segunda-feira, 1 de abril de 2024

NO SÍTIO DE JOÃO BEZERRA - Hélio Crisanto

 


NO SÍTIO DE JOÃO BEZERRA


Eu quero pedir licença

E a Jesus inspiração

Para falar de um sítio

Daqui do nosso sertão

Seu valor não é medido

E assim é reconhecido

O maior da região


O seu dono é João Bezerra

Desse lugar de fartura

Cabra rico e poderoso

Homem de muita bravura

Por ser muito inteligente

Virou o mais influente

No ramo da agricultura


João Bezerra nesse sítio

Tem zelo e muito cuidado

Se for num ano de inverno

Nasce tudo avantajado

Um certo dia eu não minto

Tirou o bico de um pinto

Pra fazer cocho pro gado


Jerimum de trinta quilos

Pra ele é coisa pequena

Batata de três arrobas

Não tem a pesagem plena

Mandioca de dez braças

Manda jogar para as traças

Arrancar nem vale a pena


Cento e trinta garnisés 

João engorda num chiqueiro

Cuidando diariamente

Pra lucrar muito dinheiro

Com xerém e fruta pêca

Mesmo num ano de seca

Ele exporta pro estrangeiro


As frangas do seu terreiro

Ninguém acreditaria

Quando estão aborrecidas

Botam três ovos por dia

Isso lá não é problema

Cheio de clara e de gema 

Tem forma de melancia


Quando tem festa no sítio

Depressa mata um barrão

Chama mais de mil pessoas

Pra comer da criação

Após toda a comilança

Distribui pra vizinhança

O que sobrou da porção


Num ano de pouca chuva

Algaroba sai mirrada

Cada vagem que o pé bota

Dá quase uma tonelada

Com dois palmos de largura

Manga já nasce madura

Bezerra nasce amojada


Surucucu de dez metros

Ele diz e não se acanha

O maturi de um caju

Dá cem quilos sem castanha

Uma cobra de veado

Mede o dobro do cercado

Amigo é grande a façanha


João cria com muita luta

Quinze pebas numa loca

Cada um come por dia

Trinta quilos de minhoca

Não vendo algum empecilho

Se plantar um pé de milho

Já nasce dando pipoca


Certo dia num barreiro

João pescou uma piaba

Lhe digo não é mentira

Até hoje ele se gaba

Era tão grande o peixão

Que serviu de refeição

Pra toda a Cacaruaba


João sendo um sujeito sério

Não gosta de cambalacho

Plantou um pé de banana

Na barreira de um riacho

A carga foi tão pesada

Que colheu numa tacada

Mil bananas num só cacho


Pariu vinte seis cabritos

Uma cabra que João cria

Pesando dezoito quilos

Cada bicho que saia

A cabra com muito jeito

Botou um em cada peito

Pra não haver regalia


Desse sitio todo o dia

Sai jarras de goiabada

Carretas de tangerina

Carro pipas de coalhada

No oitão, pra seu deleite

Corre um riacho de leite

Que alimenta a meninada


Nesse sítio minha gente

Nasceu um pé de pimenta

Com dez metros de altura

Mas isso ele nem comenta

Quem for lá verá a prova

A plantinha ainda nova

Sua sombra é opulenta


Nesse sítio me acredite

Tem um pé de abacateiro

João testou uma enxertia

Cruzando com um cajueiro

Esse pé quando se zanga

Bota caju, uva e manga

Safrejando o ano inteiro


Lá no curral de seu João

Tem um bezerro injeitado

Que costuma tomar leite

Num tambor enferrujado

Ele sem nenhum estresse

Numa mangueira abastece

Pro bicho ficar cevado


Na lavoura ele cultiva

Mil alqueires de feijão

Mil hectares de fava

Quarenta de pimentão

Possui seiscentos bois

Por lá um grão de arroz

Parece mais um melão


Lá em João um pé de cana

É grosso que nem coqueiro

Botando folhas de açúcar

Servindo pro mundo inteiro

Por ser tão batalhador

Virou grande exportador

Criou fama de usineiro


João Bezerra tem um burro

Galopeiro e andador

Mais veloz do que um trem

Possui no rabo um motor

Com tanta vitalidade

Se houver a necessidade

Ele puxa até trator


Esse burro minha gente

Andava o nordeste inteiro

Carregando rapadura

Quando João era tropeiro

Certo dia um caminhão

Bateu no burro de João

Virou num despenhadeiro


Na plantação de coqueiro

É grande o contentamento

Com tantos cocos gigantes

Que ninguém dar vencimento

Com a grandeza da planta

Amigo a água era tanta

Que João fez encanamento


João Bezerra sempre foi

Um homem de muita fé

Certo dia plantou milho

Na véspera de São José

Mesmo com tantas formigas

Mais de trezentas espigas

João colheu em cada pé


Num dia de muita chuva

João se encheu se alegria

Quando o viu o pluviômetro

Esborrotando água fria

Ele esqueceu emborcado

E viu que tinha sangrado

Duas vezes num só dia


Certo dia no roçado

João ouviu um barulhão

Algo muito assustador

Como se fosse um trovão

Não contendo a agonia

João partiu uma melancia

Saindo dela um leão


Esse sitio ele não vende

Por ser grande a sua saga

Não tem comércio pra ele

Com orgulho João propaga

Podem fazer fuzuê

Nem mesmo São Saruê

Vai ocupar sua vaga


(Hélio Crisanto)

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