domingo, 12 de setembro de 2021

FARRA SOB MEDIDA - Heraldo Lins

 


FARRA SOB MEDIDA 

 


Amâncio não tinha o que fazer e foi visitar o cemitério. Sentou-se em uma catacumba e puxou conversa. Por trás de uma árvore surgiu Milton de branco, barba por fazer e sorrindo. A recepcionista do campo santo disse que Milton sempre estava por ali em busca de contatos extraterrenos. Tinha muita memória e não havia com quem compartilhar. Ao invés de ficar ouvindo a recepcionista, Amâncio convidou o recém-amigo para irem a um bar. Ele estava querendo uma mulher interessada em algo mais do que conversar.  


No bar, em poucos minutos, mulheres lindíssimas foram chegando. Muitas conhecidas de Milton dirigiram-se à mesa para cumprimentá-los. Convidadas a se sentarem revezaram-se no colo de Milton que sorria e apontava o colo disponível de Amâncio.


Depois que Amâncio tornou-se sorridente, elas foram para a pista dançar. O dono do bar veio dar boas-vindas. Amâncio ficou totalmente à vontade com aquelas amigas cordiais, perfumadas e sedutoras. Queriam tudo o tempo todo. Ele ficou abraçando-as, alternadamente, sem se cansar delas. Elas bebiam e pagavam em ouro, diamantes e moedas de prata. Os músicos eram dos melhores. Tocavam canções confortáveis, nem intensas nem suaves, de forma que agradassem ao ouvido, disse um deles que veio à mesa conhecer Amâncio. Em meia hora o bar estava totalmente lotado, cheio de amigos e amigas de longas datas. 


As mulheres, carinhosamente, puxaram Amâncio para a pista de dança... Amâncio pensou que poderia ser reprimido pelo dono do bar se fizesse, no salão, o que elas queriam, mas, imediatamente, recebeu do próprio uma caixa de camisinhas e um conselho para não se preocupar: estavam todos acostumados com a cultura do bar do amor. 


Amâncio não sabia de onde vinha tanta libido. Havia uma fila de mulheres se entregando, e quanto mais praticava mais vontade tinha. Milton, com os olhos refletindo felicidade, perguntava-lhe, a todo instante, se estava gostando. Sim, respondia-lhe sem muito tempo para detalhes. 


Neste ínterim chegaram os garçons trazendo as mais deliciosas comidas e uma notícia agradável: Amâncio não precisava pagar as despesas. Milton falava que ali era o melhor lugar do mundo para estar naquele momento. Amâncio se achava o homem mais feliz da terra, porém, nunca havia prestado atenção naquele bar. Muitas vezes já havia passado por aquela rua a pé e nem se dava conta dele. Milton disse que vinha ali quase todas as noites, pois, há muito tempo, era seu ponto de encontro com aquela mulherada sedenta. Como eram interessantes aquelas mulheres, pensou Amâncio: não reclamavam e nem ficavam pensativas. 


Ao lado daquela mesa animada, havia casais mais contidos, mas não se aborreciam com aquela falta de respeito. Um sujeito duro estava sentado sozinho com umas cartas de baralho na mão. Jogava paciência. Para ele nada estava acontecendo, deduziu Amâncio. 


As pessoas bebiam e comiam no mesmo Buffet. Ninguém reclamou nem impediu alguém de fazer isso. Homens importantes com charutos importados baforavam o ambiente sem mau cheiro. Perguntou-se de quem era um anel de brilhante encontrado no salão. Não apareceu o dono e presentearam Amâncio que o colocou no bolso sem pestanejar.  


De repente Milton o convidou e desceram para o subsolo. No cassino, havia todo o luxo do mundo. Quatro ou cinco mulheres vieram com eles. Milton era viciado na roleta, mesmo assim, passaram pouco tempo jogando. Estavam sendo requisitados pelas mulheres que ainda não tinham sido contempladas por Amâncio. 


A festa continuou. Milton estava um pouco bêbado e deitou-se em cima da mesa e lá ficou. As mulheres acharam aquilo engraçado. A chuva lá fora aumentou com relâmpagos varrendo o medo dos trovões. Amâncio Gritou por Milton para irem embora, mas seu amigo não respondeu nem deu sinais de vida. 


No outro dia Amâncio foi encontrado morto em um casarão abandonado. O instituto médico legal comprovou a causa mortis: cefaleia orgástica. Milton e os demais já haviam morrido há mais de trezentos anos. 



Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 24/08/2021 – 16:22



Um comentário:

  1. Simplesmente fantástico. Trama muito interessante e bem arquitetada!!
    "Causa mortis: cefaleia orgástica"
    Kkkkk
    Parabéns, Heraldo Lins.

    João Maria de Medeiros Dantas

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