terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

DESPEDIDA ANGUSTIANTE - Poeta Daxinha

 




DESPEDIDA ANGUSTIANTE


I

Fazenda velha querida

Irei guardar na lembrança

Os meus tempos de criança

No comecinho da vida

Chão por onde me arrastei

Fiquei de pé, me firmei,

Pra dar os primeiros passos

Rede que me balançava

Canções que Mamãe cantava

Tão lindas que eu terminava

Adormecendo em seus braços.


II


Por consequências da vida

Sou obrigado a partir

Não adianta fingir

Que não sinto esta partida

Vou deixar a moradia

O lugar onde vivia

Com os meus familiares

Irei morar na cidade

Sem direito à liberdade

Vou dividir a saudade

Nos créditos dos celulares.


III


Só sabe como é esta dor

É quem sofre como eu

Deixa o lugar que nasceu

Pra ir seja pra onde for

Depois que a saudade aperta

É que o amor desperta

Com mágoas sentimentais

Os costumes do abrigo

Faz ele pensar consigo

Só não digo que é castigo

Porque Deus é bom demais.


IV


E pergunto: “Destino ingrato,

Porque judeias de mim?

Se queres me ver assim

Sofrendo tanto maltrato”

Deixo a propriedade

E vendo que a tristeza invade

O meu pobre coração

Sinto a alma entristecida

Parece que esta saída

Irá marcar minha vida

Mesmo sendo a solução.


V


Só sabe o que estou sofrendo

É eu e Deus e mais ninguém

É que a saudade quando vem

Já chega me maltratando

Já me deixa pensativo

Sem saber por qual motivo

É que sofro tanto assim?

Se Deus reservou pra mim

Quem sou eu para mudar

Só tenho que carregar

Este fardo até o fim.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo DAXINHA.

14/10/2005

JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)

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