segunda-feira, 16 de novembro de 2020

CIENTISTA ANGUSTIADO - crônica de Heraldo Lins

 


CIENTISTA ANGUSTIADO

 

 

Decidi deixar a pesquisa científica em paz. Não vou precisar estudar os ratos. Fiquei decepcionado com as espreitas desses animais para conseguir o que desejam. Ficam esperando todo mundo dormir, para, na calada da noite, surrupiar seu alimento. Até aqui tudo bem. Alguém pode dizer que irei fazer críticas ao modus operandi dos ratos. Mas os ratos são estranhos mesmos. Ninguém deseja ter um de esgoto como animal de estimação. Eu nem sei porquê eles existem. Alguém pode também dizer que eles servem para constar nos livros como um dos responsáveis pela peste negra. Mas vão mais além. Quem não gosta de Tom e Jerry? Supermouse. Ou mesmo o famoso dispositivo de entrada do computador. Tudo em benefício do rato. Existem leis de proteção aos animais, mas ninguém reivindicou a proteção dos humanos. Os ratos estão em toda parte esperando alguém desfalecer para se apoderar da carcaça. Eles são inteligentes. Procriam que é uma beleza. A cada período uma ninhada. Isso todo mundo sabe. Mas o que não sabem é que têm direito a bolsa família. E nem precisam. Seu alimento está assegurado por lei. A ecologia determina que sejam  preservados. A cadeia alimentar precisa ser alimentada. E por aí vai... casa, comida, roupa lavada...

Mas quem quer saber disso? No mundo globalizado os ratos pouco importam. Haverá sempre um gato para caçá-los. Os gatos são mais higiênicos. Lavam-se com lambidas, são carinhosos, bonitos e além de tudo, caçam ratos. O meu ódio declarado é contra os ratos. Nos meus pesadelos sempre tem um rato achando graça. Não sei de que eles tanto riem. Sempre estão rindo. Acordo suado com um rato no pensamento. Nos meus pesadelos os gatos são covardes. Correm com medo de ratos. Era para ser o contrário. Mas a corrida prossegue em escala decrescente. Na parada quem manda são os ratos. O gato se aproveita e morde o cachorro, como o marido humilhado no trabalho bate na mulher. O cachorro estava quietinho no seu lugar. Já está reclamando a publicidade da surra. Vou criar um pit bull. Este com certeza mata ratos. Aplausos chegam do canil. A cachorrada está assistindo a produção dessa crônica. E o pior: querem interferir na inspiração do autor. Mas tudo bem! Vamos trazer a dondoca que dorme com seu cachorro. Ela está sempre acompanhada do cachorrinho no passeio. Afasta  intrusos e seleciona os afeiçoados por cães. Ela não está preocupada com os ratos. Foi um deles que lhe presenteou com seu animal de estimação. Seu pai, avô ou irmão não querem leis contra os ratos... às vezes, o próprio é um deles investido em cargo público.  

 

Autor: Heraldo Lins

Natal/RN, 16/11/2020


Heraldo é arte educador, mamulengueiro, músico, como servidor público atua na mesma profissão de Pero Vaz de Caminha. No  whatsapp 84-99973-4114, rir de forma inusitada. Assim : kkkkkkkkkkkk ou Rsrsrs.

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