terça-feira, 22 de dezembro de 2020

TODOS COM O VÉU DA NOIVA - Heraldo Lins

 


TODOS COM O VÉU DA NOIVA

 

O auge da chatice atual é o uso da máscara. Até estátuas estão sendo mascaradas. Quem não usar, morre, inclusive, as estátuas. Parece que não tem muita opção... para as estátuas. Quem sonhava em ter barba está realizando seu sonho usando máscara preta. Quem não gostava de compartilhar o elevador com os vizinhos, já pode curtir a intimidade de viajar sozinho em nome da pandemia. O isolamento social existia através da conta bancária, agora o motivo é doença contagiosa. Há pessoas comendo com máscara. Com uma mão traz o alimento, com a outra levanta a máscara, com os dentes mastiga e com a boca fala da vida alheia. Isso porque ninguém é de ferro.

 

Existem máscaras de todas as cores. Há uma fábrica vendendo máscara comestível com sabor de uva, maçã e pera. Para os aficionados por novidade há máscara de rapadura e de casquinha de sorvete. A pessoa usa por quatro horas e come a máscara durante as refeições. O problema é que muita gente não resiste e come uma máscara a cada dez minutos. Está engordando. Há máscaras com baixo teor calórico e outras sem açúcar para os diabéticos. Para quem apenas dar um arzinho de riso quando se sente feliz, está difícil. Ninguém sabe se está rindo ou chorando. A solução é gargalhar para que o interlocutor perceba que o outro está expressando sua alegria, e não a tristeza.

 

O acessório que acompanha a máscara é o cartaz. Muitos estão usando cartazes com as mensagens: estou rindo, estou chorando, estou com raiva, estou com coceira, com um boleto atrasado, divorciado, etc. O kit máscara está vindo com várias opções de uso além de acompanhar uma garrafa de pinga.

 

Os dentistas estão com dificuldade para trabalhar despois do covid-19. Examinar os dentes do paciente com máscara é um pouco complicado. O melhor é fazer uma máscara do tamanho de um lençol, e ele ficar entre a máscara e a boca do paciente. Quando alguém adentrar o consultório e se deparar com aquela arrumação, pensará que um monstro engoliu o dentista.

 

Olhando de outro ângulo, podemos ver que a máscara tem várias utilidades. Uma jovem perdeu a calcinha na enchente e improvisou com uma máscara. Dona Alice está usando para coar café. Seu Nozinho está dando milho aos cavalos com uma delas. No início da moda mascarante havia pessoas com camisas, calças e pano de prato no rosto. Algumas lavadas outras não. As apaixonadas utilizavam cuecas do marido.

 

Com o aperfeiçoamento dessa moda, os desfiles estão se multiplicando pelo Brasil afora. As modelos, para mostrar os vários tipos de máscaras lançadas, vêm mascaradas, porém nuas. Esse essencial cuidado visa não tirar a atenção para a roupa que ela poderia estar usando. Eu fui a alguns desses desfiles e realmente fiquei só observando os tipos de máscaras. Parece até que as máscaras andam sozinhas. A pessoa nem nota que a peça está sendo mostrada por uma modelo nua. Depois dos desfiles as máscaras deixaram de ser chatice. Agora, para mim, não sei porquê, é produto de primeiríssima necessidade.

 

 


Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 22/12/2020 – 02:12

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Um comentário:

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