terça-feira, 24 de dezembro de 2019

DUAS CRÔNICAS NATALINAS DO JORNALISTA ROSEMILTON SILVA


É Natal!

Incentivados pelos nossos pais e pela esperança de Papai Noel nos trazer o presente desejado, vamos dormir cedo enquanto eles vão se divertir na barraca, mas velando o nosso sono de cidade de interior onde se pode dormir com a porta aberta sem qualquer sobressalto.
A cidade pequena dorme na esperança que todos amanheçam com seus brinquedos para se orgulharem do raiar do sol trazendo a luz o que Papai Noel deixou debaixo da rede, da cama ou mesmo ao lado de uma toalha que cobre o chão batido para o descanso do corpo.
Há aqueles pais que levaram alguns dias para construir um brinquedo de madeira, de lata, de tecido, de vários outros materiais. O que vale é que a criança tenha algo para mostrar na calçada e que ninguém se orgulha de ter um brinquedo mais bonito ou mais caro que dos demais.
E sempre vai ter alguém empurrando uma virola de pneu ou um pneu velho de bicicleta com um longo arame com ponta em U, como se fosse um carro a exemplo de uma lata de leite cheia de areia com arame passado por dentro e cordão para puxar. Ou mesmo uma bela baratinha feita de madeira e lata que tem até feixe de mola.
É claro que nem sempre deixa de existir um pouco de inveja ou olhar mais cumprido para um belo velocípede, uma bicicleta, uma boneca que fala ou canta, um carrinho mais sofisticado, enfim um brinquedo que nem sempre a grande maioria pode comprar.
Mas é claro que há aqueles que não receberam nada, mas mesmo assim não deixam de ir para a rua admirar os presentes trazidos por Papai Noel. Ah, não esqueçamos que algumas caixas contendo estes brinquedos até amanheceram sujas de mijo. Mas isso faz parte por mais cuidado que “papai noel” tenha colocado um pouco mais longe da rede.
Mas a vida ensina que há pessoas que se colocam no lugar das outras e oferece seu brinquedo para aqueles que olham com um ar de tristeza, não com inveja. E há também aqueles que esnobam seus brinquedos mesmo entre os que estão na mesma classe social.
E há ainda aqueles que não ensinam que o Natal é de Jesus e que os Reis Magos foram levar presentes simbólicos como o ouro que era um presente para um rei, o incenso olíbano para um sacerdote, representando a espiritualidade, e a mirra, para um profeta que era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a imortalidade.
Vou dormir mais cedo para ver se papai noel, invenção de uma marca de refrigerante norte-americana, vai ser bonzinho ou não comigo, trazendo no seu carro de boi a esperança necessária para que o presente, seja qual for, lembre que o Natal é do Menino e que Ele é o nosso presente maior. E Viva o Menino Jesus!!!

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Noite feliz!

A tarde vai terminando com aquele céu azul sem qualquer nuvem e esperança de uma lua cheia que anuncia o Natal do Senhor e mais um ano que se avizinha com cara de esperança e de dias melhores!
A luz fraca dos postes e das casas começa a aparecer dando cor a noite ao som dos rádios ligados na Hora do Ângelus com suas orações de saudação ao Deus Menino que virá hoje para nos redimir dos pecados e a certeza de uma vida nova.
No pátio da igreja matriz está o palanque com seu cordão de luz para a festa de hoje a noite com as disputas dos cordões encarnado e azul que representam também as cores dos políticos da cidade e, por isso mesmo, promete ser uma disputa acirrada, já que no ano que vem tem eleição municipal.
A igreja já está pronta para a Missa do Galo que será lá pelas nove horas da noite quando o vigário irá anunciar o Nascimento do Senhor em latim com respostas dos seminaristas e cantos gregorianos do coral da paróquia.
Interessante porque a igreja vai estar cheia mas na hora do sermão com os bancos de cada família ocupado, no único momento em português, os homens deixam a igreja e ficam do lado de fora, algo que não se consegue explicar exceto pelo sermão que, aqui e acolá, o vigário passa lembrando as pregações de frei Damião.
Logo após a missa, todos que já jantaram com suas famílias vão se dirigir para a barraca onde um leilão coloca galinhas e outras prendas para serem arrematadas e assim ajudarem nas obras da igreja.
Mas o momento mais esperado é, sem dúvida, a chegada das meninas que vão dançar o pastoril. Vale lembrar que o pastoril do interior não conta com o palhaço do pastoril do litoral. O palanque está enfeitado com bandeiras de papel crepon e outros adereços que dão forma alegre ao local.
Também pode ser chamado de Lapinha dançada por meninas vestidas de pastoras, celebrando o nascimento de Cristo. As pastorinhas formam dois cordões: o encarnado, liderado pela mestra, e o azul, pela contramestra.
A Mestra, a Contramestra, Diana e borboleta formam dois partidos vestidos de cores diferentes, dois cordões disputam as honras de louvar Jesus Menino levando um pandeiro feito de lata ornado de fita com a cor do cordão a que pertence. Na cabeça, tiara com fitas e flores. Já nas mãos, pandeiros e maracás para casar com a cantoria e dar som à apresentação.
E lá vem as meninas com suas vestimentas entoando “Boa noite meus senhores todos / Boa noite senhoras também / Somos pastoras, pastorinhas belas / Que alegremente vamos a Belém...” E a barraca exulta de alegria enquanto não chega a peleja para os cordões encarnado e azul pararem ou continuarem dançando a partir da oferta de dinheiro.
Seguida da apresentação da mestra e contramestra e a borboleta que tem um canto mais lírico. “Borboleta pequenina / Saia fora do rosal / Venha cantar um hino / Viva a noite de Natal”. No que a borboleta emenda: “Eu sou uma borboleta / Pequenina e feiticeira / Ando no meio da mata / Procurando quem me queira.”
E a noite vai se prolongando mas mesmo com a disputa dos lados não há qualquer resquício de briga acirrada. Não há ressentimento enquanto as pessoas que ficam de fora da barraca vão comentar no dia seguinte quem mandou mais que o outro. E a noite do nosso Natal daqui a pouco vai ficar como a música “Silent Night”, uma noite silenciosa mas como diz a versão da música em português, vai se transformando numa Noite Feliz!!!



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