quarta-feira, 27 de agosto de 2014

SETE MITOS SOBRE A LITERATURA DE CORDEL

Por Izaias Gomes de Assis
“Literatura de cordel são livrinhos que são vendidos pendurados em barbantes no Nordeste Brasileiro e são ilustrados com xilogravuras e impressos em papel de má qualidade.” É comum ler essas afirmações em livros, revistas, jornais e em sites na internet como se fosse uma verdade absoluta e indiscutível. Pesquisadores mal informados se dão ao luxo de repetir essas falsas idéias em suas publicações.
É importante saber que a Literatura de cordel no Brasil tornou-se um gênero literário com suas características únicas de métrica, rima e textos desenvolvidos em linguagem coloquial. Ela veio até nós pelos portugueses, é verdade, mas aqui no Brasil só começou ser publicada comercialmente nos fins do século XIX em pequenas tipografias na cidade do Recife, PE. Os paraibanos: Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá foram os poetas iniciadores deste gênero, que já surgiu com roupagem textual típica nordestina. De lá para cá o cordel se desenvolveu praticamente no Nordeste, pois, na grande maioria, seus escritores são nordestinos e todos obedecem ao estilo empregado por Leandro e Silvino há mais de cento e vinte anos.
O formato dos livretos, tamanho, modo de produção, maneira como são expostos à venda ou material utilizado na confecção bem como suas ilustrações não dão créditos a nenhum escrito ser chamado de cordel, pois o que o caracteriza é o tipo e a qualidade do texto com suas formas definidas pela tradição da poesia popular nordestina. Tentar mascarar isso é encobrir a verdadeira identidade cultural do cordel brasileiro (recomendo ler a apostila de minha autoria -Aprenda fazer um cordel- para entender melhor o assunto). Porém existe muita conversa fiada sobre a verdadeira identidade literária do cordel, vejamos alguns mitos sobre nosso cordel:
1º MITO – “Pra ser cordel tem ser vendido pendurado num cordão”.
O nome Literatura de Cordel era empregado em Portugal desde o século XVII, mas no Brasil essa nomenclatura não era comum até meados da década de 1960, pelo menos nas regiões populares onde nossos folhetos circulavam. O nome Literatura de cordel apareceu em nosso país como um apelido urbano que os intelectuais e pesquisadores deram aos versos, romances e folhetos que se vendiam nas feiras livres do Brasil, em especial no Nordeste, em malas, mesas ou expostos diretos no chão, nunca dependurados em barbantes ou cordas. Imagine um folheteiro amarrando seus livretos num cordão em uma barraca ao ar livre, expostos ao vento constante; isso nunca existiu!
Quando o nome cordel foi pegando no Brasil, por volta dos anos de 1970, os editores de cordel começaram a imprimir a expressão “Literatura de cordel, antiga literatura popular” nas contracapas de seus folhetos e, consequentemente, os vendedores em estabelecimentos fechados começaram a expor os livretos pendurados em cordões e barbantes. Daí então os novos leitores foram se familiarizando com o novo nome (cordel) e os nomes que o povo dava: folheto, romance, versos; foram caindo em desuso.
Resumindo tudo: o apelido veio primeiro do que o costume de pendurar nossos livrinhos. Ainda hoje, tem muita gente (principalmente em cidades interioranas) que não conhece nossos folhetos por este nome Literatura de Cordel e sim como romances, versos ou simplesmente folhetos. È bonito, cultural e aparentemente tradicional expor os cordéis dependurados pregados com prendedores de roupas, mas isso não é nem de longe a principal característica do que é verdadeiramente Literatura de Cordel Brasileira.
2º MITO – “Tem que ser ilustrado com xilogravura.”
Esse é o erro mais grosseiro que se vê nas pessoas que chegam a nossas bancas de cordéis querendo adquirir só folhetos que sejam ilustrados por xilogravuras. Geralmente professores oriundos das regiões Sul e Sudeste ou vindos da Capital Federal têm essa mentalidade. Esses pseudo-pesquisadores repugnam os folhetos com capas bem produzidas que tenham desenhos modernos ou que sejam impressas em policromia; como se a capa fosse o principal atrativo do cordel, quando na realidade não o é.
Devemos lembrar que o cordel começou ser produzido no Brasil no fim do século XIX e até os anos de 1920 era comum confeccionar folhetos com capas cegas (sem ilustração nenhuma). Aos poucos foram sendo introduzidos os clichês de zinco e fotografias. De lá pra cá, até os idos de 1970 pendurou o modo de ilustrar as capas dos folhetos com fotos de artistas do cinema ou até mesmo com a foto dos seus autores ou dos personagens tratados neles (isso se vê nos folhetos atuais, inclusive em cordéis de minha autoria).
A xilogravura é apenas um dos meios de ilustração de cordel; ela tornou-se popular a partir dos anos de 1940, quando o grande editor de cordel João Martins de Athayde encomendou tacos de xilogravura para ilustrar os folhetos de oito páginas que ele editava. Porém Athayde continuou ilustrando os romances de trinta e duas páginas com fotografias de artistas do cinema americano, pois ele achava muito mais chamativo do que traços rudes de preto no papel colorido.
Outro fator que devemos lembrar é que a xilogravura começou ser utilizada nos folhetos para baratear os custos, visto que os clichês de metal eram muito caros e só eram confeccionados nas grandes capitais nordestinas. Muitos poetas começaram a confeccionar suas próprias xilogravuras que no princípio eram toscas e mal acabadas.  Só ao longo dos anos foram aperfeiçoando seus dotes artísticos na madeira.
