domingo, 31 de dezembro de 2017

PROPÓSITOS HOMILÉTICOS


HOMENAGEM EM PROSA E VERSO A LAJES PINTADAS - Gilberto Cardoso dos Santos


HOMENAGEM EM PROSA E VERSO A LAJES PINTADAS  (Gilberto Cardoso dos Santos)
Em 2008 foi exibido pela Rede Globo, no Programa do Jô, uma bela reportagem sobre Lajes Pintadas. Como os fins da matéria eram humorísticos, Jô Soares chamou a atenção para o exotismo do nome, razão de ser da reportagem. Um pouco antes, naquele mesmo ano, a repórter Tatiana Resende veio à cidade munida de pegadinhas verbais do tipo:

“Quem nasce em Lajes Pintadas é pintor?”;
“Quem pintou as Lajes de Lajes Pintadas?”;
“A senhora também pinta as lajes de sua casa?”

Várias pessoas, comuns e autoridades locais, foram entrevistadas. Os que foram interpelados pela equipe de tevê reagiram com bom humor às perguntas e aproveitaram bem a ocasião para mostrar a todo o Brasil a natural simpatia de seus habitantes e um pouco de sua encantadora história. Certamente houve aqueles que, zelosos por sua identidade, reagiram posteriormente com indignação, como bons munícipes, às interpelações de teor irônico da jornalista. Mas no geral, percebeu-se, o saldo foi  positivo. O Brasil teve oportunidade de rir e de se encantar com uma gente de boa índole e hospitaleira.

Aquele que então era prefeito levou a repórter até o leito do Rio das Lajes, berço do município, e falou das imagens e desenhos rupestres que anteriormente ali existiram. 

Pessoas de diversos lugares então vinham vê-los, movidos por pura curiosidade ou com intenção de decifrá-los. Conforme acreditavam alguns, quem decifrasse o sentido daqueles caracteres teria acesso a um reino encantado. De fato, metaforicamente se veria no futuro um fundo de verdade nesta crença.
Nesse tempo, era comum ouvir dos habitantes de regiões circunvizinhas: “Vamos ver as Lajes Pintadas.”; “Vamos pras Lajes Pintadas”.
E foi assim, pelo constante e unânime uso, que o apelido ganhou força e se transformou em nome próprio.
Emancipada de Santa Cruz, a aconchegante cidade, emoldurada e refrigerada pela vegetação catingueira, conserva, em grande medida, a beleza e a simplicidade de seus antepassados.  O amor à cultura popular, por exemplo, é belamente demonstrado em suas obras artesanais. É prazeroso ver, ainda em nossos dias, a cidade reunida em praça pública para prestigiar cantadores de viola e poetas populares. A modernidade ganhou espaço, é verdade, mas ainda há lugar para o que realmente importa. O respeitoso silêncio e aplausos calorosos revelam o bom gosto dessa gente que vive sua vida simples, pautada pela moral e pelo bom senso.
Significativo é que uma cidade, marcada em suas origens pela busca de prosperidade material, tenha como padroeiro São Francisco de Assis, aquele que se despojou dos bens para alcançar o Bem. Que bom, porém, que o tenham escolhido, pois isto trouxe-lhes um contraponto magnífico, uma correta perspectiva acerca do que realmente importa.
Esgotaram-se, é verdade, os tesouros minerais de outras décadas. Restam, todavia, as riquezas interiores que fazem de cada um de seus habitantes uma preciosa gema.
Enquanto escrevo estas palavras, vem-me à mente “Gente humilde”, de Chico Buarque, que descreve realidades brasileiras similares às de Lajes Pintadas. A docilidade de sua gente me encanta. 
Desejo muito que Lajes Pintadas progrida, mas na medida certa. Que aprenda com os erros e acertos próprios e de cidades circunvizinhas. Que seus habitantes, frente aos apelos do comodismo e das fáceis soluções, lembrem-se sempre que a emancipação, em seu sentido lato, jamais termina.
Vida longa e de qualidade ao povo de Lajes Pintadas!

