quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

NADA A VER - Heraldo Lins

 



NADA A VER 

 

         

           Estridulação. O nome não é comum, mas o significado sim. O som que o grilo emite é assim definido no dicionário. Quando uma pessoa é inconveniente denominamos de Cri-cri. Então podemos até nominá-la de pessoa Estridulante. O ser estridulante pergunta pela sua idade, se você já foi preso ou se o filho é seu mesmo. Estridulantes há em todo lugar. Numa mesa de bar, no almoço em família ou até mesmo no consultório médico. Ela está esperando ser atendida e você chega. Ela pergunta: viesse fazer o quê, mulher? Exame de rotina! Ah! É isso que dizemos quando queremos esconder algo. Vai que estás grávida e não quer que sua mãe saiba quem é o pai. A característica da estridulação é repetir-se. Esse conceito não é tão válido assim. Papai Noel não pode ser definido como estridulante, mesmo repetindo-se todos os anos, mas o Rô Rô Rô dele pode. A história de Branca de Neve nunca será estridulante. Eu nem sei porquê estou falando hoje em seres frutos da nossa imaginação, mas desconfio que isso é produto da experiência que passei ontem ouvindo um grilo estridular durante a noite toda, e isso me deixou meio confuso. Voltemos a branca de Neve. Essa moça ficou famosa por ser filha de Maria das Neves. No lugarejo onde ela nasceu todos os habitantes eram de cor branca, mas tão branca que albinos eram tidos como morenos. Lá foi nascida a filha de Maria das Neves. Uma negra bem pretinha, tão pretinha, mas tão pretinha que carvão era róseo ao lado dela. Veio daí o apelido de branca de neve. Isso ninguém sabe. Outra coisa que quase ninguém sabe, é que existe uma biografia não autorizada, de chapeuzinho vermelho, impressa por Gutenberg. Comprei ontem de João Grilo. Ele insistiu tanto com sua estridulação que acabei pagando muito dinheiro por ele. Comprei, paguei e li. Quero deixar bem claro que livro lá em casa não serve só para enfeitar estante, segurar a porta e matar grilo estridulante. Serve para eu ler. Pois bem! Essa menina que todos conhecem como a santinha do chapéu vermelho deu muito trabalho aos pais. A vida dela era matar lobos. Adorava maltratar os coitadinhos. Fazia armadilhas, enganava-os se fingindo de avó, roubava os biscoitos deles e ainda encontrava tempo para atanazar a vida dos três porquinhos. Foi ela que matou o mar que até hoje conhecemos por mar morto. Isso mesmo. Se há algo morto foi porque morreu ou alguém matou. Nesse caso, a culpada pela morte do mar, já está desvendado, foi chapeuzinho vermelho.

 

 

 

Autor: Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 08/12/2020

 

Heraldo Lins é arte-educador

Tel.:  84-99973-4114

Email: showdemamulengos@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”