TODOS
COM O VÉU DA NOIVA
O auge da chatice atual é o
uso da máscara. Até estátuas estão sendo mascaradas. Quem não usar, morre,
inclusive, as estátuas. Parece que não tem muita opção... para as estátuas. Quem
sonhava em ter barba está realizando seu sonho usando máscara preta. Quem não gostava
de compartilhar o elevador com os vizinhos, já pode curtir a intimidade de
viajar sozinho em nome da pandemia. O isolamento social existia através da
conta bancária, agora o motivo é doença contagiosa. Há pessoas comendo com
máscara. Com uma mão traz o alimento, com a outra levanta a máscara, com os
dentes mastiga e com a boca fala da vida alheia. Isso porque ninguém é de
ferro.
Existem máscaras de todas as
cores. Há uma fábrica vendendo máscara comestível com sabor de uva, maçã e
pera. Para os aficionados por novidade há máscara de rapadura e de casquinha de
sorvete. A pessoa usa por quatro horas e come a máscara durante as refeições. O
problema é que muita gente não resiste e come uma máscara a cada dez minutos. Está
engordando. Há máscaras com baixo teor calórico e outras sem açúcar para os
diabéticos. Para quem apenas dar um arzinho de riso quando se sente feliz, está
difícil. Ninguém sabe se está rindo ou chorando. A solução é gargalhar para que
o interlocutor perceba que o outro está expressando sua alegria, e não a
tristeza.
O acessório que acompanha a
máscara é o cartaz. Muitos estão usando cartazes com as mensagens: estou rindo,
estou chorando, estou com raiva, estou com coceira, com um boleto atrasado,
divorciado, etc. O kit máscara está vindo com várias opções de uso além de
acompanhar uma garrafa de pinga.
Os dentistas estão com dificuldade
para trabalhar despois do covid-19. Examinar os dentes do paciente com máscara
é um pouco complicado. O melhor é fazer uma máscara do tamanho de um lençol, e
ele ficar entre a máscara e a boca do paciente. Quando alguém adentrar o
consultório e se deparar com aquela arrumação, pensará que um monstro engoliu o
dentista.
Olhando de outro ângulo,
podemos ver que a máscara tem várias utilidades. Uma jovem perdeu a calcinha na
enchente e improvisou com uma máscara. Dona Alice está usando para coar café.
Seu Nozinho está dando milho aos cavalos com uma delas. No início da moda
mascarante havia pessoas com camisas, calças e pano de prato no rosto. Algumas
lavadas outras não. As apaixonadas utilizavam cuecas do marido.
Com o aperfeiçoamento dessa
moda, os desfiles estão se multiplicando pelo Brasil afora. As modelos, para
mostrar os vários tipos de máscaras lançadas, vêm mascaradas, porém nuas. Esse
essencial cuidado visa não tirar a atenção para a roupa que ela poderia estar
usando. Eu fui a alguns desses desfiles e realmente fiquei só observando os
tipos de máscaras. Parece até que as máscaras andam sozinhas. A pessoa nem nota
que a peça está sendo mostrada por uma modelo nua. Depois dos desfiles as
máscaras deixaram de ser chatice. Agora, para mim, não sei porquê, é produto de
primeiríssima necessidade.
Heraldo Lins Marinho Dantas
(arte-educador)
Natal/RN, 22/12/2020 – 02:12
showdemamulengos@gmail.com
84-99973-4114
rsrsrs É isso ai, Heraldo. (Gilberto Cardoso dos Santos)
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