domingo, 6 de junho de 2021

ACADEMIAS LITERÁRIAS: Dois enfoques sobre um mesmo tema

 



SEM CENSURA

Por: Ronnaldo De Andrade 


Estão banalizando a literatura e abestalhando poetas e escritores e os tornando cegos de vaidade, vendendo a eles títulos de barão, comendador, príncipe e até de rei! 

Quem compra esses títulos está assinando a declaração de que sua obra é irrelevante de tal forma que não o torna merecedor do título. 

Se dizem que você é merecedor de tal honraria, peça para que a confraria ou entidade lhe presenteie com ela. 

Não alimente essa MÁFIA. Não se iluda com a compra de títulos e certificados nem pague para ser homenageado nem carregar o nome de academia. Não se deixe usar; não se permita ser instrumento, ponte, conectivo nem verbo de ligação para atrair seu colega a esse abismo literário, para carregar o nome, o logopito de uma instituição que nada lhes oferece de significativo. Não basta ser um garoto propaganda, você ainda está pagando para sê-lo. Analise qual o suporte que a entidade está ou irá lhe dar, para que você tenha um retorno do que paga. Procure saber qual o trabalho relevante essa agremiação e o seu representante maior fazem em prol da literatura. 

Lembre-se: a vaidade pode ser uma forca que a pessoa põe no próprio pescoço, e vai puxando inconscientemente enquanto recebe o aplauso do público que se encontra vendado.


Ronnaldo de Andrade


Formado em Letras e em capoeira. Revisor e poeta
Criador da forma poética SPINA
Acadêmico na AVAL
Acadêmico na Academia Independente de Letras, PE



E POR FALAR EM ACADEMIA… 

       Por José de Castro 


Hoje, existe uma verdadeira explosão de academias literárias para todos os lados, país afora. Algumas surgem com legitimidade, com luz própria. Outras, infelizmente, não. 

Academias legítimas podem ser aquelas que nascem para atender à necessidade de reconhecimento aos valores literários existentes em uma determinada cidade, estado ou nação. Teoricamente, caberia existir uma academia por cidade, uma por estado e uma no âmbito nacional. Só que não. Elas se multiplicam além dessa cota única por fatia geográfica. 

E quais são as razões disso? Responder a essa indagação não é algo simples. Antes, precisamos arriscar uma análise sobre o fenômeno, tentando entender as motivações que levam alguém a criar uma academia, o seu objetivo, o alcance pretendido, e as atividades ou programações que a instituição realiza ou pretende realizar para justificar a sua existência. 

As legítimas instituições deste gênero, geralmente, são aquelas que têm o objetivo de outorgar o reconhecimento literário a autores nativos ou residentes em certo lugar de sua abrangência. Mas, muitas vezes, nelas nem sempre ingressam apenas pessoas de letras. Muitas academias têm um viés de indicação por outros méritos que não os literários, o que leva ao questionamento de sua legitimidade. A Academia Brasileira de Letras, ABL, não está isenta de receber críticas semelhantes. 

Muitas academias são formadas a partir de uma determinada pessoa que tem reconhecimento na área e consegue congregar membros fundadores ao redor daquele projeto. Depois de fundadas, ao longo de sua existência, poderão abrir novas vagas, sendo que os candidatos precisam atender a determinados pré-requisitos para se submeterem ao sufrágio e à aprovação dos seus nomes. No geral, não se cobra o ingresso na instituição.  Algumas estabelecem anuidades com o objetivo de cobrir custos de manutenção e funcionamento da sede, como aluguel, além do financiamento de atividades específicas.  

Existem, ainda, as academias que surgem para abrigar autores que praticam, país afora, um determinado gênero literário, como o soneto, a trova, o cordel, o haicai, o poetrix, a aldravia e outros gêneros. Geralmente não cobram taxa de ingresso. 