A partir dos anos de 1970 grandes xilógrafos de renome nacional começaram a difundir suas xilos junto com seus folhetos e defender ferrenhamente a xilogravura como única forma válida de ilustrar a literatura de cordel; por isso é comum ver e ouvir pessoas mal informadas sobre o assunto. A Editora Luzeiro (antiga Prelúdio) com sede em São Paulo, desde a década de 1950 vem produzindo cordéis com capas bem elaboradas e coloridas. Um dos maiores cordelistas do país Manoel D’Ameida Filho editou quase toda sua produção cordelística nesta editora. Será que ele não era cordelista por causa das capas de seus cordéis? Quem nunca leu os clássicos de Almeida, conhece muito pouco sobre a riqueza literária do cordel, pois ele era um gênio nessa arte de compor versos rimados e metrificados como manda o figurino.
3º MITO – “Tem que ser impresso em papel jornal”.
É verdade que na sua totalidade, até a popularização das máquinas de tirar xérox, os cordéis eram impressos em papel jornal e na maioria das vezes no tamanho de um quarto de ofício (11x16cm), com exceção dos cordéis produzidos pela Editora Luzeiro, que matem um formato maior (13,5x18cm) até os dias de hoje. Porém assim como a xilogravura veio para diminuir os custos na produção do cordel, o papel jornal também se tornou forte aliado nessa empreitada de baratear a produção. Os folhetos impressos em pequenas gráficas deram acesso aos poetas sem muitos recursos financeiros de verem seus textos publicados, coisa que era quase improvável acontecer em grandes editoras.
Com o advento do computador pessoal e da internet, o cordel começou a ser novamente popularizado a partir dos fins dos anos de 1990 e os folhetos começaram a ser reimpressos em pequenas tiragens em impressoras caseiras tipo jato de tinta ou em máquinas de xérox das lojas copiadoras a preços de centavos a unidade. Com isso os donos de editoras de cordel que sobreviviam ou os que apareciam no momento começaram a criticar tais atitudes, pois diziam (e alguns ainda hoje dizem) que descaracteriza a verdadeira identidade do cordel. Eu torno a perguntar: qual é a verdadeira identidade do cordel? O tipo de papel é que o valida como o tal?
Bom seria que todos os poetas de cordel publicassem seus folhetos em papel jornal, mas tem um grande entrave aí: só quem roda esse tipo de papel são gráficas de médio e grande porte e as tiragens tem que ser de milhares de exemplares para compensar. Nesse caso é melhor o poeta ir à copiadora da esquina e mandar xerocar cinco reais de cordel (que ele recebe na mesma hora) e “meter brasa” nas vendas. O xerocordel (nome pelo qual são apelidados os folhetos xerocados) na sua maioria são impressos em ¼ de A4, pois esse é o formato de papel mais usado hoje em dia no mercado. Muitos não gostam de ver seus textos publicados dessa forma porque alegam que as xerocópias se apagam com o tempo e desejam ter suas obras perpetuadas por longos tempos.
O poeta cordelista que vive da vendagem dos seus folhetos não está interessado em ser lembrado duas ou três décadas depois de sua morte, ele está preocupado em ganhar dinheiro e sustentar sua família agora. Hoje em dia os meios de comunicação, a memória do povo e os pesquisadores de cordel se encarregaram de perpetuar os nomes dos grandes cordelistas, não importa se publicaram em papel jornal ou colchê 75g.
Vida eterna ao cordel!
4º MITO – É escrito em linguagem matuta.
Alguns poetas ditos eruditos e/ou pesquisadores que não lêem cordel (pois existem muitos desse tipo) afirmam que o cordel é escrito na linguagem do matuto. Outros dizem que nossos folhetos são escritos por semi-analfabetos. É verdade que muitos poetas populares não tinham muita instrução escolar, mas isso não os desclassificam como bons glosadores ou contadores de histórias. Quase todos eles eram autodidatas e escreviam de maneira clara e objetiva numa linguagem coloquial, a mesma adotada nas novelas e nas traduções de filmes estrangeiros aqui no Brasil.
Um grande poeta popular do Brasil, o cearense Patativa do Assaré, foi cantador, cordelista e poeta matuto; ficou conhecido pela sua poesia matuta e isso confundiu muita gente que associava o cordel com a poesia matuta, que na realidade têm a mesma característica estrutural, mas são distintas na linguagem. O cordel é escrito em linguagem coloquial e a poesia matuta, como o nome já diz, em linguajar bem caipira, à moda nordestina e na maioria das vezes em primeira pessoa. O próprio Patativa sabia dessa diferença, tanto que os poucos cordéis que ele produziu foram escritos em linguagem coloquial e não em matuta. Você vê essa diferença claramente no seu folheto intituladoAladim e a lâmpada maravilhosa.
Em mais de cem anos de literatura de cordel no Brasil, são poucos os folhetos que têm falas matutas, e os que a usam geralmente é fazendo trocadilho ou mostrando duplo sentido com as palavras como é o caso do cordel de José Pacheco intitulado O vendedor de maxixe. Outro exemplo famoso é A Briga de dois matutos por causa de um Jumento, de Enéias Tavares Santos. Na atualidade existem alguns poetas matutos que publicam suas poesias em formato de cordel e até o chamam de cordel, porém eles são minorias e exceção a regra geral.
5º MITO – Só fala de coisas relacionadas ao meio rural
Os pseudopesquisadores (repito: os que não lêem cordel) afirmam que os poetas cordelistas na sua maioria retratam em seus textos lugares, personagens e temas rurais; e até criticam cordéis com temas modernos tipo: Alien e predador versus Lampião, de minha autoria ou O cangaceiro espacial, de autoria do cearense Klevisson Viana. O poeta-mor do cordel Leandro Gomes de Barros escreveu na primeira década do século XX um folheto chamado: O Cometa, que anunciava a passagem do cometa Halley pela Terra em 1910 e prenunciava uma catástrofe no planeta. Romances como Valdemar e Irene e O Pavão Misterioso, entre outros, não são narrados em meios rurais; sem falar dos clássicos que narram histórias de dragões, fadas, animais encantados e princesas, que não situam suas histórias no campo, muito menos são narrativas que ocorrem no espaço nordestino.
