixavam de viver,
Paredes foram trincando
E os donos se lastimando
Sem saber o que fazer.
Faça juízo, portanto
Do quadro de aflição
Todos os filhos deixando
Sua cidade-torrão
Que brevemente seria
Um resto, uma lama fria
com a grande destruição.
E assim a metros de altura
Ouve a total invasão
No “ paraíso”, este bairro
Foi grande a demolição
Mil e tantos outras casas
Caíram feitas torrão.
Objetos de mil tipos
Se foram na inundação
Homens que deitaram ricos
Acordaram sem tostão
Foi-se as pobres taperinhas
Das gentes tão pobrezinhas
Também foi as do barão.
A turma de uma “C – 10”
que trilhavam sem saber
Na ponte se liquidou
um pode se socorrer
Pendurado num coqueiro
A noite, o tempo inteiro
Resfriado a padecer.
Vendo a hora o coqueiro
Cair e ele morrer,
Pois logo dentro do Rio
Isto foi acontecer
O coqueiro balançava
For socorro ele gritava
Sem ninguém aparecer.
Disseram os mais antigos
Nunca viram inverno igual
Pois assombrava a todos
Algo estava desigual
Os cientistas falharam
Isto muito comentaram
Para mudança total.
O maior pavor seria
O velho açude “ Mãe D’água”
Vizinho a campo redondo
Quase seis légua de água
Se arrombasse seria
A mais horrível agonia
Clamor, morte, e muita mágoa.
Pois inundar Santa Cruz
Era sua solução
Desaguava em outros dois
Açudes da região
E com o rio completava
A calamidade brava
De extravasar coração.
Agora escutam leitores
O lado II da história
O ano 81 se encravou na memória
Do povo do Trairi
Ficou as marcas ali
Duma invernada sem glória.
Foi justamente senhores
O que ali sucedeu
O forte açude “Mãe D’água”
As suas forças perdeu
E aos turbilhões soluçando
As águas foram secando
E seu rumo percorreu.
Antevendo o tal perigo
Ligaram prá Santa Cruz
Que o povo se retirasse
Pelo nome de Jesus,
O povo então desertou
Enquanto apagou-se a luz.
Mil e duzentas famílias
Perderam seus bens, seu pão
Uns perderam armazéns
Avaliado em milhão
Enquanto em um talhado
Zé disse que foi achado
Uma porca e um barrão.
Mas graças a Hidelbrando
Que é um Prefeito padrão
E dos estados vizinhos
A imensa coalisão,
A todo Rio Grande do Norte
Com fé, esperança e sorte
Triunfará nosso irmão.
Dá pena ver o destroço
Parece o fim de uma guerra
Coitada de Santa Cruz
Tem mais cruz em sua terra
Só a cruz de nosso Pai
A livrará deste ai
Pondo o braço em sua serra.
Cuité – PB /1981.
Autor: Dinamérico Soares do Nascimento
Acervo: Eliel Soares
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