DESPEDIDA DE UM VAQUEIRO
I
Quero falar de um colega
Uma pessoa excelente
Honrado, sério e disposto
Corajoso e competente
Que na Fazenda Alegre
Era vaqueiro e gerente.
II
Seu nome é José Pimenta
Esse grande amigo nosso
Que com muita habilidade
Zelava de qualquer troço
As amizades eram tantas
Que eu dizer todas não posso.
III
Um dia tomou um plano
De entregar a fazenda
Chamou o patrão e disse:
É bom que o senhor entenda
Que o Sítio do Cabeço
Já garante a minha renda.
IV
Eu ali na Casa Branca
Minha vida não arrisco
Vou trabalhar numa terra
Que dá com qualquer chuvisco
Voou fazer a plantação
Na Baixada no Arisco.
V
O senhor arranje outro
Que eu vou me retirar
E se houve alguma queixa
Peço pra me desculpar
E se precisar de mim
Pode mandar me chamar.
VI
Mas quero fazer-lhe um pedido
Pra não vender meu cavalo
Não vou chorar com vergonha
Mas estou sentindo um entalo
Se Deus me der condições
Um dia eu venho comprá-lo.
VII
E suspirando dizia:
Minha paixão não se acaba
Ali na Serra do Mel
Campeei naquela aba
Lá do Alto do Mocós
Para a Gruta do Quixaba.
VIII
Do Alto do Zabelê
Até o Tamanduá
Da Baixa da Berduega
À divisa do Jucá
E na Lagoa da Onça
Sempre campeei por lá.
IX
Aí Cláudio, muito triste,
Disse: O que posso fazer?
Vaqueiro igual a Pimenta
Ainda falta nascer
E se já nasceu algum
Morreu antes de crescer.
X
Entregou logo a fazenda
Ao motorista Braulino
Que era de confiança
E um coração genuíno
E o gado a Manoel Lulu
Que também não bate o pino.
XI
Pimenta se despediu
E veio embora pra chã
Levanta de madrugada
Quatro horas da manhã
A hora que ele acordava
Com o grito da cauã.
XII
Sai direto pro terreiro
Se senta lá no batente
Olha para o céu e diz:
Oh, meu Pai Onipotente,
Proteja um pobre vaqueiro
Que da luta está ausente.
XIII
Chama Lêle e lhe diz:
Minha velha, eu não mereço
Todo dia eu desço e subo
Todo dia eu subo e desço
Já cansei da caminhada
Do Arisco pro Cabeço.
XIV
Quantas noites perco o sono
E quando durmo é sonhando
Que estou campeando o gado
Dentro da mata aboiando
Essa saudade malvada
Vai me seguir até quando?
XV
Sonho selando o cavalo
Escuto o som do chocalho
Lembro do café gostoso
E daquele queijo de coalho
Que eu comia todo dia
Antes de ir pro trabalho.
XVI
Parece que estou ouvindo
O barulho da perneira
O apito da cigarra
Na casca da aroeira
Ouço o trupé do cavalo
Às vezes escuto o estalo
Da “bage” da catingueira.
XVII
Peço desculpas aos leitores
E também ao companheiro
Me perdoe, José Pimenta,
Se não fui tão verdadeiro
Mesmo assim quero dizer
Se prepare para ler
A volta do bom vaqueiro.
XVIII
Pra falar de Zé Pimenta
Da saída e do regresso
Como a notícia da volta
Vai causar grande sucesso
Da grande satisfação
Dele e do seu patrão
Falarei no próximo verso.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popular Daxinha
07/11/1970
Que coisa linda!! E que delicadeza com a foto, a deixando colorida!! Mais uma vez, só gratidão, Gilberto!!
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