Sempre existiram os folhetos noticiários que serviam como jornal poético e que tratavam de todo tipo de assunto, desde a morte de Getúlio Vargas, passando pela construção e fundação de Brasília até o tri-campeonato mundial da Seleção brasileira de futebol em 1970. Além dos cordéis ecológicos, os que tratam de saúde, os políticos, os fantásticos, os satíricos, etc. O cordel pode ser utilizado (como sempre o foi) para diversos fins; desde que escrito de forma correta ele é válido, até mesmo os cordéis eróticos considerados de conteúdos impublicáveis.
O cordel sempre foi moderno e atual no tempo de sua publicação, e é bem verdade que os cordelista, na sua maioria, são poetas oriundos do meio rural, principalmente do Nordeste; por isso é comum todo poeta popular ter textos que relembrem sua terra natal, mas isso não significa que só escrevemos coisas relacionadas ao campo.
6º MITO – Só quem escreve cordel é nordestino
Todo mundo sabe que o celeiro cordelístico do Brasil é e sempre será a região Nordeste; pois foi por aqui que ele surgiu e se popularizou pelo país, principalmente com as sucessivas migrações nordestinas que ocorreram aos longo do século XX. Os primeiros e os grandes cordelistas brasileiro foram, sem dúvida, nordestinos como Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá, Chagas Batista, João Martins de Athayde, José Pacheco, José Camelo, Manoel D’Almeida, Apolônio Alves, Francisco Sales Arêda, e outros tantos. As grandes folheterias também se localizavam no Nordeste, como as de Leandro Gomes de Barros e de Athayde, ambas em Recife – PE, a de José Bernardo no Juazeiro do Norte – CE, e a de Manoel Camilo em Campina Grande – PB. Das sete maiores editoras de cordel na atualidade cinco estão no Nordeste: A Tupynanquim em Fortaleza CE, A Queima-Bucha em Mossoró RN, a Chico Editora em Parnamirim RN, a Coqueiro em Recife PE e a J. Borges em Bezerros PE; e só duas perduram no Sudeste: a Luzeiro em São Paulo SP, e a ABLC no Rio de Janeiro RJ.
Com a expansão do cordel Brasil afora foram surgindo grandes poetas em outras regiões, obedecendo ao estilo peculiar dos folhetos nordestinos. Em Belém PA, na região Norte, existiu até 1949 uma Editora chamada Guajarina, que era especializada em publicar cordel de autores locais e dos grandes clássicos nordestinos. Lá na capital do Pará eu conheci o grande cordelista paraense Juraci Siqueira, que tem mais de duzentos folhetos publicados dentro dos mais rígidos padrões nordestinos. Na Região Sudeste, conheci no Rio de Janeiro o carioca Victor Alvim (o Lobisomem), um jovem discípulo de Gonçalo Ferreira, que escreve seus cordéis sobre capoeira com a mais perfeita simetria de métrica e rima como se exige num autêntico cordel.
O paulista Arlindo Pinto de Souza um dos proprietários da antiga Editora Prelúdio era um exímio cordelista, assim como seu conterrâneo Hélio Cavenaghi, que também escrevia pela Editora Luzeiro. A ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel) tem alguns de seus membros oriundos de vários estados fora do Nordeste. Portanto, o cordel pode e deve ser escrito do Oiapoque ao Chuí, por qualquer cidadão brasileiro ou do mundo, mas só será reconhecido como um cordel genuinamente brasileiro se for escrito com as mesmas técnicas que os verdadeiros poetas populares nordestinos o fazem desde os fins do século XIX.
7º MITO – O cordel é poesia inferior
Muitas pessoas, que só conhecem os pequenos folhetos de oito páginas de poetas fraquinhos, formulam conceitos errôneos sobre nossa forma literária, considerando-a de baixo valor. Manoel Bandeira, em um de seus poemas, já elogiava os poetas populares os considerando superiores. Carlos Drumonnd de Andrade considerou Leandro Gomes de Barros como o verdadeiro príncipe dos poetas brasileiros, e vez de Olavo Bilac. Manoel D’Almeida Filho e Apolônio Alves dos Santos eram grandes poetas tão bons quanto os da chamada poesia erudita. Poucos ditos “eruditos” teriam ou têm capacidade intelectual de escrever histórias como Vicente o Rei dos ladrões ou O herói João Canguçu, clássicos dos cordelistas supramencionados.
O cordel é uma narrativa poética em linguagem popular, isso não a difere em nada de outro tipo de poesia. O que faz a diferença é a qualidade poética e criativa do autor. Um grande poeta cordelista da atualidade é o potiguar Antonio Francisco, que escreve textos brilhantes dignos de figurar em qualquer estante universitária, lado a lado com qualquer livro de poesia brasileira ou mundial; pois são ricos em figuras de linguagem e crítica social e da mais pura essência poética que um ser humano pode ter (recomendo ler dele o folheto: Os animais tem razão). Grandes nomes surgem na atualidade adaptando textos clássicos da literatura universal para o cordel, não porque nosso folheto é rude ou de baixa qualidade literária, mas sim porque é melhor de ler e memorizá-lo.
Hoje as grandes editoras estão dando mais atenção ao cordel publicando textos de poetas já renomados como Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré, Marco Haurélio, Bráulio Tavares e Patativa do Assaré, em formato de livros que estão invadindo as prateleiras das livrarias brasileiras. Há anos nossos poetas de cordel vêm sendo estudados na França, em Portugal, na Alemanha e em outros países por estudiosos que reconhecem o valor literário do cordel brasileiro que é ímpar no mundo.