Gilberto Cardoso dos Santos

Santa Cruz, 31.12.2017


sábado, 30 de dezembro de 2017

Reflexões sobre um poema para Ademar Macedo - Gilberto Cardoso dos Santos


Reflexões sobre um poema para Ademar Macedo

Quando penso em Ademar Macedo e em Manoel Cavalcante, no convívio sereno que tiveram e mútuos benefícios adquiridos, vêm-me à mente os personagens bíblicos  Gamaliel e Paulo de Tarso. Disse Paulo que em sua juventude fora instruído "aos pés de Gamaliel". O mesmo diria Manoel Cavalcante acerca de Ademar pois, quando este ainda engatinhava na arte de versejar, teve o privilégio de conviver com o inesquecível versejador e por ele foi instruído sobre o necessário respeito e devoção  à trindade do cordel "Rima, métrica e oração". Não foi instruído aos pés, mas ao único pé de Ademar e aprendeu a revestir seus insights poéticos com botas de sete-léguas. Por benefícios mútuos refiro-me ao seguinte: Ao lado de Manoel, Ademar mantinha desperto seu lado criança; Manoel, por sua vez, amadurecia como ser humano e como poeta ao lado dele. 

Mais que professor voluntário, Ademar foi tudo em um: pai, amigo, muso, poema humano, livro e irmão. Se hoje Manoel desfila belamente em passarelas de versos e nas academias, é porque o aleijado Ademar, que jamais admitiria um verso de pé quebrado, foi um andajá em sua  formação - aquela mão que o sustentava quando perigava cair. Foi um espelho mágico no qual ele, Manoel, narcisisticamente se mirou tentando assemelhar-se ao que via. Sempre que  o invocou com um repetido "espelho meu", ouviu palavras de incentivo, impulsionadoras de tudo que ele viria a se tornar. Os olhos do trovador fizeram-se lentes e, através destas, Manoel mudou radicalmente sua forma de perceber o mundo. 

Um dos momentos mais tristes da vida do jovem vate deu-se quando foi-lhe noticiado que Ademar recebera do médico um diagnóstico aterradoramente negativo. Infelizmente, a realidade sobrepunha-se à poesia; a distopia dardejava a utopia. Todavia, à semelhança do que ocorre na  antológica cena do filme Luzes da cidade  em que o vagabundo chora e ri ao se revelar à ex-cega a quem amava, o jovem Manoel, a um tempo querendo expressar sua dor e aliviar a do mestre, deu certa sublimidade ao  momento através de um agridoce poema; misturou em doses equilibradas riso e choro. Aspirou o suave perfume da rosa oferecida ao mestre enquanto se feria em seus espinhos. Este foi o modo que encontrou para solidarizar-se com o mestre e consigo mesmo.

O "Poema a Ademar" carinhosamente escrito por Manoel Cavalcante para o saudoso trovador Ademar Macedo quando este noticiou a gravidade do estado de saúde em que se achava, tragicomicamente expressa o espanto que todos tivemos naquele instante. Ambos eram amicíssimos e o poema, apesar da pitada de humor negro, foi efusivamente recebido  pelo convalescente poeta. Cúmplices, estavam cônscios dos sedosos e inquebrantáveis laços de afeto que os uniam para além da morte e da vida. Ao ler as estrofes, ao perceber o eu te amo que pulsava nas entrelinhas, Ademar exclamou: O diabo é quem morre mais com um poema desse! - ( Gilberto Cardoso dos Santos)


Poema a Ademar (Manoel Cavalcanti)

Infeliz das costa oca
Você já nasceu com sorte,
Trate de lavar a boca
Quando for falar em morte.
Deixe este mal infecundo
Vá mentir no “mei do mundo”
Dizer que mora em Genebra,
Pois você sabe, aleijado,
Daquele velho ditado
Que vaso ruim não se quebra...

Perante problemas plenos
Já venceu toda parada
Isso agora é o de menos,
Uma coisinha de nada...
“Cê” vai morrer uma ova
Vai desbulhar muita trova
E pode deixar de dengo
Que nada lhe desanima
Você só tem muito é rima
Acumulada no quengo.

Sua presença é eterna
Neste meu coração brando,
Seu juízo é como a perna,
Inda tem, mas ta faltando...
No e-mail, eu vi piada
Vai do céu subir a escada??
Não acha ter nada errado??
A Deus eu vou dar gorjeta
Porque se for de muleta
Vai demorar um bocado...

Nós já morremos de rir
E eu vou morrer de desgosto
Quando a morte decidir
Rir das rugas de seu rosto.
Já foi diagnosticado
Sendo no exame encontrado
Um câncer na dura-máter,
Mas meu ego desafia
E duvida que algum dia
Surja um mal no seu caráter.

