quinta-feira, 7 de abril de 2022

A VIDA NO QUÊNIA - Gilberto Cardoso dos Santos

 



A VIDA NO QUÊNIA

 

Há no Quênia regiões

Tão subdesenvolvidas,

Onde estranhas tradições

Firmemente são mantidas;

Em terras tão ressequidas,

A água é coisa sagrada.

Dificilmente é usada:

Somente pra cozinhar,

Lavar panos, se lavar

Com raridade e mais nada.

 

De noite casais se deitam

Em leitos de puro amor

E com certeza aproveitam,

Apesar do forte odor.

Nada afasta o bom humor

E os sorrisos atraentes.

Exibem seus fortes dentes;

São pessoas otimistas

Que desconhecem dentistas

E de tudo são carentes.

 

Água farta não existe

Pra fazer escovação,

Porém ninguém fica triste,

Pois têm uma solução.

Há plantas na região

Belas e medicinais.

Ter pastas industriais

Não é algo essencial.

Fazem limpeza bucal

Com essências naturais.

 

Há plantas donde retiram

Ramos para mastigar.

Mordem e entre os dentes giram

Para a sujeira tirar.

Começam a salivar

Enquanto estão mastigando;

O galho vai liberando

Um natural dentifrício

Que cumpre bem seu ofício,

De fato acaba limpando.

 

Não é sorriso colgate,

Mas é bonito também.

Da cárie faz o combate

E grande eficácia tem.

É limpeza que convém

A lugar tão ressequido.

O bom dente é protegido

Das infecções bucais.

Talvez até faça mais

Que o produto a nós vendido.

 

Eles se limpam com mato

Quando expelem seus dejetos,

Mas este viver ingrato

Não desfaz os seus afetos.

Convivem bem com insetos,

São imunes às sujeiras.

Dormem em finas esteiras

Sobre um chão irregular

E acordam pra celebrar

Vidas duras prazenteiras.


Gilberto Cardoso dos Santos


Sócio-fundador da APOESC 

e membro da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel



 


2 comentários:

  1. Legal!
    Além da boa poesia, um pouco da cultura africana.
    Parabéns!!

    João Maria de Medeiros





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  2. Muito bom. E não deixa de ser reflexivo , pois o contexto exposto nos leva a pensar sobre o nosso consumismo exagerado, na simplicidade das coisas e também sobre a falta de políticas públicas sociais em diversos locais do mundo.
    Francisca Joseni dos Santos

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