sábado, 23 de agosto de 2014

"Mais um poeta brotando Nas terras de Santa Cruz" (Gilberto Cardoso dos Santos)



O amigo Paulo Roberto
Ex-aluno  inteligente
No verso foi competente
Falou do que viu de perto
Show ao vivo de Wilard
Que comprovou sem alarde
Ser um artista de luz
E eu fico observando     
"Mais um poeta brotando
Nas terras de Santa Cruz"

(Gilberto Cardoso dos Santos, mote de Hélio)


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

HOMENAGEM A RAUL COM BOI-DO-REI - Gilberto Cardoso dos Santos

Quadro feito por  Wilard Monteiro em homenagem ao falecido Mestre Antônio da Ladeira no show do dia 21.08.14 da Banda Geração Perdida. O quadro foi feito ao vivo, perto do término do show, no palco. Parabéns ao artista e à banda pela merecida homenagem.


Mestre Antônio da Ladeira
Ressurge em show pra Raul
Recomeça a brincadeira
Junto com seu boi azul.
Na tinta vai deslizando
Colorindo e encantando
Como numa holografia
Enquanto o pincel desliza
Sombras materializa
E o que resta é poesia.



VEJA TAMBÉM

Belíssimo e espaçoso sítio às margens do açude do DENOCS (Açude Novo) de Santa Cruz, próximo ao centro da cidade e IFRN, com 2,6 hectares. Terra fértil com benfeitorias e pomar. Para maiores detalhes, entre em contato pelo e-mail gcarsantos@gmail.com ou fone (84) 9901-7248
http://www.slideshare.net/gcarsantos/merged-38232988

Veja a sequência de slides ao lado ============>>>>>>>>>

terça-feira, 19 de agosto de 2014

UM POUCO SOBRE HUGO TAVARES - Gilberto Cardoso dos Santos


A FM Santa Rita
Que dá voz aos esquecidos
Tem feito obra bonita
Em favor dos excluídos
Denunciando dilemas
Corrupções e problemas
Sociais não resolvidos.

E foi graças à ação
Resistente e libertária
Que saiu a concessão
da rádio comunitária
graças a Hugo Tavares
traz a FM aos lares
programação solidária.

Por ela veio a ser preso
Porém firme resistiu
Não se mostrou indefeso
Com sua voz reagiu
E após batalhas diversas
Venceu forças adversas
E à rádio conseguiu

Um dos sócios-fundadores
Da Rádio Comunitária
Falou-me dos seus labores
Da luta quase diária
Que Hugo empreendeu
Até que prevaleceu
Contra a força monetária

As conquistas sociais
Que Hugo tem alcançado
Provam do que é capaz
Esse poeta arretado
Naquilo que empreende
Ele sempre surpreende
o sucesso é alcançado.

Decerto em sua luta
Tem sofrido frustrações
Mas prossegue na disputa
Por melhores condições
Pra toda sociedade
Luta com tenacidade
Sem temer oposições.  

Pela sua inteligência
recebeu destaque e glória
Sem esquecer a decência
Com que viveu sua história
Altruísta e singular
Digna de figurar
No pavilhão da memória.

Hugo foi participante
De diversos festivais
Sua canção militante
Sempre a mensagem traz
Necessária e salutar
De que é preciso lutar
Por avanços sociais

Por diversos segmentos
Hugo foi condecorado
Em diferentes eventos
Ele tem sido aclamado
Por seu valor cultural
E trabalho social
A que tem se dedicado

As cartilhas que publica
Já viraram tradição
Em versos ele explica
O dever do cidadão
Sobre o voto intransferível
E faz um trabalho incrível
De conscientização.

Pra que universitários
Pudessem ter residência
Enfrentou adversários
Batalhou com veemência
Também merece destaque
A luta em prol do Crutac
enfrentada com decência.

O vate cheio de fé
Foi na escola influente
militou no DCE
Como vice-presidente
Ali fez coisas marcantes
Com certeza impactantes
De efeito permanente

Sua luta sindical
Também merece menção
Um papel fundamental
Teve na implantação
No Rio Grande do Norte
De um sindicato forte
Em sua repartição.

Pelas águas do Bonfim
Hugo muito batalhou
Deu um retumbante sim
Ao que o padre pregou
Graças à sua ação
No “água não, voto não”
A água doce chegou.

Hugo precisa saber
De sua grande importância
Do bem que veio a fazer
Com a sua militância
sua bela trajetória
se mostrará meritória
Terá grande relevância.

domingo, 17 de agosto de 2014

Quanto é grande o autor da natureza - Zé Vicente


A abelha por Deus foi amestrada
Sem haver um processo bioquímico
Até hoje na houve nenhum químico
Pra fazer a ciência dizer nada
O buraco pequeno da entrada
Facilita a passagem com franqueza
Uma é sentinela de defesa
E as outras se espalham no vergel
Em turbina e sem tacho fazem mel
Quanto é grande o autor da natureza.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

HOMENAGEM A EDUARDO CAMPOS - Marciano Medeiros


Eduardo Campos foi
Um líder pernambucano,
Neto de Miguel Arraes
Corajoso ser humano,
Fez da política uma arte
Sem pose de veterano.

Demonstrou simplicidade
Brotando em seu coração,
Quando falava exprimia
Bastante convicção,
Em numerosas palestras
Falou a população.

Passou no vestibular
Com dezesseis de idade,
Ingressando nesse tempo
Num curso da faculdade,
Formou-se em economia
Mostrando capacidade.

No dia dez de agosto
Seu nascimento ocorreu,
Durante sessenta e cinco
A família o recebeu.
Na deslumbrante Recife,
O menininho cresceu.

Tornou-se orador da turma
Quando houve a formatura,
Discursou de modo claro
Já tendo desenvoltura,
Projetava entre os colegas
Personalidade pura.

Na campanha do avô,
Foi muito participante.
Quatro vezes deputado
Viveu momento importante,
Tendo mais de cem mil votos
Numa campanha vibrante.

Guardemos só a lembrança,
Num vendaval de saudade.
Ele também foi ministro
Repleto de liberdade
Que desejava o melhor
Pra toda sociedade.

Governou o seu estado
De forma muito segura,
O povo de Pernambuco
Relembra desta figura,
Governador duas vezes
Recebeu investidura.

Amigo de Ariano
Suassuna o menestrel,
Participou do velório
Daquele gênio fiel;
E agora a morte o conduz,
Num acidente cruel.

O Brasil chorou bastante,
Sete pessoas morreram.
Amigos e dois pilotos,
Mortes sangrentas sofreram.
As imagens na TV,
Mostradas me comoveram.

