I
Fazenda velha querida
Irei guardar na lembrança
Os meus tempos de criança
No comecinho da vida
Chão por onde me arrastei
Fiquei de pé, me firmei,
Pra dar os primeiros passos
Rede que me balançava
Canções que Mamãe cantava
Tão lindas que eu terminava
Adormecendo em seus braços.
II
Por consequências da vida
Sou obrigado a partir
Não adianta fingir
Que não sinto esta partida
Vou deixar a moradia
O lugar onde vivia
Com os meus familiares
Irei morar na cidade
Sem direito à liberdade
Vou dividir a saudade
Nos créditos dos celulares.
III
Só sabe como é esta dor
É quem sofre como eu
Deixa o lugar que nasceu
Pra ir seja pra onde for
Depois que a saudade aperta
É que o amor desperta
Com mágoas sentimentais
Os costumes do abrigo
Faz ele pensar consigo
Só não digo que é castigo
Porque Deus é bom demais.
IV
E pergunto: “Destino ingrato,
Porque judeias de mim?
Se queres me ver assim
Sofrendo tanto maltrato”
Deixo a propriedade
E vendo que a tristeza invade
O meu pobre coração
Sinto a alma entristecida
Parece que esta saída
Irá marcar minha vida
Mesmo sendo a solução.
V
Só sabe o que estou sofrendo
É eu e Deus e mais ninguém
É que a saudade quando vem
Já chega me maltratando
Já me deixa pensativo
Sem saber por qual motivo
É que sofro tanto assim?
Se Deus reservou pra mim
Quem sou eu para mudar
Só tenho que carregar
Este fardo até o fim.
14/10/2005
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
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