Li seu e-mail na sexta
E vi numa história linda
Que dá tempo de ser besta
Por bastante tempo ainda...
Cair todo mundo cai,
Morrer todo mundo vai,
Mas como você não presta,
Eu lhe convido, Ademar,
Vamos morrer de mangar
E rir que só a mulesta...!

Amanhã ligue pra mim,
Como faz, pra dar pitaco,
E me dizer bem assim:
“-Pense num poema fraco
Esse que você me fez...!”
Que aí vai ser minha vez
De eu mostrar minha manobra
E confessar a você
Que eu já entendi por quê
Deus nunca deu perna a cobra...

Que charada mais completa
Dizer assim sem alento
Que vai morrer o poeta,
“Apois” tu és um jumento...
O cão que vai ser defunto,
Pode mudar de assunto,
Mas pensando muito bem...,
Se um dia fores embora
Vai me dar na mesma hora
Vontade de ir também...

Mas vamos seguir brincando
Procuremos outro norte
Que eu num quero nem pagando
Falar em diabo de morte!!!
Eu com você conviver
Pra mim é grande o prazer,
Pois lições você me dá...
Eu já cancelei meu choro
Pode deixar de “algôro”
Minta e se lasque pra lá!!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

ACRÓSTICO DE NATAL - Gilberto Cardoso dos Santos


POEMA E CONVITE


Lançamento coletânea poética, Poetize/2017, 30/12, na Escola Municipal 7 de Setembro, São Francisco do Oeste-RN

ESCRITOR  

Manoel Guilherme de Freitas

Ele não precisa estar em todos os lugares fisicamente,
logo precisa, apenas, falar com o coração leve,
livre, solto,
utilizando, apenas: o "eu lírico",
sendo-o emocional, quiçá, racional,
sempre!

O poeta não precisa correr,
deve, apenas, convencer  de que a sua produção é gigante,
grande, 
provocante!

Assim, este não precisa correr,
por que, seu dia,
vai nascer,
chegar,
bem como convencer de que seus textos,
são grandes, enormes, gigantes!

A fama vem assim, 
aos poucos, lentamente,
contudo não se preocupe, 
pois quando tiver sentido, 
ela vai longe...

Dessa forma, não se deve esquecer de que a poesia
viaja a passos lentos,
sempre,
notadamente,
se esta tocar os mais profundos 
sentimentos!






QUEM DERA SER POETA (Abmael Dantas)





QUEM DERA SER POETA (Abmael Dantas) Se Existir mesmo esta tal de Reencarnação Na próxima Vida eu vou vir de coração Vou querer vir como um POETA Frio, sombrio, boêmio, mas sempre em linha reta Quero narrar o mundo, as dores, a Morte e os amores Quero sentar num banco da praça apenas pensando Voar, cantar, Sonhar, Viver amando Quero vir como um Poeta que vive intensamente Que ame a madrugada e ande livremente Os POETAS São os que realmente Aproveitam Limpos, sujos, dia, noite, e nunca se rejeitam Ora! Poetas, quem me dera vir como um Porque vocês aproveitam mais do que um ser comum.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Auto do Natal 2017 - Sant'Ana e São Joaquim, uma oração milagrosa

NÃO DEIXE DE ASSISTIR!

A Prefeitura Municipal de São José de Mipibu, por meio da Secretaria Municipal do Trabalho da Habitação e Assistência Social, tem a honra de convidá-los a prestigiar o "Auto do Natal 2017 - Sant'Ana e São Joaquim, uma oração milagrosa", o qual ocorrerá nos dias 22 e 23 de dezembro, às 19h30, no largo da Igreja Matriz.

Direção: Rosinaldo Luna
Texto: Cláudia Borges e Rosinaldo Luna
Apoio: Estúdio Sonorus / Renan Silva



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

DOIS POEMAS DE KEL (Cledemilson de Carvalho)

I
No berço braquial e mamas,
Esguia e pálida criança,
Dormia aguardando o sono eterno.

Já nascera com olhos corrompidos,
Sua boca em leporinos lábios,
Seus pequeninos pés torcidos,
Não supria a ausência dos braços.

Com ânsia de vômito comia,
Não demonstrava o comportamento inato,
Do sugar dos mamilos maternos.

Desde sua data natalícia,
Não despertava nas visitas,
Gentil esperança de vida amarga.