Que sua esposa Renata
Junto dos cinco filhinhos,
Recebam força de Deus,
A luz dos nossos caminhos.
Além de abraços e flores,
Simbolizando carinhos.

Eduardo Campos deixa,
Um precioso legado.
Ontem estava no presente,
Mas hoje virou passado.
Acredito que seu nome,
Jamais será relegado.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

PEÇO A DEUS EM ORAÇÃO, CURE JOÃO PARAIBANO

PEÇO A DEUS EM ORAÇÃO,
CURE JOÃO PARAIBANO 

 (Marciano Medeiros) 

Rogo permissão a Deus 
O nosso Pai Soberano, 
Pedindo que Ele ajude
A João Paraibano, 
Escapar deste acidente
Para depois sorridente,
Regressar o veterano.

O gênio da cantoria 
Tem ouro no coração,
Toda palavra que canta
Traz o véu da emoção.
É um grande nordestino,
Menestrel e peregrino,
Referência da Nação.

Descreve lindas imagens
Do cenário sertanejo,
Ele falando nas grotas, 
Gera profundo desejo:
Estimula o visitante, 
A se tornar viajante
Pra conhecer vilarejo.

Comove falando em chuva
Pingando cortante e fria,
Aliviando o sofrer, 
Expulsando a agonia
Dos nossos trabalhadores,
Sofridos agricultores,
Sem gado e sem moradia.

Há poucos dias ouvi 
Que seu juízo tem mola,
Pois quando canta bons motes
A poesia decola, 
Em noite sentimental
Acontecida em Natal,
Lá no Sexta da Viola.

Escutei sua entrevista 
Vi muita simplicidade,
O coração do poeta 
Falou mostrando bondade.
Mesmo repleto de dor,
Não perdeu seu bom humor,
Ternura e fraternidade.

Que Deus aumente seus versos
Depois de tê-lo curado,
Mandando um anjo de luz
Permanecer do seu lado. 
Para depois num festim
Você fazer um jardim, 
Cantando em tom inspirado.

A vida trouxe acidente 
No solo pernambucano,
Feriu, mas não acabou 
Este grande ser humano.
Termino tendo emoção
Peço a Deus em oração, 
Cure João Paraibano.

domingo, 10 de agosto de 2014

HOMENAGEM DE HÉLIO


DIA DOS PAIS - Adriano Bezerra


Se você tem o seu pai
É hoje o seu grande dia
Bem cedo levanta e vai
Lhe acordar com alegria
Sente ao lado em sua cama
Lhe diga o quanto lhe ama
Lhe abrace enquanto lhe diz
Depois de lhe agradecer
Lhe dê um beijo ao dizer
O quanto te faz feliz.

sábado, 9 de agosto de 2014

BELOS VERSOS DE DINIZ VITORINO


AOS CANTADORES Diniz Vitorino
Ilustres colegas, fiéis andarilhos,
ó amados filhos das musas celestes!
Eu vos enalteço, chorando ou sorrindo,
por tudo de lido que em versos fizestes.
Poetas gigantes, caboclos aedos,
os vossos dez dedos são teclas caipiras,
cavando saudades em mundos de anseios,
tirando gorjeios das bocas das liras.
As vossas violas são harpas sonoras,
cítaras canoras, vestidas de rendas...
pianos matutos, que gemem sonatas,
ferindo as mulatas, no chão das fazendas.
As vossas falanges dedilham baiões,
tocando os bordões, batendo nas primas,
jogando nas nuvens poemas dispersos,
conjunto de versos, colóquios de rimas.
Amantes da lua, poetas legítimos!
Ó filhos dos ritmos, dos cantos selvagens!
As vossas cantigas aos rudes ofendem,
porque não entendem das vossas linguagens.
Cantai, cantadores, fazei vossa festa!
A vida só presta com cantos assim.
Se fordes expulsos por gênios perversos,
cantai vossos versos somente pra mim.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