A maioria das academias que têm um propósito bem definido não saem por aí tentando angariar novos membros para os seus quadros. Atendem a uma demanda específica de suas próprias necessidades, ou seja, valorizar e preservar uma determinada produção literária e contribuir para a sua consagração como forma de expressão reconhecida no âmbito das academias. Quando muito, poderão, a partir de iniciativa dos seus pares, abrir vagas especiais para membros correspondentes, honorários ou beneméritos, atendendo a algum critério relevante estabelecido em seus estatutos que justifique essas comendas, que são meritórias. 

Contudo, existem academias que estão surgindo como uma forma de arregimentar autores de todas as regiões do país, com nomes pomposos de academias brasileiras disto ou daquilo.  Costumam exigir uma taxa de entrada, enviam um certificado e medalhão. E ficam apenas nisso. São academias de fachada, pois não  desenvolvem qualquer atividade literária que justifique a sua existência. Podemos arriscar que cumprem o propósito de alimentar o ego ou a vaidade de determinados escritores, poetas e congêneres. Mas findam por serem instituições inócuas, que não justificam sequer o nome que têm. Importante dizer que existem exceções a essa regra. 

Como já foi dito, academias legítimas costumam ter um foro privilegiado, seja municipal, estadual ou focado na produção nacional. Em alguns casos, extrapolam o âmbito do país, podendo estender-se além-fronteiras quando se trata de academias que pretendam abrigar escritores de um mesmo gênero literário, como já foi dito. 

Reconheço que existem academias literárias de real valor, das quais cada um de nós, escritor ou escritora, orgulhar-se-ia de participar. E as razões para isso poderiam ser várias, incluindo o valor e o reconhecimento do seu fundador, a qualidade dos seus pares literários, a grandiosidade dos patronos das cadeiras a serem ocupadas, a diversidade e a pertinência de atividades a que se propõe a academia com o objetivo de enaltecer a literatura ou o gênero literário abrangido.   

Mas pense bem. Academias sérias não vivem distribuindo convites de “imortalidade” no atacado e no varejo. Desconfie sempre, investigue,  analise. Se acontecer um convite, deve existir alguma razão forte para isso. Qual é a relevância dessa academia para a literatura? Existe, ou apenas configura-se como atividade caça-níquel? Contribuirá de alguma forma para o avanço das letras ou  servirá apenas como forma de massagear egos e vaidades pessoais? A análise deverá ser cuidadosa, pois envolve inúmeras variáveis, inclusive autorreflexão, pois envolve o campo da psicologia de cada um, além de implicar no valor, respeito e dignidade do projeto de vida de alguém como autor, escritor, poeta ou o que for no campo enfocado.  

Desconfie do modismo das academias de conveniências, que surgem do nada, sem nenhuma consistência literária, sem reconhecimento público. Afinal, iscas existem em todos os lagos, rios e mares. O peixe precisa identificar o seu alimento verdadeiro. Ou será fisgado por algo que, no lugar da imortalidade, poderá lhe render um lento suicídio literário, além  do escárnio dos que sabem que academias não fazem os verdadeiros escritores ou poetas. Antes, academias literárias são feitas por aqueles ou aquelas que cultivam a escrita. 

Assim, a decisão de ingressar em uma determinada academia deve ser sempre fruto de um juízo de valor. Você e a academia pretendida se merecem? Haverá uma sinergia que enaltecerá a ambos – escritor e instituição? Ela trará alguma contribuição para além do umbigo dos seus próprios fundadores? Se a resposta for positiva, embarque na aventura. 

Mas, acima de tudo, dignifique a literatura que você pratica. Apenas o tempo e o legado que você deixar poderá qualificá-lo ou qualificá-la como “imortal” ou não. 


José de Castro, jornalista, escritor e poeta.


(Membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – ALACIB, Mariana/MG.

Membro fundador da secção brasileira da Academia Luminescence (franco-brasileira). 

Membro fundador da Academia Internacional Poetrix, cadeira 11, patrono Paulo Leminski.

Membro da Sociedade dos Poetas Vivos do RN e da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. 

Membro da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas - SBPA, Mariana/MG.

Cônsul Poeta Del Mundo de Parnamirim/RN.)



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