sábado, 10 de abril de 2021

INFLUÊNCIA ALIMENTAR - Heraldo Lins



INFLUÊNCIA ALIMENTAR  


Comecei a prestar atenção na minha alimentação e descobri que o arroz me traz alegria, lentilha me dá calma e batata, frouxidão. Alimentar-me conscientemente passou a ser uma forma de escolher como quero estar. Quando vou às compras fico consultando a agenda para certificar-me dos eventos que tenho durante a semana. Comprei maracujá para consumi-lo antes da palestra. Banana e ovos para namorar. Mesmo eu não gostando, recomendo pimenta malagueta quando se vai para uma pista de dança ou de atletismo. Além de ingeri-la, deve-se passar nas partes sigilosas do corpo. Ainda bem que não gosto de dançar e nem de correr.


Depois dessa fantástica descoberta, olho de forma diferenciada para os vegetais. Percebo que são seres inteligentíssimos que usam seus frutos para manipulação dos humanos. Meu comportamento depende deles, e não é só comigo que isso acontece. Todos os avanços científicos foram influenciados por comida. A prova é que uma macieira estava querendo saber sobre força da gravidade, então, usando da sua sabedoria, deixou cair uma maçã na cabeça de Newton. O mesmo aconteceu com a Jaca. Galileu a utilizou, junto com uma cebola, para comprovar a teoria da queda livre dos corpos. 


O mundo é regido por esses manipuladores. Além de me precaver no que vou comer, estou plantando árvores geneticamente modificadas. Consegui uma muda com João do pé de feijão. Trabalhei bastante para deixar o feijoeiro à altura de dois metros, e com isso não precisar arrancá-lo a cada safra. Misturei a genética do baobá com milho, e dessa maneira teremos canjica e festas juninas o ano inteiro. A soja será enxertada com manga visando uma produção casada de frutas com leguminosas, assim, eliminaremos totalmente as queimadas. 


A minha capacidade em manipular alimentos, eu mostro quando vou para o ensaio. Lá na quadra da escola de samba fico imitando a cuica. Os bêbados acham graça quando escutam a sonorização corporal grave fazendo o contraponto musical. O desagradável é que as passistas ficam se rebolando à distância. Já tentei sambar perto delas, mas não consigo entender por que fogem de mim com a mão no nariz.        


 


                 

Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 26/02/2021 – 06:45

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84-99973-4114

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