REFLEXÕES SOBRE UM ANIVERSÁRIO - Renan II Pinheiro


No dia 4 de agosto de 1944, numa manhã em Amsterdam, uma equipe das SD (serviço secreto alemão), entrou à força num prédio da rua Prinsengracht, seguindo as instruções que lhes foram dadas por uma voz feminina num telefonema anônimo. Depois de renderem os funcionários, subiram numa escada, onde, escondido por uma estante, há dois anos funcionava um esconderijo para oito pessoas: três homens maduros (um dos quais um oficial reformado do exército alemão que combatera na I Guerra Mundial), duas senhoras, duas garotas e um rapaz, que receberam voz de prisão e a ordem de entrarem num caminhão, tendo de assistirem calados os oficiais vasculharem suas coisas à procura de jóias e objetos de valor, amealhando essas coisas sem pedir licença e jogando o que não consideravam importante no chão. Depois de algum tempo em Westerbork, foram enviados para outros campos de concentração e, separados aos poucos, submetidos a condições subumanas que eliminaram um a um, exceto o oficial reformado, que, libertado e de volta a Amsterdam, teve de conviver com o que acontecera aos demais, que incluíam sua esposa e suas filhas. Contudo, uma de suas colaboradoras naquela época difícil entregou-lhe os diários de sua caçula, que apanhara da pilha de descartes e guardara sem ler durante meses, e ao lê-los ele se deu conta de quão talentosa e profunda aquela menina de quinze anos era, motivo pelo qual decidiu editá-los e publicá-los. Dois anos depois, “O anexo secreto” foi publicado na Holanda, e aos poucos aquelas histórias misturadas com tiradas espirituosas e reflexões sobre a vida difundiram-se pelo mundo, marcando a vida de milhões de pessoas e inspirando adaptações para rádio, teatro, televisão e cinema, a essa altura com o nome que recebeu quando começou a ser traduzido para outros idiomas: “O Diário de Anne Frank”. Podem me chamar de sentimental, mas escrevo essa pequena memória porque acredito que um aniversário dessa natureza não pode passar despercebido, especialmente num momento como esse, onde pelo menos dois conflitos regionais fundamentados no ódio entre vizinhos ameaçam dividir novamente o mundo, provando que infelizmente muitos ainda sentem necessidade de subjugar aqueles de que discordam. Precisamos resgatar a obra dessa menina que falou tanto sobre o desejo de amar e de ser livre, bem como da necessidade das pessoas (inclusive as consideradas “diferentes”) serem respeitadas e terem paz, mas não pôde dar uma contribuição ainda maior para o mundo porque foi assassinada num campo de concentração, somando-se a tantos judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová e até padres mortos nesses locais. E para reforçar o meu desejo de que essa história não se repita, gostaria de transcrever o posfácio que Miep Gies, a colaboradora que salvou seu diário, escreveu para uma biografia a seu respeito lançada em 1998, 12 anos antes de sua própria morte: “Nos últimos cinquenta anos, desde a publicação do diário de Anne Frank, sempre me perguntaram de onde tirei a coragem para ajudar a família Frank. Esta pergunta, formulada às vezes com admiração, às vezes de maneira incrédula, sempre me afetou de forma desagradável. Sim, claro que é preciso coragem para se cumprir o dever humano; claro que é preciso estar disposto a fazer certos sacrifícios. Mas isto vale para muitas situações na vida. Portanto, por que, estou sempre me perguntando, uma pessoa faz uma pergunta dessas? Por que tantas pessoas hesitam em saber se devem ajudar ou não seus semelhantes? Só comecei a compreender aos poucos. A maioria das crianças ouve seus pais dizerem desde pequenas: ‘Se você for muito bom e bem comportado, vai se dar bem na vida’. Portanto, a conclusão inversa seria: se uma pessoa está em dificuldade, então ela deve ter se comportado mal, deve ter cometido um erro grave – simples assim. Cada qual recebe a vida que merece – simples assim. Então, simples assim, se toma a decisão de não intervirmos a favor dessa pessoa, de ‘ficarmos de fora’. Simples assim? Minha vida ensinou melhor. Eu ajudei porque sei a facilidade com que as pessoas ficam numa situação difícil sem necessariamente terem feito algo de errado. Eu nasci em Viena e, no começo da Primeira Guerra Mundial, estava com cinco anos de idade. Minha mãe sempre me assegurou que eu era menina boa, digna de ser amada e que ela estava satisfeita comigo – tanto em casa como na escola. Quando eu tinha nove anos, não tínhamos o suficiente para comer. Ainda me lembro muito bem dessa torturante sensação de fome, aquela dor aguda no estômago, as tonturas desagradáveis contra as quais tinha de lutar. Jamais esquecerei o choque que tive quando meus pais me enviaram para a Holanda, para uma ação de ajuda para crianças necessitadas e famintas. Era um dia de dezembro do ano de 1920, fazia um frio de rachar quando me levaram para o trem, penduraram em meu pescoço um enorme cartaz com um nome estranho, se despediram de mim e me deixaram sozinha – forçados pelas circunstâncias, é claro. Mas eu só compreendi isso muito mais tarde. Eu estava muito abaixo do peso, sofria de tuberculose e me sentia terrivelmente solitária. Por que eu havia merecido estar tão doente e abandonada? Minha mãe me assegurara que eu não tinha feito nada de errado... Portanto, aos 11 anos de idade, tive a experiência da rapidez com que se fica numa situação difícil, de maneira totalmente inocente. Minha experiência me mostrou que o mesmo também era valido para os judeus na Segunda Guerra Mundial. Por isso achei natural ajudar até onde estivesse em meu alcance. Quando tomamos conhecimento, comovidos, de que seis milhões de crianças, mulheres e homens foram mortos, ao se fazer a pergunta ‘por quê’ devemos ter diante dos olhos a indiferença mundial dos concidadãos ‘bem normais’ – a propósito, quase sempre decentes, que trabalham duro e muitas vezes temem a Deus. Claro que é o regime nazista que tem a responsabilidade pelo genocídio; contudo, sem a postura passiva de tantas pessoas (não apenas na Alemanha e na Áustria), que com certeza no fundo são boas pessoas, os bárbaros assassinatos jamais teriam alcançado essa proporção. Quando – coisa que de fato me acontece ainda hoje – pessoas jovens vêm a mim porque não podem acreditar que Hitler assassinou os judeus sem nenhuma razão, receio que essa observação reflete exatamente aquela educação que parte do pressuposto de que tal coisa jamais aconteceria com pessoas inocentes. Então, eu lhes conto sobre Anne Frank e pergunto se porventura supõem que aquela criança, aquela jovem menina fez alguma coisa qualquer que justificasse seu destino cruel. ‘Não, claro que não’, as pessoas respondem, em geral bastante envergonhadas, ‘Anne Frank é inocente’. ‘Exato’, eu acrescento, ‘tão inocente quanto todos os outros seis milhões de judeus’. A vida de Anne – e sua morte – tem valor simbólico para todos aqueles que hoje são submetidos a preconceitos, discriminação e perseguição: responde pela absoluta inocência das vítimas. Gostaria também de aproveitar a publicação de ‘Anne Frank – uma biografia’ para esclarecer um frequente mal-entendido. Sempre dizem que Anne simboliza os seis milhões de vítimas do holocausto. Considero errada essa interpretação. A vida e a morte de Anne são um destino individual. Um destino individual – acontecido seis milhões de vezes. Anne não pode ocupar como representante o lugar desses muitos indivíduos, dos quais os nazistas roubaram a vida. Cada vítima representou sua própria visão de mundo e ideais, cada vítima tinha seu próprio significado pessoal e singular para seus parentes e seu ambiente. Hitler e seus colaboradores tentaram representar exatamente o contrário em seu delírio racial: os judeus como imagens sem rosto do inimigo. Ao mesmo tempo, eles assassinaram seis milhões de indivíduos, seis milhões de destinos individuais. E a maioria das pessoas não quis saber. Anne é apenas uma delas. No entanto, seu destino nos faz compreender a imensa perda que o mundo sofreu com o holocausto. Anne, uma adolescente simples, tocou com seu talento o coração e a razão de milhões de pessoas, enriquecendo sua vida – oxalá tenha ampliado também sua visão. Nós devemos tomar consciência do quanto Anne, do quanto todas as outras vítimas, cada qual à sua maneira, teriam contribuído com nossa sociedade. Não pude salvar a vida de Anne – e me sinto profundamente consternada por isso. No entanto, pude ajudá-la a viver mais dois anos. Ela escreveu seu diário nesses dois anos, o diário que dá esperança a milhões de pessoas no mundo inteiro e que faz um apelo para mais compreensão e respeito. Isto confirma minha convicção de que toda tentativa é melhor do que a inação. Uma tentativa pode fracassar; no caso da inação, o fracasso é garantido. Eu pude salvar o diário de Anne e, desse modo, ajudar a realizar o maior desejo dela: ‘Quero ser de utilidade e alegria para as pessoas que vivem à minha volta, mas que não me conhecem’, Anne escreveu em 25 de março de 1944, mais ou menos um ano antes de sua morte. ‘Quero continuar vivendo, mesmo depois de minha morte’. E em 11 de maio, ela anotou; Você sabe que meu desejo mais querido é um dia me tornar jornalista e mais tarde uma escritora famosa’. Anne continua realmente a viver através de seu diário. Ela responde pela vitória do espírito sobre o mal e a morte. Miep Gies, Amsterdam, janeiro de 1998".