Em terra tão árida sofrida,
Qual criança assim nascida,
Pode vencer a força de um deserto?
Cledemilson de Carvalho



II
Também carrego minhas mágoas,
Lágrimas ressecadas de carmim,
Feridas abertas, desejos reprimidos,
Não vejo, almejo sonhos encardidos.

Também carrego pesadelos,
Um sono temperado de fraqueza e azia.
Um telhado furado, uma rede rasgada.
Noite de chuva, enchente, trovoada.

Também carrego minhas lágrimas,
Escondidas por trás de um sorriso,
Do silêncio, da obediente esperança,
No cavalheiresco mimo da última dança.

Também carrego meus fantasmas,
De erros, de rancor, de medo e terror.
Vívidas vivências insignificantes,
Vagando entre pensamentos vagos, errantes.

Não que seja, ou mesmo insensível fosse,
Pelo julgar dos olhos amaldiçoados;
Entregue ao tribunal dos carniceiros,
E condenado por infantes justiceiros.

Por fim, a pena nos ombros fracos cairia,
Materializada na dor muscular intermitente,
No grito surdo estremeceria,
A carne magra de um doente.

                        Cledemilson de Carvalho


sábado, 9 de dezembro de 2017

UM POEMA QUE DESPERTA (AUTOR: VICENTE COELHO)


UM POEMA QUE DESPERTA
AUTOR: VICENTE COELHO

Tem cantador de repente
Confiante no seu grito
Pra cantar alto e bonito
Se julga em todo ambiente
Por querer entrar na frente
Só ele é quem quer cantar
Vive a desclassificar 
Os cantadores menores 
Nos ambientes maiores 
Procura se calar.

Compra logo a prestação 
Uma beca, uma viola
E o cartaz se desenrola
Na imensa região
Por que ele na canção
Tem um jeito ritmado
Por ser muito elogiado
Chama o pequeno de boi
Esquecendo que já foi
Um palhaço no passado.

Os seus primeiros repentes
Nada tinham de certeza
Ele esqueceu a fraqueza 
Dos versos inconscientes
Quando em baixos ambientes
Cantava pouco e ruim
Desgostou mais de um festim
E depois de muito elevado 
Engavetou no passado
Pra ser orgulhar no fim.

Olha vossa majestade
Você começou no A
Passou por B por H
Tornou-se essa sumidade
Hoje na humanidade
É teólogo no saber
Nada mais falta aprender 
Tem tudo em sabedoria 
Quando você não sabia
Também queria viver.

Eu sei que o vaivém
Do tempo lhe desconforta
E você vai bater a porta
De um cantador Zé Ninguém
Olha você hoje tem 
Uma vida admirada
E a mesma rapaziada 
Que lhe tem hoje por fã
Pode dizer amanhã
Que você não canta nada.

Quando a ferrugem dos anos 
Destemperar-lhe a garganta
Você taciturno canta
A dor dos seus desenganos
Seus aplausos soberanos 
Ficarão distanciados 
Quando forem sepultados 
Seus gestos involuntários
Os pequenos solitários 
São por você abraçados.

Medite que canhotinho
Foi cantador aplaudido 
José Alves tão sabido
Hoje está quase sozinho
Leia de Antônio Marinho  
Seus versos penalizados 
Diminua seus pescados
Colega fazendo assim
Julgando seu fim no fim 
Dos companheiros passados.

Hoje para os coronéis 
Fala em ciências empíricas
Canta poesias líricas 
Nas poltronas de hotéis 
Ensina aos coronéis 
As origens dos vocábulos 
As construções dos estábulos 
As fundações dos reinados 
As lágrimas dos recalcados
E os campos vastos dos pábulos.   

Esse seu dom de burguês 
Com o tempo eu sei que muda
Recorde quem foi Zé Duda
Lembra quem foi Milanês
E a lama o que foi que fez
Com grande Rogaciano 
Castro Alves baiano 
Os escombros de Claudino
A lousa de Zé Faustino 
E as proezas de Romano 

Se você por sonho visse 
Sua matéria na cova 
E de Faustino Vila Nova
Em suas cinzas dormisse  
Talvez até que caísse 
Sua besteira singela 
Sua matemática bela 
Media desta maneira
Todos na medida inteira
Ou também meia tigela.

Veja também: AOS POETAS ARROGANTES