domingo, 3 de agosto de 2014

Em 1923, Natal conheceu Fabião das Queimadas - Por Rostand Medeiros

Fabião das Queimadas,
Em 13 de dezembro de 1923, o jornalista e advogado Manoel Dantas, com o pseudônimo de “Braz Contente”, publicou no jornal “A Republica”, uma nota intitulada “Coisas da Terra”, onde noticiou que “estava sendo organizada uma grande quermesse, que ocorreria na noite de natal e teria lugar nos jardins do Palácio do Governo. Esta era uma iniciativa de senhoras da sociedade local, que buscavam ajudar o Instituto de Proteção e Assistência a Infância a construir o Hospital das Crianças”.

O edifício estava sendo construído na avenida Deodoro, idéia do médico Manoel Varela Santiago Sobrinho para atender às camadas mais carentes da população. Por esta época, eram altíssimos os índices de mortalidade infantil na capital, devido às precárias condições de higiene e do atendimento à saúde pública. Estes problemas incomodaram uma parte da sociedade local, que se disponibilizou a ajudar.

À frente desta iniciativa se destacou a figura da poetisa Palmyra Wanderley, que em 1923 era uma das mais conceituadas intelectuais da terra, possuía uma cultura elevada, vinha de uma família de intelectuais, sendo assídua colaboradora em jornais e revistas, tanto potiguares como de outros estados.

Junto com a liderança de Palmyra, mais de 50 mulheres se engajaram nesta obra. Não deixa de ser interessante que, em meio a uma cidade onde predominava a família patriarcal e o machismo, se observa esta participação feminina. Foi publicada uma lista com os nomes destas participantes, onde se percebe que a grande maioria destas mulheres faziam parte da elite natalense. Um grupo delas chegou inclusive a sair pela Natal de 25.000 habitantes, para vender as entradas da quermesse, pelo preço módico de 2$000 réis.

Como atração principal, Palmyra decidiu não colocar algum artista declamando poesias clássicas, ou algum instrumentista tocando alguma peça européia, ou ainda artistas vindo de outras capitais. Sua decisão foi por um artista potiguar, já com uma certa idade, um poeta que declamava seus versos junto com uma rabeca, além de tudo negro e ex-escravo. Estamos falando de “Fabião das Queimadas”.

Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha nasceu escravo, em 1850, na Fazenda Queimadas, do coronel José Ferreira da Rocha, no atual município de Lagoa de Velhos (RN). Começou a cantar durante os trabalhos na roça. Tornou-se tocador de rabeca, tendo adquirido seu instrumento aos 15 anos, com o apoio do dono, que permitia e incentivava que ele cantasse nas casas dos mais abastados da região e nas feiras. Conseguiu angariar algum dinheiro que, aos 28 anos, possibilitou comprar a sua alforria. Era analfabeto, mas criava versos, como o “Romance do boi da mão de pau”, com 48 estrofes. Suas composições apresentam traços dos romances herdados da idade média.

Em 1923, Fabião das Queimadas já era conhecido e respeitado no estado, onde no início do período republicano manteve ligações com políticos da terra, emprestando seus talentos ao criar versos que serviam, ora para enaltecer os amigos poderosos, ora para denegrir seus adversários. Já suas apresentações em Natal, aparentemente eram raras ou restritas a residências de particulares que gostavam da prosa sertaneja.

“A Republica”, de 19 de dezembro, em novo texto assinado por “Jacinto da Purificação”, trouxe uma extensa reportagem sobre o cantador, onde buscavam apresentá-lo a cidade; comentou como no passado Fabião havia conquistado sua liberdade, “que a fama de Fabião corria mundo”, mas ressaltou “que o seu estrelato alcançava aquele mundo que não ultrapassava as fronteiras da nossa terra”.

Em 1923, a expectativa de vida dos mais pobres no Brasil mal chegava aos 60 anos. Fabião, então, com sessenta e dois anos, era considerado com “ótima lucidez, perfeita memória e bom timbre de voz”. Afirmou-se que era “verdadeiramente um desses milagres para os quais a ciência não encontra explicação”. Informaram que “aquilo que Fabião chama de sua obra”, certamente daria um volume com mais de 300 páginas. Algumas destas obras haviam sido criadas pelo cantador 55 anos antes, em 1868. Para recitá-los ou cantá-los, junto com sua inseparável rabeca, ele utilizava apenas sua privilegiada memória.

Uma passagem interessante comentava que certa ocasião, um amigo mais chegado lhe perguntou como ele criava e guardava seus versos. Na sua simplicidade, o cantador disse que “quando eu quero tirar uma obra, me deito na rede de papo prá riba, magino, magino e quando acabo de maginar, está maginado pru resto da vida”.

Chamou atenção do autor do texto como Fabião era um sertanejo dotado de uma imensa bondade, pois lembrava saudosamente do seu antigo senhor, José Ferreira. Em uma passagem, o autor conta uma história onde Fabião rebate uma crítica feita ao seu antigo amo, por não tê-lo mandado à escola quando jovem, ao que o cantador comentou; “meu senhor foi sempre homem de muito tino e ele bem sabia que se me tivesse mandado ler e escrever, quem o vendia era eu”.

O final do texto de “Jacinto da Purificação”, deixa transparecer um certo receio de fracasso ante a apresentação do poeta, que estava “descolado do seu meio”. Colocava entretanto que, “qualquer que seja a sorte da prova que se vai suceder, Fabião para nós será sempre o velho genial”.

A festa começou às dezoito horas do dia 24 de dezembro, uma segunda-feira. Um dos paraninfos era o então governador Antonio José de Souza, que estava presente.

Desde cedo começou a afluir uma grande multidão, calculada em torno de 4.000 pessoas. Com um caráter estritamente familiar, a festa mudou o quadro da principal praça da cidade, uma área que normalmente, após as oito da noite ficava deserta. Neste dia estava “exuberantemente iluminada e cheia de vida”. O Doutor Varela Santiago, sempre acompanhado de Palmyra Wanderley e de outras organizadoras, seguiam entre as barracas, agradecendo a participação de todos.

Várias barracas estavam pela praça, todas com nomes bíblicos como ”Betesda”, “Carfanaum”, “Jericó” e, apesar do caráter religioso das festividades, o local mais freqüentado foi à barraca chamada “Poço do Jacó”, por vender bebidas geladas, principalmente cerveja.

Em locais distintos tocavam as bandas marciais da Polícia Militar e da guarnição do quartel federal, o 29º Batalhão de Caçadores.

Havia várias atividades atléticas, como um torneio de “queda de braço” e um concorrido torneio de bilhar, onde se destacaram os jovens José Wanderley e Francisco Lopes, tendo este último sido o vencedor.

Em um palco armado foram se apresentando os seresteiros, cantores e tocadores da cidade, todos amadores. Uma delas foi a “senhorinha” Edith Pegado, que chamou a atenção de todos por cantar uma cantiga “roceira” chamada “Sá Zabê do Pará”.

Mas a atração principal era “Fabião das Queimadas”. Ao subir no palco com sua inseparável rabeca, o trovador foi entusiástica e longamente aplaudido e desenvolveu uma apresentação que foi classificada pela “A Republica” como “magnífica”, composta de “repentes” e “louvoures”, que fizeram o deleite do público natalense naquela noite.

Uma coluna publicada cinco anos depois, por ocasião da morte de Fabião, mostra a repercussão que esta festa teve. Um articulista que assinava simplesmente “R.S.” escreveu que “Ainda estamos bem lembrados daquela noite em que promovendo-se nesta capital uma festa, Fabião das Queimadas improvisava chistosos versos, magníficos na sua rudeza e simplicidade”. O articulista recordava alguns destes versos, que foram dirigidos aos espectadores mais ilustres, como o governador Antonio de Souza, Henrique Castriciano, Varela Santiago, Palmyra Wanderley e Eloy de Souza. A este último, devido a sua herança negra, Fabião soltou uma quadra que terminava assim; “Se o sinhô num fosse rico, era de nossa famía”.

Nos outros dias, poucas notas são divulgadas pela imprensa sobre a quermesse, fazendo esta festa cair logo no esquecimento. Contudo, ao observarmos os detalhes existentes na elaboração e desenrolar desta iniciativa, vemos que as mulheres potiguares, sob o comando com Palmyra Wanderley, conseguiram muito mais do que a nobre causa de angariar fundos para o hospital do Dr. Varela Santiago. Com uma só ação, Palmyra e as outras mulheres, muitas certamente sem nem ao menos perceber o que estavam fazendo, atingiam em cheio aspectos negativos que permeavam a sociedade potiguar da sua época.

Quem busca conhecer com maior profundidade o pensamento da sociedade potiguar do final da década de 10 e início dos anos 20 do século passado, encontra fortes traços de preconceito contra a mulher, machismo, racismo e a pouca referência sobre as camadas populares e suas manifestações tradicionais. Evidente que não seria esta quermesse de Natal de 1923 que mudaria uma sociedade com arraigados e antigos valores, mas iniciativas como esta ajudavam a criar mudanças.

Para Fabião, ao tocar na capital, não fez nada diferente do que estava acostumado a fazer nas casas e nas feiras dos povoados do sertão, e nem poderia ser de outra forma. Fabião cantou a sua idéia de Mundo, as coisas da sua terra, da sua gente, trazendo para Natal, através dos seus versos, o que ele conhecia do sertão e assim se perpetuando na nossa memória.

Fabião das Queimadas morreu em 1928, aos sessenta e oito anos, de tétano, em uma pequena fazendola de sua propriedade, chamada “Riacho Fundo”, próximo a Serra da Arara e ao Rio Potengi, na atual cidade de Barcelona (RN).

     Rostand Medeiros Natal, RN

Fonte: www.overmundo.com.br  
Sugestão do amigo Epitácio Andrade, Médico Psiquiatra e Pesquisador Social

Extraído de http://sargentoandrade.blogspot.com.br/2014/08/em-1923-natal-conheceu-fabiao-das.html

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

PROGRAMA PAPO CULTURA- EDIÇÃO- I (Entrevista com o artista-plástico e poeta Alessandro Nóbrega)



Nesta edição do programa, trazemos aos nossos telenautas um bate papo interessante com o pintor, escultor e poeta, Alessandro Nóbrega, e o privilégio de conhecermos melhor o seu trabalho.